sábado, 6 de julho de 2013

LIONS: UMA EQUIPA

Os tradicionais Lions - British and Irish Lions - do cimo dos seus 125 anos de existência com as cores vermelha de Gales na camisola, branca da Inglaterra nos calções, azul da Escócia nas meias com canhão verde da Irlanda, deram uma outra lição da tradição: os avançados ganham os jogos e os três-quartos, explorando o sucesso, definem por quantos.

Os Lions, neste último jogo (vitória por 41-16) da série contra a Austrália, estiveram excelentes a impôr superioridade nas formações ordenadas e nos breakdowns, conquistando, quer numa quer noutra, bolas com avanço no terreno, permitindo às suas linhas atrasadas jogar muito próximo da linha-de-vantagem, explorando assim eficazmente o sucesso conseguido. O caso das formações ordenadas foi exemplar: ou bolas conquistadas a colocar a defesa australiana no pé-de-trás ou falta! Para ir buscar três pontos pelo magestático Halfpenny.

Ao mudar parte da equipa e ao apostar na armada galesa - foi por isso que Alun Wyn Jones foi capitão - Warren Gatland esteve excelente e fez uma demonstração prática de como a estratégia conta e permite ganhar jogos. A equipa, bem como a forma de jogar, constituiu-se pelo conhecimento e análise dos pontos fortes e fracos australianos. Conhecidas essas relações, a estratégia - o caminho a percorrer necessário para atingir os objectivos pretendidos - comanda as formas e os movimentos da equipa, permitindo que as tácticas apelem às técnicas individuais e colectivas para resolver o problema de forma apoiada. Um exemplo: o perigo estava na conquista de bolas pelo final do alinhamento seguido de encadeamento com as linhas atrasadas e dessa preocupação resultou a possibilidade da conquista de, pelo menos, três bolas pelo primeiro homem - um pilar - do alinhamento australiano sem que daí resultasse grave problema - os avançados Lions eram superiores no combate directo... e havia, pela obrigatoriedade de gestão do risco, quem tivesse a responsabilidade da paragem no corredor.

Foi um excelente jogo. E não porque antes da saída dos balneários os responsáves tenham dito para as suas equipas "vamos dar espectáculo" mas tão só porque o treino e a condição física dos jogadores de qualquer das equipas permitem jogar como o jogo exige. Porque é disto que o jogo de rugby trata: movimento de bola e jogadores; jogo de passes para avançar no terreno; ocupação de terreno pela eficácia do jogo-ao-pé. E foi isso que as duas equipas fizeram, possibiltando o espectáculo de acordo com as espectativas. Com superior, no caso, qualidade dos Lions: porque mais fortes, estrategicamente mas lúcidos e tacticamente mais eficazes.

Outra importante lição se pode retirar desta digressão dos Lions. Com jogadores vindos de quatro países com visões diferentes quer na formação, quer da própria interpretação do jogo e dos seus momentos, a tarefa principal do treinador e do seu corpo técnico é a de transformar o grupo numa equipa. E se o grupo também é constituído por pessoas de capacidades diferentes com objectivos comuns, uma equipa é muito mais do que isso. E se for uma equipa desportiva, deverá ser bastante mais: os objectivos comuns transformam-se em missão onde o todo terá que ser superior à soma das partes. Para o que se exije uma solidariedade permanente e uma capacidade superior de sintonia na compreensão de uma solução comum para cada momento. O que obriga a colocar o colectivo muitos pontos acima do individual, acrescentando-se, para um desporto colectivo de combate como é o rugby, a exigência de uma atitude permanente: baterem-se uns pelos outros!

A demonstração desta capacidade - espírito colectivo numa atitude de combate solidário permanente - por parte dos Lions e a forma como lá chegaram constitui uma boa possibilidade de reflexão para quem tem a responsabilidade de treinar uma equipa de um desporto colectivo de combate em que o individual tem o objectivo fundamental de servir a produção colectiva.

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