segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

DO DESEQUILÍBRIO NÃO NOS LIVRAMOS

Terminada — embora com dois jogos em falta — a primeira volta da Divisão de Honra do Campeonato Nacional pode verificar-se neste quadro da Capacidade Competitiva que não houve — em relação ao 1º quarto de campeonato que foi publicado aqui — grandes alterações e que se mantém o desequilíbrio que então já se verificava mesmo com o existente aumento de 5 para 7 equipas que aumentaram a sua média de capacidade competitiva para valores superiores a 50%.
No entanto os quatro grupos então determinados, mesmo se com uma ou outra alteração de equipas, mantêm-se: um primeiro grupo com os mesmos 3 primeiros classificados em ordem diferente com o Cascais, Direito e Belenenses que lutam pela classificação nos dois primeiros lugares de apuramento para as meias-finais e que variam a sua capacidade entre 83% e 73%; um segundo que comporta CDUL, Agronomia, Benfica e Técnico e que varia entre 60% e 53%, representando uma ligeira aproximação ao grupo da frente mas que, essencialmente, definem o espaço de luta pelos lugares da final-four; um terceiro grupo, com índices de competitividade entre 39% e 31%, comportando a Académica, o S.Miguel (agora muito reforçado em termos de jogadores e de treinador) e o CDUP e que lutam pelos dois lugares que permitem a manutenção; e, finalmente, o grupo dos mais fracos constituído pelo Évora e Montemor com índices de competitividade entre 19% e 13% e que não têm mostrado a suficiente capacidade competitiva para garantirem a permanência. 

De certa maneira o que se percebe é que só existe competitividade no interior de cada um dos grupos — e como não jogam sempre uns com os outros... mantém-se o interesse com as mesmas perguntas: quais dos três actuais primeiros — lembrando que o Belenenses com um jogo a menos pode ultrapassar Direito — se apurará directamente para as meias finais? quem, do segundo grupo, irá disputar o final-four? E quem do terceiro grupo se juntará aos dois últimos na descida?
Embora faltando as 11 jornadas finais, as tendências estão aí... e não são brilhantes.
Comparando os gráficos de "Ensaios Marcados e Sofridos" com o dos resultados finais dos jogos de cada equipa que mostra que as últimas quatro equipas têm bastantes mais derrotas que vitórias, verificamos que existe uma muito próxima relação com os quatro grupos anteriormente definidos.
O desequilíbrio pode ainda verificar-se no gráfico seguinte onde, dos 64 jogos realizados, 56% tiveram uma diferença de resultado igual ou superior a 16 pontos de jogo — o que significa na classificação do ranking da World Rugby uma majoração sobre os pontos correspondentes à vitória. E 13 jogos, 20%, tiveram uma diferença de pontos igual ou superior a 28 pontos. O que significa desequilíbrio como se pode comprovar na relação — superior ao dobro — entre os pontos de bónus ofensivos e os defensivos. E apesar desta falta de equilíbrio os 64 jogos realizados já tiveram 107 cartões amarelos! O que significa que a disciplina é uma inexistência — o que significa, como já se viu em jogos anteriores, mais um obstáculo para os nossos jogadores. E isto tudo se aprende jogando, não em palestras ou exorcismo... 

 Esse desequilíbrio é perfeitamente demonstrado pelo algoritmo Noll-Scully que define o equilíbrio competitivo no valor 1. O nosso campeonato da Divisão de Honra tem o seu índice competitivo no valor 1,62. O que é demonstrativo da pouca competitividade existente. O TOP 14 francês tem um índice de equilíbrio competitivo de 1,05!
E uma vez que dentro de um mês teremos o início da fase final da competição que apurará para o Mundial de França 2013 e com as dificuldades que a pandemia do COVID tem trazido, será muito difícil que os jogadores atinjam, nestas 3 semanas, o nível de intensidade competitiva necessário para ultrapassar os obstáculos que os jogos internacionais irão colocar. 
Como se sabe, por experiência ou por ouvir dizer, a competição internacional tem exigências muito superiores — na intensidade, na velocidade e rapidez de acções e decisões, na capacidade de leitura, no rigor e determinação — às competições nacionais. Daí que seja necessário que a principal competição interna tenha um grau de competitividade elevado. Que esta, como se viu, não tem.
Porque se obrigasse os jogadores a um maior rigor atlético, técnico, táctico e até estratégico, levando os jogadores a habituarem-se a ler, a reagir, a adequar os seus gestos a uma intensidade superior num menor tempo disponível, permitiria a aproximação aos níveis que irão defrontar. Facilitando-lhes a vida e diminuindo os riscos de cada passe, cada placagem, cada pontapé. Não havendo essa competitividade interna elevada, teria sido importante, para permitir uma maior aproximação aos adversários, nomeadamente à Roménia — o jogo decisivo —, a realização de um jogo internacional de preparação antes da partida para a Geórgia...
E a esta situação, o azar juntou-nos outra: o nosso grupo da Rugby Europe Super Cup não tinha qualquer equilíbrio competitivo — o seu índice de equilíbrio competitivo é um desfasado 4,2 enquanto que o grupo da Conferência Este, onde jogam georgianos e russos, tem, não tendo ainda terminado, 1,9 como índice de equilíbrio competitivo (lembre-se que 1 é o valor do equilíbrio competitivo e que quanto maior fôr o valor obtido, pior é o equilíbrio da competição). E como os jogos mais equilibrados das meias-finais só se realizarão depois da disputa da fase final do Rugby Europe Championship, as vantagens que antevíamos na participação dos Lusitanos na criação de experiência e hábitos do nível competitivo internacional, esfumaram-se. Porque o partido que se pretendia tirar desta participação só terá efeito posteriormente. Ou seja: ao erro da ampliação da Divisão de Honra que desde logo se sabia criar uma competição desequilibrada não foi possível um pensado reequilíbrio com os Lusitanos. Azares...  
... que irão exigir um esforço e focagem muito grandes de todos os participantes nos treinos da Selecção Nacional. Porque uma certeza é óbvia: jogos fáceis não preparam jogos difíceis. 




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