Para uma Federação desportiva o objectivo do seu principal campeonato deverá ser o de proporcionar aos seus jogadores de maior qualidade uma aproximação técnica, táctica, estratégica ao nível internacional que frequentarão nas competições internacionais em que participarão. Isto quer dizer que a intensidade, a velocidade dos jogos, acções de disputa — formações ordenadas e expontâneas, alinhamentos, placagens — devem ser tão próximos quanto possível dos que caracterizam os jogos internacionais do nível da competição a disputar.
O Grupo Campeão da Divisão de Honra ao definir-se com um Índice de Competitividade (1,89) quase duas vezes superior ao valor do Equilíbrio Competitivo (valor ideal=1,00) mostra-se um grupo sem interesse competitivo no qual a maior parte dos jogos tem vencedor previsivelmente antecipado. E a demonstração dessa má qualidade pode ver-se no facto de os valoresque o Grupo Manutenção apresenta serem competitivamente superiores com o Índice de Competitividade (1,74) mais próximo do valor de Equilíbrio Competitivo e com 20% dos jogos com Bónus Defensivos.
Compare-se estes valores do Grupo Título com os nossos adversários directos, Geórgia e Espanha e veja-se a que distância estamos dos seus valores o que significa que os jogadores nossos adversários de apresentam mais habituados a prestações de nível próximo das exigências internacionais. O que, naturalmente se traduzirá nos resultados dos jogos entre ambos.
Mas existe ainda um outro problema com os valores que o nosso campeonato principal apresenta: a diferença para os valores do PROD2 (1,30 de IC e 32% de jogos com bónus Defensivo) onde jogam a maior parte dos nossos internacionais.
Ou seja: os jogadores portugueses que jogam o campeonato português vão jogar ao lado de jogadores habituados a outros ritmos e intensidades. O que significa o aparecimento de desequilíbrios contantes nos movimentos adaptativos da equipa.
Tendo Portugal sido apurado — graças às novas decisões da World Rugby, diga-se em abono da realidade — para o Mundial da Austrália de 2027, a Selecção Nacional não pode preparar-se apenas entre si. É preciso que os jogadores que jogam em Portugal aproximem as suas capacidades daqueles que jogam em França. E isso só se consegue com a realização de um campeonato muito mais competitivo que o anterior e onde em cada jogo os participantes sintam a possibilidade de o vencer. Porque, de outra maneira dependeremos dos favores dos deuses — e não vale a pena usar a máscara de uns pretendidos resultados que demonstraram isto, aquilo e aqueloutro e que, viu-se agora no jogo contra a Irlanda, tiveram o seu quê de circunstanciais. E não vale a pena enganarmo-nos: ou modificámos o que está errado e nos adaptámos às necessidades que os vinte primeiros lugares do ranking da World Rugby exige, ou veremos adversários que nos habituámos a considerar como mais fracos, a ultrapassarem-nos.



