quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

UMA CONCUSSÃO, DOIS TRATAMENTOS

Quando no jogo de Novembro passado entre Portugal e Fiji, Julien Bardy sofreu uma colisão que o deixou atordoado, o médico da equipa nacional procedeu à sua retirada de campo para utilizar o então recente protocolo de concussão que a IRB tinha recentemente elaborado. 
E assim, Bardy saiu de campo foi substituído e sujeitou-se, no balneário, aos exames médicos protocolares necessários. Voltou ao jogo no intervalo de dez minutos a que tinha direito para, desde que medicamente autorizado, poder ocupar o seu lugar na equipa.
Veio a saber-se mais tarde que este procedimento não havia sido regular porque, de acordo com a IRB, apenas se destinava ao grupo de "equipas de elite" (Tiers One, infere-se) e não se poderia aplicar a nenhum dos outros escalões, genericamente designados por Community Rugby. 
Ora esta decisão da IRB de restringir o uso do protocolo de concussão às equipas mais fortes do ranking mundial, não faz qualquer sentido. É, até e ao nível internacional, prejudicial para os jogadores.
Vejamos: as equipas mais fortes, Nova Zelândia, África do Sul, Austrália, Inglaterra, França, Gales, Irlanda, etc., têm, entre os jogadores que entraram no campo para o jogo e aqueles que ficam no banco, uma relação de qualidade muito próxima. Quer isto dizer que se um jogador sofre uma concussão os responsáveis não têm problemas na retirada desse jogador uma vez que o substituirão por um jogador do mesmo nível. E mesmo assim a IRB criou um sistema que possibilita examinar, fora do campo, o jogador atingido, permitindo-lhe voltar ao jogo se o exame médico assim o autorizar. Partindo de um princípio errado: que só no Tiers One - "elite level" como descrevem no documento - existem médicos capazes de realizar o designado PSCA (ACFC, avaliação de concussão fora do campo em tradução livre).
No entanto é nos encontros entre as equipas mais fracas que o verdadeiro problema se produz. Porque aqui a diferença entre quem joga e quem fica no banco tende a ser maior, sendo, muitas vezes, gritantemente maior. E essa distância não protege o jogador com uma concussão porque tendencialmente as equipas técnicas pretenderão mantê-lo no terreno de jogo e não quererão a sua substituição - e fazem-no sem saber nada da sua situação física. 
Situação que se evitaria com a possibilidade da sua substituição e avaliação médica fora do campo, protegendo assim estes jogadores mais vulneráveis à pressão da "defesa da pátria". Mas a estes, a resolução da IRB não se aplica! O que não faz qualquer sentido e põe em causa a pretendida visão universal do jogo por quem tem a sua responsabilidade mundial.
Cito John Le Carré: "Uma secretária é um lugar muito perigoso para analisar o mundo". Os dirigentes do rugby mundial deviam conhecer este dito de cor e ainda vê-lo escrito nas paredes para nunca se esquecerem que a realidade é um facto.


Fonte IRB


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