quarta-feira, 1 de maio de 2024

COMPETITIVIDADE EXISTE NO EQUILÍBRIO

Terminou a fase de Apuramento da Divisão de Honra e fica claro que com estas dez equipas não é possível um campeonato competitivo e com a intensidade que possa aproximar os jogadores portugueses das necessidades dos jogos internacionais, ficando a Selecção Nacional cativa da disponibilidade de jogadores que, em França, a possam representar. O que significa dependência do que não controlamos e eventual futura distância dos adeptos. Porque, verdadeiramente, a Selecção Nacional deve ser formada, joguem onde jogarem, por uma maioria de jogadores formados em Portugal. Porque assim terão uma base comum sócio-cultural que lhes permitirá um melhor entrosamento e entendimento como é exigência deste desporto altamente colectivo e como o mundo — espera-se — não acaba amanhã… a nossa preocupação deve ser a do desenvolvimento rugbístico dos jogadores que aqui começam a sua actividade.

Para além de um valor do Ìndice de Competitividade Noll-Scully demonstrativo da falta de competitividade — bem demonstrada nos 54% dos jogos que terminaram com diferenças superiores a 15 pontos de jogo (na última jornada 4 dos 5 jogos realizados tiveram diferenças superiores a esses pontos) 51% dos jogos tiveram Bónus Ofensivos e apenas 18% conseguiram obter Bónus Defensivos. E bastará, para perceber que não há competitividade, olhar para a tabela da classificação geral para ver a diferença entre o 6º e o 7º classificados a ficar em 16 pontos e a Lousã chegar às 2 vitórias com 297 pontos marcados e 766 sofridos e o CDUP apenas com 1 vitória, tendo marcado 210 pontos contra 1018 sofridos.

É assim bom de ver que, neste tempo actual, o ideal para uma competição competitiva sustentável — “Sem competitividade não há rendimentos sustentáveis”, António Saraiva, antigo Presidente da CIP — seria o de comportar seis equipas — o limite nunca poderia ser mais de oito. E a proposta de um campeonato para seis equipas seria de dois grupos — Honra e 1ª Divisão — com uma prova a três voltas — o último jogo seria realizado no campo do Clube com melhor resultado entre os adversários conseguido nas duas voltas anteriores — num total de 15 jogos a determinar o Campeão Nacional pela regularidade demonstrada durante a sua disputa.

Definido pela Direcção da Federação um próximo campeonato com 12 equipas — que afirmam, ao contrário do que possa parecer, ser mais competitivo. Mais competitivo?! Como? — com um começo de 3 grupos de 4 equipas — que formados como quer que sejam, determinarão sempre grupos desequilibrados, produzindo uma 1ª fase de poucos motivos de interesse. Porque o essencial para a melhoria do rugby nacional, é permitir que as melhores equipas se defrontem muitas vezes e que as outras, mais fracas e com mais dificuldades de se organizarem em níveis de rendimento superiores, possam ter tempo para se desenvolverem.

Muito bem, pretende-se um campeonato com 12 equipas… e como será possível torná-lo competitivo levando a que mais do que as seis/sete equipas habituais possam ter atractivos competitivos que as obriguem a desenvolver-se, podendo preparar-se e organizar-se e preparar o caminho do sucesso? Assim e reconhecendo que é o equilíbrio que traduz uma maior competitividade, aqui vai uma proposta:

PROPOSTA PARA UM CAMPEONATO COM 12 EQUIPAS

1ª FASE DE APURAMENTO:

    - 12 EQUIPAS A 1 VOLTA  (11 JORNADAS), CLASSIFICANDO AS 6 PRIMEIRAS EQUIPAS PARA DISPUTAR A DIVISÃO DE HONRA E AS SEIS SEGUINTES PARA DISPUTAR A I DIVISÃO

2ª FASE 

    - 6 EQUIPAS NA DIVISÃO DE HONRA + 6 EQUIPAS NA 1ª DIVISÃO 

    - ESTES GRUPOS DISPUTARÃO UMA COMPETIÇÃO A DUAS VOLTAS (10 JORNADAS — PERFAZENDO UM TOTAL DE 21 JORNADAS)

