“O falhado é um homem que errou mas não é capaz
de converter o seu erro em experiência.”
Elbert Hubbard, escritor (1856-1915)
Pode parecer anedota mas é a dura realidade dos factos: o rugby português perdeu mexendo-se, mais do que tinha ganho estando quieto. Não participando no último Mundial, Portugal subiu, à custa da Rússia, um lugar e recuperou a vigésima posição no ranking da IRB ; jogando, em casa e contra equipa pior qualificada, perdeu quatro posições e encontra-se já atrás da Espanha. Pior: saindo da casa dos sessenta pontos deixou alargar o fosso para os adversários habituais.
Mandava a lógica que Portugal vencesse o Uruguai que hoje, pelos resultados que tem vindo a conseguir, já não é a besta-negra – eu que o diga… - de outras alturas. Pelo contrário, a equipa uruguaia é fraca. As suas recentes derrotas – inesperada contra Chile e com banhos de dezenas de pontos contra a Argentina e Jaguares – mostram que o Uruguai está, com as evoluções que se vão percebendo, cada vez mais longe das equipas candidatas a lugares em próximos mundiais. Com praticamente o mesmo número de jogadores seniores que Portugal, o Uruguai só mostrou uma capacidade: a formação-ordenada que fez gato-sapato da nossa. E a razoabilidade defensiva foi-o apenas por falta de teste eficaz. Quanto ao resto…um chutador sofrível, um jogo de passes sem qualidade, um alinhamento abaixo do nível internacional. Pouco, muito pouco.
Esta selecção portuguesa não utilizou “estrangeiros” e a prata-da-casa mostrou-se no degrau da incapacidade internacional. E o pior que pode traduzir esta derrota será criar uma qualquer secreta convicção que, se presentes, o problema da incapacidade competitiva será resolvido. Porque o real significado da derrota traduz – basta assistir aos jogos - a mediocridade e o desequilíbrio do nosso nível competitivo interno que esta selecção realmente representou. Encontrando-se, como se viu, furos abaixo do internacionalmente exigível, a actual competição não se mostra capaz ou sequer suficiente para treinar jogadores para o nível internacional.
Mas o confronto alertou para mais: mostrou que neste desequilíbrio interno o combate das formações-ordenadas é uma não-existência que cria, não sendo tomadas as medidas necessárias, um obstáculo impeditivo de qualquer eficácia internacional. Já se sabe nas poucas certezas que o rugby define: sem cinco-da-frente não se ganham jogos. Mais: sem cinco-da-frente a carreira internacional não é possível (o Japão que o diga). E o jogo mostrou à evidência uma total incapacidade da formação-ordenada portuguesa. O que só é resolúvel, é bom de ver, com um nivelamento por cima da competição interna, possibilitando aos jogadores intervenientes as condições tão próximas quanto possíveis da realidade do combate internacional – é por isso, por esta necessidade, que uma grande maioria dos países mais avançados na modalidade disputam competições que ultrapassam as suas fronteiras (as excepções são a Inglaterra e a França cujo número de jogadores lhes permite tal luxo)
Apostar nos “estrangeiros” para resolver a falta de capacidade interna é uma falsa solução e não promoverá o salto qualitativo do rugby português. O seu recurso tem que ser integrado – para garantir a sustentabilidade internacional necessária – num ambiente interno competitivamente capaz e desportivamente eficaz.
A questão a resolver é simples de enunciar: se a pretensão do rugby português é a sua qualificação para o Mundial de 2015 – e julgo que será – é preciso mudar, criando as condições competitivas internas que permitam o desenvolvimento dos jogadores, criando-lhes hábitos que lhes permitam a constância da aproximação às cada vez maiores exigências técnicas, tácticas e estratégicas internacionais.
Deixando correr o marfim, continuando uma competição interna cada vez mais desqualificada, dificilmente a sorte dos deuses nos iluminará. Mude-se então. E quanto antes. Porque, mais à frente, já será tarde.
“Se é preciso mudar, a melhor altura é agora.”
Raul Bessa, presidente da EDP (1983-1988)