quinta-feira, 19 de junho de 2025

EQUILÍBRIO COMPETITIVO

Para uma Federação desportiva o objectivo do seu principal campeonato deverá ser o de proporcionar aos seus jogadores de maior qualidade uma aproximação técnica, táctica, estratégica ao nível internacional que frequentarão nas competições internacionais em que participarão. Isto quer dizer que a intensidade, a velocidade dos jogos, acções de disputa — formações ordenadas e expontâneas, alinhamentos, placagens — devem ser tão próximos quanto possível dos que caracterizam os jogos internacionais do nível da competição a disputar.

O Grupo Campeão da Divisão de Honra ao definir-se com um Índice de Competitividade (1,89) quase duas vezes superior ao valor do Equilíbrio Competitivo (valor ideal=1,00) mostra-se um grupo sem interesse competitivo no qual a maior parte dos jogos tem vencedor previsivelmente antecipado. E a demonstração dessa má qualidade pode ver-se no facto de os valoresque o Grupo Manutenção apresenta serem competitivamente  superiores com o Índice de Competitividade (1,74) mais próximo do valor de Equilíbrio Competitivo e com 20% dos jogos com Bónus Defensivos.

Compare-se estes valores do Grupo Título com os nossos adversários directos, Geórgia e Espanha e veja-se a que distância estamos  dos seus valores  o que significa que os jogadores nossos adversários de apresentam mais habituados a prestações de nível próximo das exigências internacionais. O que, naturalmente se traduzirá nos resultados dos jogos entre ambos.

Mas existe ainda um outro problema com os valores que o nosso campeonato principal apresenta: a diferença para os valores do PROD2 (1,30 de IC e 32% de jogos com bónus Defensivo) onde jogam a maior parte dos nossos internacionais.

Ou seja: os jogadores portugueses que jogam o campeonato português vão jogar ao lado de jogadores habituados a outros ritmos e intensidades. O que significa o aparecimento de desequilíbrios contantes nos movimentos adaptativos da equipa.

Tendo Portugal sido apurado —  graças às novas decisões da World Rugby, diga-se em abono da realidade — para o Mundial da Austrália de 2027, a Selecção Nacional não pode preparar-se apenas entre si. É preciso que os jogadores que jogam em Portugal aproximem as suas capacidades daqueles que jogam em França. E isso só se consegue com a realização de um campeonato muito mais competitivo que o anterior e onde em cada jogo os participantes sintam a possibilidade de o vencer. Porque, de outra maneira dependeremos dos favores dos deuses — e não vale a pena usar a máscara de uns pretendidos resultados que demonstraram isto, aquilo e aqueloutro e que, viu-se agora no jogo contra a Irlanda, tiveram o seu quê de circunstanciais. E não vale a pena enganarmo-nos: ou modificámos o que está errado e nos adaptámos às necessidades que os vinte primeiros lugares do ranking da World Rugby exige, ou veremos adversários que nos habituámos a considerar como mais fracos, a ultrapassarem-nos.




terça-feira, 17 de junho de 2025

COM AMIZADE NA MEMÓRIA DE SEMPRE!


A pedido expresso da Beatriz, filha do nosso Carlos Moita, para esta ocasião da sua cerimónia fúnebre, vou repetir, com as adequações devidas à circunstância, a leitura do texto que então li na Homenagem que o CDUL lhe prestou em Novembro passado.


Falar sobre o Moita — era assim que lhe chamávamos — lembrando, nesta cerimónia fúnebre, a sua contribuição para o prestígio do nosso CDUL se é um momento que muito me honra é também, pela relação que tive com ele, um momento de grande emoção. E não posso deixar-me levar por ela porque não quero que sejam as minhas lágrimas que marquem esta despedida a um Amigo, a um grande companheiro de equipa com quem partilhei grandes momentos de conquista para o nosso Rugby do CDUL. 

O Moita foi sempre um exemplo de carácter e simpatia — o meu filho Raul, que, miúdo, assistia a jogos e treinos dizia-me há dias: “Lembro-me muito bem do Moita — o pai a chutar a bola para cima dele para ele correr e fintá-lo. Foi sempre muito simpático comigo.


Conheci o Moita no Rugby do CDUL. O Estádio Universitário era a nossa casa. E tivemos sempre uma óptima relação desde logo porque tínhamos uma base desportiva e de valores comum: embora ele tenha entrado no meu ano de saída, éramos ambos antigos-alunos do Colégio Militar. O companheirismo que nos marcava teve assim um início facilitado. 


Internacional 18 vezes e com a particularidade de na sua 1ª internacionalização em 1974, estarmos os dois em campo com a mesma camisola para, em 1985 e na sua última internacionalização, estarmos também ambos empenhados e eu ser o seleccionador/treinador nacional da altura num círculo comum de relações e cumplicidades com muitos anos de jogos lado-a-lado a defender a camisola azul e a procurar os melhores resultados. E como nos entendíamos bem. Cúmplices mesmo!


Moita era um atleta de grande categoria - fisica, táctica e tecnicamente — e um marcador de ensaios terrível e acima do comum — bola entregue e o ensaio estava mais do que à vista. O que muito contribuiu para as nossas vitórias em jogos e campeonatos. 