    - O CAMPEÃO NACIONAL SERÁ O CLUBE QUE MAIS PONTOS OBTENHA NA 2ª FASE DA DIVISÃO DE HONRA. O ÚLTIMO CLASSIFICADO DA  I DIVISÃO DESCERÁ À II DIVISÃO —  CASO HAJA ACORDO QUE, DE UM PONTO DE VISTA DE EQUILIBRIO COMPETITIVO COMPETITIVO, ESSA “TROCA” SEJA POSSÍVEL DESDE A PRIMEIRA ÉPOCA DE UTILIZAÇÃO DESTA FORMA DE DISPUTA. 

sábado, 27 de abril de 2024

UMA CAMISOLA DE MEMÓRIAS

Há 50 anos o MFA fez a Revolução do 25 de Abril que abriu a Portugal os caminhos da Liberdade e da Democracia em que hoje vivemos. 

A Selecção Nacional tinha um jogo internacional marcado contra a Checoslováquia para o dia 27 de Abril de 1974 e o Seleccionador Nacional, Pedro Lynce, tinha-me convocado para o lugar de médio-de-formação — ainda tenho a camisola nº 9, que nunca utilizei, guardada, espero, na gaveta.

Com a Revolução do 25 de Abril o aeroporto, bem como o espaço aéreo, foram encerrados e a nossa viagem foi anulada.

Portanto, com a melhor prenda de anos — nasci às 4 da manhã de 25 de Abril de 1947 — que tive até então, o fecho do aeroporto foi a única coisa desagradável — antes de ter tido a certeza que iria haver uma formidável mudança —  porque não permitiria a viagem para Praga. Jogo internacional perdido mas com a vantagem, permitindo-me juntar às formidáveis multidões que apoiavam nas ruas o MFA, de presenciar situações decisivas da Revolução como, por exemplo, Rádio Clube Português, Carmo e a libertação dos presos políticos de Caxias — só de camisa e com o frio da noite terminou em gripe… — num conjunto de momentos inesquecíveis que a memória guarda e guardará.

Para juntar às recordações desses dias cá guardo a camisola não utilizada e que tem um número que resultou do facto de, no CDUL, por ser o capitão e por falta de jogadores mais capazes para o lugar, ter tido de jogar no lugar de formação. E esse não-jogo acabou por ser a minha última convocatória para jogos internacionais que só voltaram em 1981.

E pena verdadeira só tenho deste facto: o de os responsáveis federativos se terem mostrado incapazes da organização necessária para garantir a continuidade da participação internacional. Porque, de não ter jogado em Praga, não tenho pena nenhuma. A impossibilidade valeu a pena e garantiu-nos a Liberdade e a Democracia, numa mudança inesquecível para os que, como eu, tiveram a oportunidade de viver aqueles tempos.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

DE INVENÇÃO EM INVENÇÃO…

 A Fase de Apuramento da Divisão de Honra disputada por 10 clubes a duas voltas, atingiu a 18ª Jornada e portanto terminou. No entanto não foi isso que se passou — a dois clubes falta um jogo, aos outros oito faltam dois jogos para completar a prova num total de 9 jogos em atraso. E assim o campeonato continua e, pode ler-se no site federativo, irá disputar-se a 19ª jornada nas 20 que querem atingir. Um disparate absoluto e que subverte as regras normais de uma competição de regularidade pela introdução — vá lá saber-se porquê e com que vantagens competitivas — de um jogo de folga para duas equipas quase jornada a jornada.

E o rigor manda dizer que não há 19ª ou 20ª jornadas mas sim que existem jogos em atraso que, aliás, deviam ter sido — por razões de ética desportiva — resolvidos antes de se atingir a 18ª jornada final. Os campeonatos de todos-contra-todos têm como regra que os seus jogos que compõem a mesma jornada, sejam disputados com grande proximidade temporária entre eles. E as consequências resultantes desta invenção não são brilhantes com folgas que fizeram parar equipas em situações que podem criar vantagens indevidas a uma ou outra das equipas, ao se conhecerem posicionamentos que não seria suposto conhecer-se se o jogo fosse disputado na altura certa.

