A qualificação da equipa masculina de Portugal Sevens para o Mundial da variante que se realiza na África do Sul nos próximos dias 9 a 11 de Setembro, foi um excelente resultado desportivo para o rugby português e uma demonstração de que existem evidentes potencialidades para recusar a continuação do erro estratégico de há anos e que levou Portugal a sair do Rugby World Sevens Series — por mera incúria e numa altura que se abriam as portas dos Jogos Olímpicos à variante — e empreender a organização competitiva necessária ao objetivo de retorno às World Sevens Series com vista a proporcionar a experiência e articulação clubes/selecções que a exigente entrada nos Jogos Olímpicos impõe.
Se esta qualificação mundialista aparenta facilidades, a sustentabilidade da posição exige muito trabalho e organização — veja-se que o apuramento para o próximo World Sevens Series e que terá lugar no Chile nos próximos dias 12 a 14 de Agosto, será disputado por 12 equipas divididas por três grupos e que qualificará apenas uma equipa de cada categoria (masculina e feminina) e não terá a presença de Portugal. O que significará que Portugal não será, na próxima época, equipa permanente da Series e só puderá estar presente, numa das provas, por convite expresso. O que não é suficiente para considerar um acesso ao grupo dos melhores.
A este enquadramento que devia ser considerado como ponto de partida de uma política competitiva para os Sevens portugueses, definindo os princípios estratégicos que tenham como objectivo o futuro acesso às World Series com vista a criar as condições necessárias à entrada nos Jogos Olímpícos, preferiu-se a ilusão da propaganda. Num faz-de-conta de que o resultado é consequência de um trabalho estruturado e sustentado, propagandeando-se quase de bandeiras desfraldadas que a qualificação conseguida representaria um facto histórico num deitar fora, escamoteando, o passado — é a sexta vez (1997, 2001, 2005, 2009, 2013 e agora 2022) que Portugal disputa o Mundial de Sevens — ou que mais não representa do que, recorrendo ao histórico, o reconhecimento de que a qualificação foi conseguida com uma equipa muito jovem e à qual não terão sido dadas as condições necessárias — na preparação e na garantia dos jogadores disponíveis — para a altura da tarefa. E só neste mea culpa o histórico é admissível…
Mas como não fosse suficiente o dar uma exagerada/íssima dimensão ao apuramento, ainda se criticou Presidente da República e Primeiro-Ministro por não terem descido à terra dos parabéns pela classificação. Mas, naturalmente, não houve, como não tinha de haver, qualquer manifestação de congratulação — a equipa portuguesa conseguiu apenas uma qualificação que não lhe garante ainda qualquer posição de relevo, permitindo apenas a sua eventualidade. Portanto… calma nas hostes. E lembre-se o que se passou com a recente presença da equipa portuguesa de Atletismo, constituída por 26 elementos — 7 masculinos e 19 femininos — nos Mundiais de Eugene (USA). Presidente da República e Primeiro-Ministro congratularam apenas — e bem! — o Medalha de Ouro, Pedro Pichardo. E a razão parece-me simples: elevou o nome e a bandeira de Portugal e fez ouvir o hino português num palco do mundo. Aos restantes elementos, como aos jogadores portugueses da selecção de Sevens, reconhecemos, implícita e naturalmente, a prestação desportiva e a dignidade do seu esforço.
Veremos agora, pela qualidade da preparação dispensada, pela hierarquização objectiva das categorias com a consequente disponibilidade de jogadores — haverá um jogo dos Lusitanos a 11 de Setembro nos Países Baixos — com que o Treinador Nacional, Frederico de Sousa, poderá contar para escolher as presenças no Mundial de 9 a 11 de Setembro em Cape Town, África do Sul. Veremos, portanto, se a visão propagandística é substituída pela objectividade da marcação de um campo de desenvolvimento sustentado da variante e que permita aos jogadores portugueses a preparação necessária para se juntarem, de uma forma constante, aos melhores. Só assim a presença no Mundial valerá a pena!
CURIOSIDADES: Os árbitros que arbitraram recentes jogos de Portugal — Ollie Davidson no Portugal-Itália e Adam Leal no Geórgia-Portugal — foram os árbitros das recentes finais feminina e masculina dos Sevens dos Commonwealth Games 2022.