domingo, 6 de novembro de 2011

DOR DE COTOVELO

Era expectável: a dor de cotovelo inglesa - 49 milhões de habitantes, com 1900 clubes e 166 762 jogadores seniores masculinos - convive muito mal com o título mundial dos neozelandeses - pouco mais de 4 milhões de habitantes para 562 clubes e 27 374 jogadores seniores masculinos. E para esquecer amarguras e agruras e minorar despeitos trataram de colocar a vitória, defendendo a equipa francesa porque mais fácil de engolir (mais de 65 milhões, 1630 clubes com 110 270 jogadores seniores masculinos, na final como um brinde da arbitragem tendenciosa do sul-africano Craig Joubert. Considerado por todos como um dos melhores - se não o melhor - árbitros mundiais viu crescer uma campanha contra ele após a vitória final dos All-Blacks. Vídeos com montagem dos "pontos críticos", análises disto e daquilo e a sempre apetecível ataque ao proteccionismo permanente ao faltoso Richie McCaw - ataque que, por recorrente, já faz parte das lendas e narrativas rugbísticas

[como curiosidade: McCaw começou a jogar num pequeno clube, o Kurow, que, como pequeno clube que era, nem sempre conseguia quinze jogadores para os jogos e McCaw, sempre presente, fazia, sozinho, o papel de toda a terceira-linha. Provavelmente esta a razão porque está sempre nos sítios e momentos decisivos...]

Agora que se soube que Joubert irá apitar o Gales-França do próximo Seis Nações, também em França, não vá o diabo de Cardiff tecê-las, se começou a falar - naquilo que a moda gosta de designar por jogos psicológicos - do prejuízo causado pela arbitragem do sul-africano na final do Mundial.

É claro que terá havido erros. Mas é tão fácil percebê-los sentados em casa e a vê-los na repetição televisiva - falta! foi falta! - grita-se com indignação! Mas no campo a coisa é diferente e se os adeptos mais fanáticos vêem sempre e em cada movimento faltas a favor da sua equipa, o facto é que é muito difícil arbitrar com a equidade devida um jogo de rugby.

O que leva a pensar ser necessário clarificar o jogo no chão por forma a não deixar que as dúvidas ultrapassem a equidade necessária ao jogo. Para mim, na leitura que as Leis do Jogo permitem - e pela igualdade de oportunidades que exigem - julgo ser absolutamente necessário definir a sequência de procedimentos: o jogador portador da bola, logo que placado* deve, como primeira obrigação, largar a bola; após este largar de bola é que o jogador placador passa a ter obrigação de largar o placado (de outra forma, ao largá-lo antes, permitiria que o portador continuasse na posse da bola e, até, renovasse o seu movimento anterior). Colocado assim, sendo mais fácil interpretar o jogo no chão, o uso subsequente da bola - continuidade ou recuperação - ficará dependente da melhor organização e eficácia do apoio na oposição defesa/ataque como deve ser, aliás, num desporto colectivo. E como também deve ser: que sejam os jogadores - e não o árbitro - a afirmar o resultado do jogo.

Voltando à final. Os franceses só se podem queixar se si próprios... Em vez de procurar jogar, definindo posições e marcando pontos, decidiram ficar à espera da falta e entregaram-se ao critério do árbitro que não lhes terá dado voz.Mas foi sua a escolha estratégica. E poderiam ter, no mapa táctico das escolhas, escolhido outro caminho. Que, dependendo apenas de si e da relação de forças com o adversário directo, não entregaria os seus interesses a uma terceira via incontrolável. Escolhas, portanto.

* para o que basta que o portador da bola tenha qualquer parte do corpo
- excepto os pés - em contacto com o chão quando tocado por um adversário.

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores