sexta-feira, 18 de outubro de 2024

COM ZERO NA BAGAGEM

 A derrota dos Lusitanos no Avchala Stadium em Tbilisi contra a franquia georgiana dos Black Lion é uma clara demonstração dos erros que formatam a competição interna do rugby português. Senão, vejamos.

Se o jogo fosse disputado pelas selecções nacionais dos dois países com a Geórgia no 12º lugar e Portugal no 15º lugar do ranking da World Rugby, a vitória normal pertenceria à Geórgia por uma diferença de 13 pontos. Se assim é porque que é que neste jogo entre as respectivas franquias, a diferença se estabeleceu em 36 pontos? E com a bagagem dos Lusitanos vazia de pontos!

Como explicar este péssimo resultado?

Há muito que o rugby português deveria ter percebido que existe uma relação directa entre a competição interna e a capacidade internacional e que a nossa competição interna não tem qualidade competitiva suficiente — como o demonstram a análise conjugada da  Noll-Scully e do Princípio de Pareto — para aproximar os hábitos dos jogadores portugueses das exigências do jogo internacional. De facto a competição nacional do nível interno mais elevado não é competitiva — tem nitidamente duas divisões numa mesma como se pode verificar na análise do Princípio de Pareto de que resulta o facto de que 50% das equipas detêm 73% dos pontos marcados e 72% das vitórias. E como o valor do Índice de Competitividade de Noll-Scully é um enorme 2,41 de desequilíbrio — o pior resultado dos campeonatos europeus dos nossos adversários — as virtudes da competição são baixas no seu equilíbrio, na sua decisão, na intensidade, nas exigências técnicas, tácticas, estratégicas. Ou seja, na expressão do jogo.


E assim sendo, não é possível criar as condições para o progresso dos jogadores. E o resultado vê-se: erros tácticos de que resulta nula exploração das situações de possível vantagem, ignorância da importância da Linha-de-Vantagem, apoio perceptível pela defesa, jogo-ao-pé denunciado e incapaz da devida exploração. E isto sem falar naquilo que o treino individual nos clubes deveria resolver: formações-ordenadas e alinhamentos que se têm mostrado muito pouco eficazes com causas que vão desde o facto de trabalho pouco objectivo com situações, como nos alinhamentos, em que os jogadores parecem desconhecer-se uns dos outros. E depois há uma incapacidade brutal e indisculpável de jogar de acordo com as Leis do Jogo, demonstrando pouca preocupação em treinos e jogos — de que resulta quer perdas de terreno, quer pontos adversários. Tudo de borla… E aqui também não existe um reconhecimento da importância dos árbitros para o desenvolvimento do jogo e dos jogadores.

E a solução com que se pretende resolver o problema não é brilhante, sendo mesmo perigosa: porque assenta na disponibilidade dos jogadores portugueses que jogam no estrangeiro. Principalmente aqueles que jogam em França. E é perigosa porquê? Porque depende de decisões que não controlámos. Explico-me: se os jogadores que alinham no TOP 14 são os menos problemáticos — são 2 os internacionais portugueses que aí alinham — uma vez que, no calendário internacional, os jogos internacionais do 6 Nações fazem parar o campeonato francês e, portanto, libertam os portugueses, já no PROD2 não é assim e ficaremos dependentes da vontade dos dirigentes dos clubes franceses. O que pode resultar bem ou mal… não falando já nos problemas de comunicação — alguns dos portugueses que jogam em França não falam português e os portugueses já não falam — ao contrário do meu tempo — francês. E esta situação — antes de se descobrir que Hasse fala as duas línguas — até já provocou derrotas à equipa…

E para que o rugby português cresça, se desenvolva e garanta mais jogadores, mais público e mais patrocinadores é necessário que a Selecção Nacional seja uma absoluta atracção. E isso exige que haja lugares para os jogadores que actuam por cá — e para essa atracção não chegam os Lusitanos, menos ainda se continuarem com resultados negativos. Ou se não servirem, como parece acontecer, para ganho de experiência competitiva e, portanto, para o fim que foram criados.

A solução é óbvia e está de acordo com a nossa dimensão: reduzir o número de equipas no campeonato principal— já fiz a proposta de duas divisões de 6 equipas cada e a 3 voltas — 15 jogos contra os 18 actuais — com ou sem  playoffs. Criando assim duas divisões equilibradas e competitivas que exigiriam uma superior organização colectiva e individual de cada equipa e possibilitando a melhoria contínua dos jogadores. No entanto e sendo este processo uma evidência para a melhoria do nosso Desporto com as vantagens da atracção envolvente que criaria, ninguém terá ligado algum à proposta…enfim…

É que não vale acreditar na ida ao Mundial se é pouco o que se faz para isso — e os adversários directos estão
cada vez mais organizados e a prepararem-se melhor. Esperemos que haja ainda tempo para a mudança…
… e que o jogo deste fim-de-semana contra os ditos Iberians nos mostre alguma melhoria. A ver vamos.




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