Com esta organização, um campeonato que já não era competitivo ter nas condições de desenvolvimento do rugby português um campeonato com dez clubes —  a diferença de pontos entre o 6º (último a apurar) e 7º classificados é de 12 pontos a dois jogos do fim… significa que existirão jogos que não terão qualquer proximidade competitiva como se pode ver analisando os resultados globais — tornou-se ainda menos competitivo. E veja-se o resultado…


Faltando ainda disputar 9 jogos, já existem, num evidente desequilíbrio, 17% dos jogos realizados que permitiram Bónus Defensivos e 51% dos jogos disputados obtiveram Bónus Ofensivos que se atribuem à equipa que marcou 4 ensaios, garantindo uma diferença de 3 ensaios em relação ao resultado do adversário. Noutra demonstração do desequilíbrio competitivo desta competição da Divisão de Honra está no facto de que 54% dos jogos efectuados tiveram resultados com diferença de 15 pontos valor que o ranking da World Rugby considera elevado e que, por isso, é premiado com aumento de pontos.

Este desequilíbrio é demonstrado pelo factor Índice de Competitividade traduzido pelo algoritmo Noll-Scully que, tendo o valor de 1 como equilíbrio da competição, vê a competição portuguesa atingir o desequilibrado valor de 2,26 ao atingir a 18ª jornada. 

E o problema maior é que este valor de 2,26 é o pior resultado dos resultados europeus entre nossos adversários directos e adversários que são referências.

Relação entre o Índice de Competitividade e a diferença para o Equilíbrio Competitivo. Como se pode verificar o campeonato português é o mais desequilibrado dos analisados. Repare-se na valorização do campeonato de Espanha com a passagem de 12 clubes da fase inicial para 6 na fase final

Com os objectivos que estão definidos — subir no ranking e participar no Mundial da Austrália de 2027 — é óbvio que não podemos continuar a ter um campeonato que  não prepara minimamente os jogadores portugueses para o nível internacional. Porque é decisivo e elementar, por todas as razões organizacionáveis e competitivas, que os jogadores portugueses que jogam no nosso campeonato interno, possam aproximar as suas capacidades às dos jogadores portugueses que jogam no estrangeiro. E há formas de organizar campeonatos internos competitivos. Que permitirão a aproximação.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

QUE RAIO DE IDEIA!…


E se a decisão da FPRugby de realizar um mesmo jogo a contar para duas competições distintas — Campeonato da Divisão de Honra e Supertaça — fosse considerada como vanguardista e aberta ao futuro, os jogos Benfica-Sporting de ontem (2 de Abril) e de sábado (6 de Abril) , pertencentes à disputa da Taça de Portugal e da Liga, poderiam ser os dois realizados num dos dias e em campo neutro. Até havia a boa desculpa da poupança de jogadores para um Europeu que aí vem. Mas mesmo com essa intenção, o que aconteceria? Cairia o Carmo e a Trindade a que se juntaria, muito provávelmente, o Terreiro do Paço. 

Considerar, como decidiu a Federação Portuguesa de Rugby, que duas competições com regulamentos competitivos distintos e em que o resultado se entende de formas diferentes  — se num campeonato o resultado de cada jogo se relaciona com todas as outras equipas que o disputam, numa Taça, realizada por norma no regime de eliminatórias, duplas ou singulares, o resultado só diz directamente respeito às duas equipas em jogo — e que pode ser resolvido num mesmo jogo, representa uma clara violação dos valores que caracterizam o Desporto para além de uma demonstração de falta de respeito pelos atletas. Pela simples razão que um e outro jogo se preparam com diferentes abordagens estratégicas que se traduzirão em diferentes tácticas conceptuais. E é bom de ver que as duas equipas podem ter propósitos diferentes traduzidos em vencer a Taça ou consolidar o campeonato… O que pode pressupôr atitudes diferentes… e não basta dizer que “ambas, o que querem é ganhar”, porque o ganho numa competição não é igual ao da outra. E, manda o bom costume que não chega ser, é preciso parecer