Mas, como todos os campeões, foi sempre um exemplo de grande humildade e nunca se vangloriou da sua categoria de super-herói. Teve sempre um enorme respeito pelo colectivo — a equipa estava sempre em primeiro lugar — sabendo muito bem que, por melhor que se seja individualmente, estamos sempre dependentes do rendimento do colectivo. Como prova do seu entendimento de que nenhum eu estava acima do nós, o facto de, depois de ter sido nomeado como o melhor marcador de ensaios do nosso CDUL e quando o Bernardo Marques Pinto se preparava para lhe entregar o prémio, dizer como generosamente o fez tantas vezes: Metade desse prémio pertence ao Bessa — era ele que me passava a bola para eu marcar os ensaios.” 


Eu, limitava-me a fazer o meu trabalho — bola recebida de outro companheiro, manobra necessária para criar espaço e passe para que o Moita pudesse, eficazmente. utilizar todos os seus enormes recursos e capacidades e, no mínimo, avançasse no terreno ou, no melhor, marcasse o procurado ensaio. O trabalho final era todo dele! Autêntico Campeão!!! 


No Moita reconhecemos um bom carácter e sempre um amigo do seu amigo. De todas as vezes que nos encontrávamos, o tempo que nos separava do último encontro a que vidas diferentes nos tinham obrigado, nunca contava. Era como se estivessemos sempre juntos e a memória, para nós, não tivesse hiatos. Era a continuidade contínua da amizade. 


Que os que agora envergam a camisola CDUL Rugby, que os que hoje aqui se encontram nesta cerimónia, tenham o exemplo do Moita, enquanto jogador e enquanto homem, como modelo e referência, contribuindo assim para que o CDUL o não esqueça nunca e para que o serem membros desta nossa equipa se possa traduzir numa dedicada aprendizagem de vida. 


Viva o nosso CDUL Rugby que nos deu alma e coração para sermos melhores na nossa vida, garantindo que, em cada um de nós — na nossa memória individual e colectiva — o Carlos Moita viverá sempre!


Continuamos contigo, caríssimo Moita! 


Saibámos honrar a tua memória! 

SEMPRE!





segunda-feira, 16 de junho de 2025

BELENENSES BI-CAMPEÃO

 


NOTA. Por razões que desconheço, desapareceu o post que coloquei aqui após o jogo que determinou o novo título do Belenenses.


Ao derrotar o GD Direito na adiada 6ª jornada do Grupo do título por 47-5 o Belenenses bisou o título nacional e é, pela 10ª vez Campeão Nacional.

Este campeonato iniciado com uma fase de apuramento que envolveu 12 clubes para apurar dois grupos — um do título e outro da descida —de 6 equipas não foi muito interessante e foi muito pouco competitivo. Ao ponto de o Grupo da descida apresentar um Índice de Competitividade de valor superior (2,64) ao do Grupo do título (2,97). — o valor de equilíbrio é de 1 e os valores superiores à unidade são tanto mais fracos competitivamente quanto mais distantes da unidade.

Basta aliás ver a diferença de pontos de classificação para perceber que deste muito cedo havia apenas duas equipas com aceso aos dois primeiros lugares. Veja-se: a diferença de pontos de classificação entre o 2º classificado e o 3º era de 15 pontos; entre o mesmo 2º e o 4º de 22 pontos e  o 4º classificado e o último classificado (6ª) estavam separados por 10 pontos.

O 4º classificado, S. Miguel, terminou com 89 pontos negativos de diferença entre pontos marcados e sofridos. E nas dez jornadas de campeonato houve apenas 3 pontos de Bónus Defensivos e 14 pontos Bónus Ofensivos— o que não ajuda nada na demonstração de jogos equilibrados.

Com um campeonato destes não é possível elevar o nível da prestação competitiva internacional dos jogadores portugueses que jogam em Portugal. E depois são evidentes — porque os portugueses que jogam em França estão habituados a outro nível competitivo — os desequilíbrios que a equipa da Selecção Nacional apresenta e que se podem observar nos jogos internacionais contra equipas que não sejam tão fracas como bélgicas ou holandas.

Na minha opinião e já a expressei por inúmeras vezes, os campeonatos nacionais das duas primeiras divisões deveriam ser realizadas por dois grupos de seis equipas cada um e disputados em três voltas com os jogos da 3ª jornada a serem disputados em casa do clube que tivesse, entre os dois clubes, os melhores resultados de acordo com as normas regulamentares de classificação. Com este modelo haveria maior competitividade e não se perderia tempo com “aberturas” ou “apuramentos” sem qualquer tipo de competitividade. Para que haja um aumento de interesse pelaa competições internas é necessário garantir que as principais competições não tenham a maioria dos seus jogos com vencedores antecipadamente reconhecidos — ganhando assim a capacidade técnica e táctica dos jogadores e das equipas e tornando o campeonatomais atracctivo.

A não alterar este sistema, o rugby português tenderá a baixar o seu nível de maneira significativa. Os números não enganam…

 

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