sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

ASSENTAR OS PÉS NA TERRA

Uma semana depois do empate com os Estados Unidos que se traduziu numa importante qualificação do rugby português para o Mundial 2023 — analisaremos este aspecto proximamente — surgiu a derrota dos Lusitanos na 1/2 final do European Super Cup contra uma equipa — filha de capacidades financeiras e não de capacidades desportivas — de Israel designada por Tel Aviv Heat. Ou seja, ao embandeiramente em arco de uma semana, seguiu-se a necessidade de assentar os pés na terra. O que se passou?

Por um lado, o erro elementar de não analisar o sucesso, as suas causas e consequências — normalmente reconhece-se que as derrotas nos ensinam mas deixamos, complacentemente, que as vitórias nos cubram os defeitos e erros. Por outro o convencimento que o lastro chegaria para garantir a vitória.

Fonte; Rugby Europe

Com mais 20% dos passes realizados para 52% de posse de bola, os Lusitanos não conseguiram criar as rupturas necessárias para as decisivas ultrapassagens da linha-de-vantagem, lateralizando demasiado o jogo e mostrando-se incapaz de verticalizar as acções, num erro habitual que impede, por não controlo espacial, a utilização eficaz da arma principal da equipa: o seu três-de-trás. Outra dificuldade mostrou-se — sendo também habitual — na falta de organização colectiva para tirar partido dos lançamentos dos contra-ataque que, ficaram, na prática, dependentes das capacidades técnicas do seu iniciador. E o jogo-ao-pé também não passou do habitual: nem conquista de terreno, nem captação da bola, mas mera entrega de bola ao adversário!

Mas pior, pior foi o facto — que, aliás, tem sido uma constante — de um exagerado número de penalidades. Penalidades — para além de um cartão amarelo  — concedidas por negligência e aparente desconhecimento. E foi daqui — com 60% dos pontos adversários entregues (contra 14% dos nossos) em penalidades — que resultou a derrota: da indisciplina!  

Indisciplina esta que resulta de dois pontos: pouca preocupação dos treinadores das equipas do campeonato principal português articuada com a falta de rigôr por da parte da arbitragem nacional na aplicação das Leis do Jogo Ou seja e mais uma vez: por complacência!

E se os treinadores ligam pouco a estas questões que internacionalmente provocam dificuldades e derrotas, muito se deve à arbitragem portuguesa que não é suficientemente rigorosa a impôr o cumprimento das Leis do Jogo. E porquê? muito porque existe uma ideia bem expandida de que “se apitarem todas as faltas, os jogos estarão sempre parados…” E depois? O jogo do Rugby tem regras e todas elas devem ser cumpridas e, não o sendo, quem comete as faltas deve ser penalizado. Tão simples como claro — as regras são universais e, portanto, devem ser aplicadas da mesma maneira. E pouco importa que os jogos sejam interrompidos muitas vezes — o que importa é que os árbitros arbitrem como se arbitra nos jogos internacionais e que treinadores e jogadores se adaptem e habituem a jogar de acordo com as Leis do Jogo.

Esta derrota demonstra que ainda não estamos em condições de conseguir bons resultados internacionais. E se tivessemos acesso a estatísticas dos jogos internacionais de Portugal e do seu principal campeonato, saltariam à evidência os diversos domínios onde nos mostramos deficientes. Sem estatísticas, o diagnóstico só tem a hipótese de montado pelo olhar…

Portanto, mãos-à-obra e organizemo-nos de acordo com as necessidades da prestação rugbística internacional para evitar que comecemos a perder logo à saída do balneário. 



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