Veja-se: o Rugby, caracterizando-se de forma muito diferente de outras modalidades, tem 5 formas de marcar pontos com 4 valores diferentes — ensaios (5), transformações (2), penalidades (3), ressaltos (3), ensaios de penalidade (7) — e ainda tem, no caso de campeonatos e não de eliminatórias, “pontos de bónus” ofensivos — que se conseguem pela relação diferencial de 3 entre ensaios marcados e sofridos — e defensivos que dependem, no caso da equipa derrotada, da relação inferior a 8 pontos entre pontos Marcados e Sofridos no resultado final. Ora estas características tornam impossível a equidade entre um jogo de Campeonato e de Taça. . No caso da Supertaça o objectivo é o de ganhar nem que seja pela diferença de um ponto — o que pode levar, pela evolução do resultado, a tácticas defensivas de limitar o uso da bola. No caso do Campeonato a vitória, como a derrota, podem ter mais interesses para além do superior número de pontos de jogo— o interesse de uma das equipas poderá estar na necessidade de conquistar, como vencedora ou como derrotada, 1 ponto de bónus, o que levará apenas a eventual derrotada à posição de segurança de limitação do uso da bola se o final estiver próximo e o resultado tiver uma diferença menor do que 8 pontos de jogo — na evidência de perspectivas e propósitos distintos e próprios a cada competição. Diferentes, portanto. Com a possibilidade de um — o do Campeonato — terminar no final dos 80 minutos regulamentares e o outro — Supertaça — prosseguir para um prolongamento e, eventualmente, para um desempate por pontapés. Com os mesmos jogadores e no mesmo campo… 

Com esta mistura de jogos de características e objectivos diferentes, colocam-se os jogadores — os elementos centrais  e fundamentais do jogo — numa situação de vulnerabilidade: pelo andamento do resultado do jogo, mesmo se disfarçado numa vitória final da Supertaça, podem ser levantadas especulativas suspeitas sobre a sua integridade porque a aparência de jogos de interesses exteriores ao jogo, pode resssaltar. E o respeito devido aos jogadores não permite que se criem, por negligência de princípios, situações que permitam ou levantem possíveis dúvidas, sequer suspeitas, sobre a integridade de quem participa no jogo. Isso é, simplesmente, inadmissível! E a maneira reconhecida para evitar suspeições é garantir organizações que o impeçam — por isso o Mundial de Rugby não mais será disputado em grupos com um número ímpar de equipas.

Princípios e Respeito que caraterizam o Desporto, nomeadamente na igualdade de propósitos entre adversários, não autorizam esta facilidade  — seja por que razões fôr e menos ainda por meras razões burocrático-administrativas — de realizar um mesmo jogo de diferentes componentes desportivas. Cada competição vale por si e não se mistura no mesmo espaço e tempo simultâneos. E a irresponsabilidade negligente não é compatível com as exigências éticas do Desporto. 

Que raio de ideia esta! e se a moda pega…

quinta-feira, 28 de março de 2024

BOA PÁSCOA 2024


 

quarta-feira, 27 de março de 2024

IRLANDA VENCEDORA DO 6 NAÇÕES

 

A Irlanda venceu o 6Nações 2024 com 4 vitórias — não conseguiu de novo o Grand Slam — num torneio muito equilibrado e com grande competitividade como o demonstram os 9 pontos de bónus defensivos em 15 jogos — 60% de jogos com “pontos de bónus defensivos” e ainda com a curiosidade de ter havido 3 equipas (Gales, Escócia e Inglaterra) que obtiveram simultaneamente e no mesmo jogo pontos de bónus ofensivos e defensivos. De facto, um torneio de grande qualidade competitiva e com jogos muito bem disputados e de grande intensidade e espectacularidade.
Numa comparação com o actual campeonato francês do TOP 14 — 45 pontos de bónus defensivos em 133 jogos num total percentual de 34% — e com o inglês, Premiership — 24 pontos de bónus defensivos em 63 jogos num total percentual de 38%, pode ver-se o nível da competitividade do 6Nações e daí — para além da espectacularidade dos jogos e de um bom nível rugbístico — a atractividade deste campeonato que a todos nós prendeu. Veja-se a diferença de pontos de jogo na última jornada. Como se costuma dizer foram jogos de resultado “résvés Campo de Ourique”.

