segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

O SABER DE NIGEL OWEN

Comecei rugbisticamente o ano de 2021 a ver três equipas galesas: os Scarlets que venceram os Dragons por 20-3 com arbitragem de um quarteto chefiado por Nigel Owens. Um luxo! E se a lição Owen foi notável como sempre, tive ainda a possibilidade de ver um jogador jovem de 19 anos que irei ver muito mais vezes com a camisola de Gales: Sam Costelow, abertura que joga também a 1º centro ou a formação como o demonstrou na Argentina no Mundial sub-20 de 2019.
Para além das capacidades técnico-interpretativas da aplicação das Leis do Jogo por parte de Nigel Owen, foi ainda possível ver a facilidade com que o melhor árbitro do mundo resolve os problemas dentro do campo. Desta vez, com ele próprio — ao pretender suspender um jogador por 10 minutos e com a mo no bolso dos calções os espectadores televisivos ouviram um sonoro “esqueci-me dos cartões” e a mão a fazer o gesto, indicando a saída ao prevaricador para só depois de ter recebido de um auxiliar os cartões “suplentes” mostrar o “amarelo” ao mundo televisivo.


Final Exeter Chiefs-Racing 92 da Heineken Champions Cup

Este momento de calmo domínio da situação, fez-me lembrar o final do jogo, também arbitrado por Nigel Owens, da final da Heineken Champions Cup 2020 — ganho pelos Exeter Chiefs contra o Racing 92 por 31-28 — e os seus dramáticos dez minutos finais onde o árbitro galês teve que tomar decisões difíceis em situações complexas. E foi exemplar quer na análise, quer nas decisões. Como nos demonstra o saber das suas explicações.

“O jogador do Racing 92 que tentava chegar à linha, não o conseguiu. A bola não tocou na linha-de-ensaio e ele acabou por ficar de costas no chão. Eu disse “tirem as mãos” para os jogadores que estavam no chão. Estava a dizer-lhes para não jogarem a bola ilegalmente. Como a bola não estava sobre ou dentro da linha-de-ensaio, todos os jogadores que estavam no chão não podiam tocar-lhe.

Se houvesse um ruck formado, então Sam Hidalgo-Clyne (veja-se a imagem) não poderia usar as mãos para conquistar a bola. Mas como não havia nenhum ruck formado, as suas ações foram legais. Ele estava de pé e tinha o direito de jogar aquela bola. Ele estava “em jogo” porque estava atrás da linha-de- ensaio com um pé na linha-de-ensaio e assim tinha todo o direito de jogar aquela bola, coisa que fez”.

O jogador do Racing foi penalizado por manter a bola presa. Apesar de não ser um ruck, ele não tinha o direito de segurar a bola. Uma vez no chão, fica-se fora do jogo. Quando um primeiro apoiante (jackal) consegue ser bem sucedido numa situação desta, nunca se forma um ruck. Ocorreu uma placagem e o jogador em pé estava a pretender jogar a bola e o jogador no chão não a soltou. Não se pode estar no chão e segurar a bola. Tem que ser libertada.”

Logo de seguida e naquele que foi o último acto do jogo, Owens teve que tomar uma decisão sobre se o tempo de jogo havia ou não acabado quando o chutador do Exeter realizou o pontapé os postes. Eis a sua explicação da aplicação das Leis do jogo.

“Quando a base para chutar chegou para o chutador do Exeter marcar a penalidade, eu avisei “tempo a contar”. Por quaisquer motivos técnicos eles não conseguiram reiniciar o relógio imediatamente. Então, quando o jogador chutou a bola, o relógio do estádio marcava 79,57 minutos.

“Se o tempo fosse correto, o Racing teria tempo para reiniciar o jogo porque o tempo, para o jogo acabar, tem que estar no vermelho antes do jogador chutar a bola. Tive que parar para esclarecer a situação (com o TMO) e saber se o relógio do estádio estava certo.

“Acontece que quando a penalidade foi executada pelo Exeter, passavam cerca de 15 segundos dos 80 minutos. O relógio do estádio estava atrasado. Por isso o tempo acabou. Ao fim e ao cabo, a decisão foi a correcta. E isso é o mais importante.”

Tudo explicado, tudo claro e a certeza da boa aplicação das Leis que regem o Rugby.

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