sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O SUCESSO NEOZELANDÊS

A propósito das 17 vitórias consecutivas dos AllBlacks - que igualam os seus já dois anteriores recordes (1965/1969 e 2013/2014) e o da África do Sul (1997/1998) - António Henriques publicou no Diário de Notícias de ontem, um interessante texto.

E aí se pode ler que Steve Hansen, o treinador dos campeões mundiais, considera que o sucesso dos neozelandeses e a capacidade de encontrar novas soluções para os problemas que possam surgir - como na substituição dos "monstros sagrados" após o Mundial de 2015 - se deve ao facto de "Na Nova Zelândia temos gente de grande qualidade ao nível da administração e direcção e que toma quase sempre boas decisões quanto aos destinos do rugby. As cinco franquias que disputam o Super Rugby são muito bem geridas e os seus treinadores estão em consonância connosco quanto aos princípios do jogo que preconizamos. E descendo ao nível escolar, é aí o terreno propício onde começamos a produzir atletas de qualidade e que possam no futuro tornar-se profissionais.". A este propósito já Graham Henry, anterior treinador campeão do Mundo, considerava que a enorme vantagem do rugby neozelandês estava na excelente competição de sub-18 realizadas interescolas - para ter a certeza do nível que atingem e do interesse que despertam, basta procurar no YouTube.

Mas vão mais longe e, aproximando-se do sistema norte-americano da NBA onde, para manter o equilíbrio competitivo, na escolha dos jogadores, o mais fraco tem a prioridade, estabeleceram a centralização do sistema de contratação de jogadores por forma a, dividindo-os, impedir "a concentração dos melhores atletas numa só franquia, favorecendo a competitividade e o seu crescimento - controlado por administradores que trabalham todos para o mesmo fim e com uma só entidade responsável que lhes paga."

Se a este alinhamento organizativo juntarmos ainda 15 anos de trabalho de Wayne Smith a definir os factores básicos decisivos de desenvolvimento e aperfeiçoamento técnico e táctico, poderemos ter uma ideia de um trabalho colectivo com um propósito comum. Trabalho colectivo que está em permanente análise focada na passagem da eficácia à eficiência, jogando na perfeição dos pormenores seja ao nível gestual ou do entendimento do jogo e resultando daí a aparente facilidade e fluidez de cada gesto ou movimento individual e colectivo que se traduz nessa visível capacidade de descodificarem em simultâneo as dificuldades adversárias para aplicarem de forma colectivamente empenhada a solução mais eficaz.  

Ou seja, no rugby neozelandês existe uma organização nacional - a federação - subordinada a um objectivo estratégico - fazer dos AllBlacks a melhor equipa do Mundo - a que todos os agentes respondem sem intenções dúbias, interesses disfarçados ou pretensões desalinhadas. O alinhamento conseguido diz respeito à forma como treinadores e dirigentes encaram a formação enquanto processo adequado à visão do jogador do futuro, ao seu desenvolvimento, aos critérios dos diversos níveis de selecção, à construção de um sistema competitivo equilibrado e motivador num propósito colectivo partilhado.

O resultado está à vista e a extensão do exemplo do Rugby e do seu notável critério de excelência a outras modalidades não será alheio ao facto de, com uma população de cerca de 4,5 milhões de habitantes, o Desporto da Nova Zelândia se ter tornado num caso sério: 18 medalhas olímpicas nos Jogos do Rio 2016 numa distribuição de 4 de ouro, 9 de prata e 5 de bronze. Um país com um Desporto de Excelência!

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