Repare-se que estes dados servem também para demonstrar à evidência a falta de competitividade do campeonato português — o nosso Top10 — que, com 63 jogos disputados (não estão contabilizados os resultados da dita 15ª jornada uma vez que não há informação oficial da decomposição dos resultados e, nem sequer, do número de ensaios marcados por cada equipa…) tem um percentual de 17,5% correspondentes a 11 pontos de bónus defensivos. Bom seria que estes dados permitissem, numa organização que pretende ter um lugar permanente para a sua equipa representativa nas vinte primeiras equipas mundiais, considerasse que a chave para essa pretensão está na existência de uma competição interna altamente competitiva, permitindo assim que os jogadores formados em Portugal sejam competitivos com os portugueses que jogam em França, dando assim uma maior importância e coesão (até linguística…) à selecção nacional.

Nesta última jornada a maior supresa foi dada pela Itália que, continuando o bom torneio que tem feito, venceu Gales em Cardiff e que, tendo conseguido valores menores — até em ensaios — nos principais domínios do jogo, realizou, numa notável consistência defensiva que não permitiu mais do que 6 rupturas para uma posse galesa de 61% , 226 placagens com um sucesso de 87%. 

No França-Inglaterra, enquanto que a Inglaterra, abandonando o seu clássico modelo-de-jogo, continua a sua adaptação a formas mais próximas do “rugby de movimento”, vimos a França vencer no final graças a uma extraordinária conversão de pontapé de penalidade de Thomas Ramos, permitindo assim uma vitória pela diferença de 2 pontos. E com esta “sorte” final a juntar às sortes em finais de jogo do vídeo-árbitro contra a Escócia e do pontapé no poste do italiano Garbisi, a França conseguiu terminar o Torneio na 2ª posição, acabando assim por mostrar aos adeptos que existe futuro que possa fazer esquecer a sua prestação no Mundial de 2023.


quarta-feira, 20 de março de 2024

UM MAU PROCESSO TORNA MAU O PRODUTO

O resultado do jogo desta final Geórgia-Portugal (36-10) foi mau. Mesmo mau demais entre equipas que são as 7ª e 8ª equipas europeias, classificadas como 13ª e 15ª no Ranking da World Rugby com, respectivamente, 72,68 e 71,62 pontos. Ou seja: muito próximas — tão próximas que a normal diferença do resultado seria de 2 pontos de jogo…

Ainda provavelmente embalados pelos elogios, embora bastante paternalistas, recebidos no Mundial a que juntámos uma desculpabilizadora “mudança de ciclo” permitimo-nos riscos que ignoraram qualquer relação custos/benefícios. E o que obtivemos, porque como popularmente se diz “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”, foram elevados custos para benefícios nulos. E os erros iniciais foram evidentes e tiveram consequências incontroláveis:


1) COMPOSIÇÃO do XV

a) preferência por um banco 5/3 sem qualquer médio-de-formação substituto e apostando na hipótese Nuno Sousa Guedes, recém saído de uma lesão que trazia desde o Mundial, não é solução capaz para um jogo desta responsabilidade;

b) prescindir do jogo-ao-pé, colocando a abertura Tomás Appleton, um jogador que, embora nas suas 65 internacionalizações tenha 5 jogos na posição (4 delas em 2016) mas que não tem os hábitos necessários na distribuição que o modelo-de-jogo pretendido necessita nem tão pouco as do jogo-ao-pé — também deitámos fora a hipótese pontapé-de-ressalto… — que um jogo desta natureza impõe, é uma decisão sem sentido.

c) num jogo contra um bloco-de-avançados como o georgiano que conhecemos bem e que pudemos ver integral contra a Roménia e que tem uma 1ª linha forte e capaz, lançar a estas feras jovens pilares que não têm ainda a experiência e a capacidade técnica necessária ao lugar (volta Força8!, volta depressa!) é, como foi, um enorme risco de custos elevados.

d) apostar numa parelha de médios que nunca jogaram juntos num jogo de previsível alta intensidade, juntando um não-abertura com um jovem formação como é o talentoso mas inexperiente Hugo Camacho, é um erro de palmatória a juntar mais pressão à pressão que um jogo desta natureza já impõe. E não ajudando nada à fluidez do jogo, arma que os Lobos necessitam para conseguir impôr o seu jogo;

e) se deixar Rodrigo Marta no banco é já uma aposta duvidosa, não o fazer entrar com a saída de NSGuedes é outra decisão pouco consequente — vejam-se as participações de Lucas e de Marta nos diferentes níveis franceses onde jogam…

