Participei com o Jorge Mendes Silva, o Nuno Miranda Coelho e o Ferdinando de Sousa, Director Técnico da Arbitragem, num grupo de trabalho com a missão de traduzir e adaptar as Leis do Jogo de Rugby que tinham sofrido, quer na sua estrutura organizativa quer em alguns conceitos, profundas alterações no ano de 2018 e que não tinham tido a adequada publicação em português. Para este trabalho pudemos ainda contar com a colaboração do apoio crítico do jornalista António Henriques, dos treinadores Luis Pissara e meu irmão Luis Bessa e do árbitro e filho do Jorge Mendes Silva, Pedro Mendes Silva, grupo em que reconhecíamos, para além da competência técnica, a relação próxima necessária para este tipo de trabalho nas condições em que se desenvolveu.
Agora as Leis do Jogo 2021 estão colocadas no site oficial da FPR com a possibilidade de descarregar todo o conteúdo ou apenas de as consultar (procure no separador “Federação” na secção “Documentos” ou aqui). Consulta que agora se torna mais fácil uma vez que o documento tem os necessários hiperlinks para que não se tenha de percorrer todas as páginas para encontrar o pretendido.
Não foi fácil o trabalho. Primeiro porque as Leis do Jogo estão intrínsecamente ligadas a uma cultura com uma linguagem própria e não foi muito fácil encontrar as palavras portuguesas que traduzissem uma leitura compreensível dos conceitos numa língua de um país que, para além de uma elevada iliteracia desportiva, não tem — segundo ponto — uma cultura específica da modalidade suficientemente desenvolvida e ampla para ter um vocabulário adaptado que evite o recurso à mera tradução directa ou a palavras estrangeiras — situação que tentámos evitar, partindo do princípio que é o domínio da linguagem que permite a compreensão do jogo e o seu desenvolvimento. E assim apenas mantivemos as palavras ruck e maul uma vez que as suas traduções seriam demasiados compridas — formação-expontânea-baixa e formação-expontânea-alta, respectivamente — e pouco adaptadas às necessidades de aviso durante o jogo.
Aproveitando a pandemia fomos fazendo reuniões por vídeo-conferência e o maior problema que acabamos por ter neste longo período de tradução — foram meses — acabou por ser a descoberta de diversas incoerências, contradições ou inexatidões que o documento original da World Rugby mostra — muito de acordo com a cultura inglesa onde aquilo que conta é o costume e não a letra. Tendo até ficado em nós a ideia de que não há grande preocupação na expressão simples das situações porque “toda a gente sabe a que é que se refere”. O que nos levou, bastas vezes, a entrar emcontacto com árbitros estrangeiros de reconhecido nível internacional para descobrirmos a melhor interpretação e adaptação linguística Com todo o trabalho que tivemos na descodificação, realizámos uma série de notas e propostas que serão enviadas à World Rugby com pedido que sejam consideradas no sentido de tornar — à semelhança de outras modalidades — as Leis do Jogo um conjunto universalmente compreensível e de fácil aplicação. Aliás, uma conclusão que retivemos foi que, por alguma falta de clareza, são os árbitros os maiores prejudicados ma melhor interpretação e controlo da aplicação das Leis — sendo, obviamente, o jogo o mais prejudicado. Esperamos que com este trabalho venhámos a ter uma participação efectiva na melhoria e simplicação do nosso jogo — fazendo corresponder o dentro do campo à letra da lei e não apenas a um espírito dominado por um pequeno conjunto de iniciados.
Foi um excelente trabalho de grupo alicerçado numa equipa que foi desenvolvendo os laços de amizade que já nos uniam. Foi duro mas agradável e, espero, esperámos, proveitoso. Tão proveitoso que possa ajudar, com as propostas sustentadas que enviaremos à World Rugby, a simplificar o conjunto de leis e, assim, a tornar o jogo mais facilmente compreensível.
Simpaticamente a Direcção da Federação Portuguesa de Rugby fez-nos a distinção de publicamente nos agradecer o trabalho e a sua qualidade. Simpatia que naturalmente — tenho a certeza que posso falar pelos quatro — agradecemos a deferência e o reconhecimento: muito obrigado!
[como nota pessoal e à margem do texto e mesmo percebendo a demonstração de respeitosa amizade que a referência ao meu título profissional na “Mensagem de Agradecimento” representa, não era, pela inserção colectiva que tivemos no trabalho feito, necessária]