sábado, 8 de setembro de 2018

DE PROPÓSITO NÃO SE FARIA MELHOR

A selecção feminina portuguesa de Sevens, ao classificar-se em 12º e último lugar no final das duas etapas - Marcoussis e Kazan - que compuseram o Europeu de 2018 da variante, desceu à 2ª divisão europeia.

Dir-se-ia que, se fosse propositado, não se faria melhor.

Porque ninguém parece querer saber de uma competição interna capaz e em condições de permitir às jogadoras uma aproximação à exigência internacional.

A equipa portuguesa feminina de Sevens — ao contrário da masculina   lutou até à última pela classificação para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, atingindo o ultimo patamar classificativo ao disputar a Repescagem Olímpica Mundial, em Dublin depois de ter conseguido, em Lisboa, o 3º lugar na Repescagem Europeia através de 4 vitórias nos seis jogos disputados.

Ou seja, a equipa feminina portuguesa de Sevens, não sendo uma equipa de primeiro nível europeu ou mundial, mostrou-se sempre com a qualidade necessária para competir no quadro europeu principal da variante. O gráfico seguinte mostra as classificações obtidas desde 2003, ano em que o Europeu, ainda numa só prova — as etapas múltiplas tiveram início em 2011 — se iniciou.
E não se pense que as dificuldades dos resultados se deviam à pequenez ou leveza - perfil morfológico - das jogadoras nacionais. O quadro seguinte mostra a proximidade dos factores físicos com espanholas ou francesas. Não foi, portanto, por aqui.

Tão pouco pela atitude ou espírito de luta — quem se lembra do seu comportamento na etapa de Lisboa da Repescagem Europeia para o Rio 2016, percebe a que me refiro. Elas são lutadoras e determinadas.
Compacticidade:  distribuição do peso pela altura
As razões são outras e dizem respeito à incompreensão, à ignorância, à irresponsabilidade e á indiferença — os 4Is — de quem manda ou mandou.

Ignorar que a entrada dos Sevens nos Jogos Olímpicos iria transformar a variante é ignorar o domínio mundial do Desporto. Com o anúncio da sua entrada para a área olímpica, diversos países começaram a olhar de forma diferente - principalmente no feminino uma vez que o masculino já tinha assente, com a criação das World Series, a sua competição internacional para o intervalo entre Mundiais — para a variante e o seu desenvolvimento. O que significava que a competição internacional iria subir, como subiu, de nível. Com a certeza da continuidade olímpica, o aumento competitivo de cada torneio, etapa, prova, subiu ainda mais. O que exigia análise e estratégia para atingir um propósito definido e realista como a manutenção na divisão principal europeia com o objectivo, a médio prazo, de conseguir entrada para o circuito mundial.

E que fizemos nós em Portugal para seguir a tendência? Nada para além de aumentarmos erros que retiraram qualquer possibilidade de aproximação à competição internacional por parte das jogadores portuguesas.

É, portanto, esta a razão principal da descida: as jogadoras portuguesas não têm competição interna com o nível necessário à participação internacional. Ou seja, os responsáveis federativos não quiseram saber do cumprimento da sua principal Missão federativa que assenta na promoção das condições internas necessárias ao equilíbrio competitivo internacional d/o/a/s jogador/es/as portugues/e/a/s.

Mas ninguém se preocupou com nada disso. Pelo contrário, aos 5 torneios anuais mais a Super Taça de Sevens juntaram 6 torneios de Tens a que se acrescenta um jogo da Taça de Portugal. Não há aproximação competitiva que resista a um calendário de 5 etapas... para mais se tão desequilibrado que em cada etapa apenas um jogo — no descanso de todos os outros — atingia o nível competitivo com a intensidade necessária num mesmo cenário: uma final Sporting-Benfica.

Por indiferença e ignorância acrescentaram aos Sevens essa aberração que dá pelo nome de Tens e que não passa de um entretém sem qualquer interesse - conheci-o há muitos anos em Hong-Kong jogado por trintões que gostavam de Sevens e que já não podiam, chamando mais três para tapar as lacunas.

A entrada do Tens — que não se percebe a lógica porque o Rugby joga-se Quinze ou Sevens - teve como justificação que seria o bom percurso para atingir o patamar do jogo a quinze. O problema é que não é!

O Tens não serve nem para desenvolver os Sevens nem para proporcionar condições de acesso ao Quinze! Por um lado —Sevens — porque diminui o espaço, reduzindo a área por jogador e diminuindo o intervalo — facilitando a tarefa defensiva — entre os jogadores da linha _ e diminuindo o esforço de cada sequência; por outro — Quinze — porque nada ensina dessa essência do jogo completo que dá pelo nome de 3ª linha — a unidade decisiva da movimentação geral do jogo. E que o Tens não tem nem a Lei deixa ter — as Variações das Leis impõem que a/o/s d/ua/oi/s jogador/as/es da segunda-linha formem nos pilares mas ligados entre si (se ainda pudessem jogar formados na perna exterior de cada pilar... haveria alguns princípios de asas/flanqueadores que podiam ser aprendidos como linhas de corrida atacantes e defensivas, tempo de apoio exterior e interior ou des/co/locação nos corredores externos para apoiar segundos/terceiros tempos. E o Tens não abre lugar a perfis morfológicos diferentes do Sevens e que serão necessários no Quinze. Dito de outra forma: as gordas necessárias e fundamentais à primeira-linha do Quinze também não têm aqui lugar...

Mas de pior, há mais no Tens: possibilitando intervalos maiores do que os que irão ser encontrados no Quinze, permite uma maior facilidade de evasão individual e é menos exigente na formação e na distância do apoio. Ou seja: o Tens não serve! Não serve senão para o espanto de, na passagem para o jogo completo, existirem 3 jogador/as/es que não sabem que tarefa lhes cabe ou outras 3 jogador/as/es que dificilmente adquirem a experiência necessária às formações-ordenadas — o que, para além de mau, é perigoso!

O desenvolvimento do rugby feminino português passa pela criação de etapas de Sevens mais equilibradas e com mais competição — melhores treinos para melhores conhecimentos técnico-tácticos exigem-se — e que possibilitem resultados internacionais atractivos.  

Também por outro lado é preciso colocar o rugby feminino a jogar Quinze, jogando Quinze. Clubes que não consigam juntar as jogadoras necessárias para completar uma equipa de Quinze, jogarão Sevens; os que conseguirem jogarão entre si independentemente do número total de equipas que o consigam.

No actual estado, baixado que foi de divisão, o que se pode fazer para recuperar? Que propósitos definir? Que estratégia estabelecer para voltar à I Divisão Europeia do Rugby Feminino?

No fundo, no fundo, trata-se de responder a isto: como estabelecer condições internas de competição que permitam o desenvolvimento competitivo das jogadoras com o objectivo de igualar internacionalmente competências?

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