A pedido expresso da Beatriz, filha do nosso Carlos Moita, para esta ocasião da sua cerimónia fúnebre, vou repetir, com as adequações devidas à circunstância, a leitura do texto que então li na Homenagem que o CDUL lhe prestou em Novembro passado.
Falar sobre o Moita — era assim que lhe chamávamos — lembrando, nesta cerimónia fúnebre, a sua contribuição para o prestígio do nosso CDUL se é um momento que muito me honra é também, pela relação que tive com ele, um momento de grande emoção. E não posso deixar-me levar por ela porque não quero que sejam as minhas lágrimas que marquem esta despedida a um Amigo, a um grande companheiro de equipa com quem partilhei grandes momentos de conquista para o nosso Rugby do CDUL.
O Moita foi sempre um exemplo de carácter e simpatia — o meu filho Raul, que, miúdo, assistia a jogos e treinos dizia-me há dias: “Lembro-me muito bem do Moita — o pai a chutar a bola para cima dele para ele correr e fintá-lo. Foi sempre muito simpático comigo.”
Conheci o Moita no Rugby do CDUL. O Estádio Universitário era a nossa casa. E tivemos sempre uma óptima relação desde logo porque tínhamos uma base desportiva e de valores comum: embora ele tenha entrado no meu ano de saída, éramos ambos antigos-alunos do Colégio Militar. O companheirismo que nos marcava teve assim um início facilitado.
Internacional 18 vezes e com a particularidade de na sua 1ª internacionalização em 1974, estarmos os dois em campo com a mesma camisola para, em 1985 e na sua última internacionalização, estarmos também ambos empenhados e eu ser o seleccionador/treinador nacional da altura num círculo comum de relações e cumplicidades com muitos anos de jogos lado-a-lado a defender a camisola azul e a procurar os melhores resultados. E como nos entendíamos bem. Cúmplices mesmo!
Moita era um atleta de grande categoria - fisica, táctica e tecnicamente — e um marcador de ensaios terrível e acima do comum — bola entregue e o ensaio estava mais do que à vista. O que muito contribuiu para as nossas vitórias em jogos e campeonatos.
Mas, como todos os campeões, foi sempre um exemplo de grande humildade e nunca se vangloriou da sua categoria de super-herói. Teve sempre um enorme respeito pelo colectivo — a equipa estava sempre em primeiro lugar — sabendo muito bem que, por melhor que se seja individualmente, estamos sempre dependentes do rendimento do colectivo. Como prova do seu entendimento de que nenhum eu estava acima do nós, o facto de, depois de ter sido nomeado como o melhor marcador de ensaios do nosso CDUL e quando o Bernardo Marques Pinto se preparava para lhe entregar o prémio, dizer como generosamente o fez tantas vezes: “Metade desse prémio pertence ao Bessa — era ele que me passava a bola para eu marcar os ensaios.”
Eu, limitava-me a fazer o meu trabalho — bola recebida de outro companheiro, manobra necessária para criar espaço e passe para que o Moita pudesse, eficazmente. utilizar todos os seus enormes recursos e capacidades e, no mínimo, avançasse no terreno ou, no melhor, marcasse o procurado ensaio. O trabalho final era todo dele! Autêntico Campeão!!!
No Moita reconhecemos um bom carácter e sempre um amigo do seu amigo. De todas as vezes que nos encontrávamos, o tempo que nos separava do último encontro a que vidas diferentes nos tinham obrigado, nunca contava. Era como se estivessemos sempre juntos e a memória, para nós, não tivesse hiatos. Era a continuidade contínua da amizade.
Que os que agora envergam a camisola CDUL Rugby, que os que hoje aqui se encontram nesta cerimónia, tenham o exemplo do Moita, enquanto jogador e enquanto homem, como modelo e referência, contribuindo assim para que o CDUL o não esqueça nunca e para que o serem membros desta nossa equipa se possa traduzir numa dedicada aprendizagem de vida.
Viva o nosso CDUL Rugby que nos deu alma e coração para sermos melhores na nossa vida, garantindo que, em cada um de nós — na nossa memória individual e colectiva — o Carlos Moita viverá sempre!
Continuamos contigo, caríssimo Moita!
Saibámos honrar a tua memória!
SEMPRE!