domingo, 15 de janeiro de 2017

RAZÕES DE UMA DERROTA

Como é que uma equipa como a do Grupo Desportivo de Direito com um rugby mais contemporâneo, um rugby que centra os seus conceitos no rugby de movimento, perde este jogo da Taça Ibérica (22-27) contra uma equipa, o El Salvador, que assenta o seu rugby na expressão de um jogo clássico com base num bloco de avançados forte mas pouco móvel e com preocupação permanente de ocupação territorial com recurso constante ao jogo-ao-pé e demasiado faltosa?
As diferenças de intenções percebiam-se cada vez que a bola chegava às linhas atrasadas: evasão e procura de circulação da bola do lado dos portugueses com desenvolvimento da conquista de terreno através do apoio próximo e lançado e propósito de colisão de jogo pouco imaginativo a procurar conseguir desequilíbrios através da capacidade de choque com passagem pelo solo a permitir a reorganização defensiva e a exigir o recomeço constante da mesma forma de jogar. Na aparência a vantagem pertencia ao GDD.
Então porque é que o GDD não conseguiu impor o seu jogo?
De início a falta de confiança não permitiu jogar adequadamente, correndo os riscos necessários que o seu sistema comporta e viram-se inúmeras bolas desperdiçadas por decisões de jogo ao pé sem propósito e a entregar a bola ao adversário sem lhe causar qualquer tipo de problemas nas suas recepções. Este desperdício de bolas terá permitido até que a equipa espanhola se adaptasse à dinâmica do jogo mais aberto e mais amplo dos portugueses.
Com o desaparecimento do recurso de jogo-ao-pé, a movimentação da bola com os jogadores a aparecerem em apoio e lançados, ultrapassando algumas vezes a linha de vantagem, começaram a criar problemas à equipa espanhola. E o jogo parecia ter uma inclinação...
Mas nunca se impôs totalmente. Porque o problema da falta de eficácia deste jogo de movimento e passes que aparentemente era superior às capacidades defensivas do El Salvador coloca-se noutro plano. No plano da baixa competitividade interna!
É por a divisão principal do campeonato não ter a capacidade competitiva necessária que o mais interessante e vistoso jogo do GDD não conseguiu a eficácia que lhe permitiria a vitória. 
Vejam-se estes exemplos: salvo alguns lances em que a ultrapassagem da primeira linha defensiva era conseguida por jogo de passes de proximidade o restante jogo ao largo na procura da exploração da desmultiplicação do 3+3 permitiu sempre o deslizamento da defesa adversária que, assim, impedia o êxito dos movimentos; os pilares do GDD, sendo mais baixos do que os pilares espanhóis nunca conseguiram que essa diferença jogasse a seu favor. Em qualquer dos casos porque o campeonato não tem a exigência que obrigue os três-quartos do Direito a jogar mais próximo da linha de vantagem e a atacarem com linhas de corridas mais convergentes, entrando no passe e não deixando assim que a defesa pudesse deslizar defensivamente. No caso das formações ordenadas, não existindo também o nível interno de exigência necessário - porque como se vê domingo-a-domingo a disputa das formações ordenadas deixa muito a desejar - à preparação dos confrontos de nível superior, os jogadores não tem hábitos suficientes para usar as formas de resposta adequadas às dificuldades encontradas.
Não tendo o GD Direito jogado mal e não tendo os seus jogadores - com excepção de um ou outro desperdício por falta de visão ou individualismo - cometido erros notórios, a razão objectiva da derrota está na competição interna e na sua baixa qualidade competitiva. Porque não é possível exigir aos jogadores prestações competitivas a níveis de intensidade, controlo ou exploração para as quais não têm hábitos.
Urge, para que os resultados internacionais possam ser outros e para que, para isso, deixemos de depender exclusivamente dos jogadores que jogam em França, a alteração do nível competitivo do principal campeonato português a que se deve juntar uma competição ibérica mais alargada e, portanto, mais longa. A evidência deve obrigar-nos a mudar... e se assim não fôr as oportunidades passar-nos-ão ao lado.

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