2) CONSEQUÊNCIAS

Naturalmente que a composição do XV inicial tem, como teve, consequências tácticas directas no jogo da equipa:

a) Como NSGuedes se lesionou e saíu aos 3 minutos, o resto do jogo foi passado com o credo na boca esperando que Camacho pudesse fazer o jogo até ao fim. Num jogo desta natureza, uma Final Europeia, não dispôr de um formação seguramente disponível é um erro que pode deixar custos e não se percebe a decisão— optando por uma composição 5/3, um dos três jogadores deveria ser formação;

b) Não havendo capacidade no jogo-ao-pé — foi deixada no banco com Hugo Aubry — e não se joga um jogo deste nível de competitividade sem ter à mão de semear, num jogo em que a conquista do território — seja como alívio, seja como ocupação — é decisiva, a capacidade de jogar-ao-pé. Porque as consequências tácticas são, como foram, depressa percebidas pelo adversário que, assim, fez subir o seu três-de-trás, garantindo uma melhor coesão defensiva e evitando que o jogo de passes português fosse eficaz como demonstra o facto de terem sido criadas 7 rupturas para um mero ensaio conseguido;

b.1) a explicação do recurso de colocar a abertura um bom defensor terá, com certeza, a justificação de melhorar a defesa. Muito bem, mas, como sabemos, existem outras soluções para resolver um problema desta natureza — veja-se Portugal no campeonato do Mundo ou contra a Espanha na 1/2 final ou mesmo lembre-se a Nova Zelândia de Maertens que tinha em Kronfeld o seu anjo-da-guarda defensor — e a solução utilizada apenas criou maiores custos em relação aos benefícios pretendidos. E o resultado foi a constante impossibilidade de atrasar a rápida subida defensiva georgiana… e a nossa impossibilidade de atacar consistentemente.

c) sabidas as dificuldades que o combate da formação-ordenada iria trazer e porque se tratava da Final Europeia e não de um qualquer jogo com menos preocupações de resultado, talvez esquecer a preocupação da “mudança de ciclo” e procurar saber da disponibilidade de Francisco Fernandes — que tem jogado e bem pelo seu clube na PROD2 — pudesse trazer a experiência e conhecimentos necessários a uma melhor prestação neste domínio que teve a preocupante consequência da perda de 6 em 9 formações-ordenadas a que se juntava a entrega de território pelas penalidades concedidas. E, nesta situação de absoluta desvantagem, que ideia foi aquela de pedir FO próximo da linha-de-ensaio adversária? Não há jogadas preparadas para utilizar nestas situações?

d) Se a escolha do abertura já não garantia necessariamente a fluidez e criatividade que o modelo-de-jogo pede, o facto de haver, sob a pressão e intensidade imposta, dois “desconhecidos” a dependeram um do outro, levou a que a recepção da bola no primeiro passe se fizesse bem longe da linha-de-vantagem, possibilitando à rápida subida defensiva georgiana uma superioridade numérica nos rucks que as colisões criavam com uma de duas situações — atraso na reciclagem da bola, permitindo a melhor organização defensiva georgiana ou conquista do ruck (9 turnovers concedidos);

    e) não deixou de ser estranha a decisão de fazer entrar Lucas Martins para depois o substituir por Marta, numa altura (47’) em que a hipótese de entrada de um abertura de raiz mais do que se impunha…  E assim e de certa maneira lá se deitou por terra a ideia que o banco poderia funcionar como mais-valia…


Com erros estratégicos que provocaram consequências de incapacidades tácticas que impediram — com excepção do último minuto do jogo — a expressão das capacidades dos atacantes portugueses e levaram — para além da continuidade da indisciplina que provoca penalidades a torto e a direito — a erros técnicos que nos colocaram sempre na posição de vencidos, é visível que a preparação do jogo não foi a mais feliz.

Mas a culpa do mau resultado não pode ser atribuída aos jogadores — fizeram o que puderam dadas as circunstâncias —e que apesar dos 4 ensaios sofridos, realizaram 123 placagens com uma taxa de sucesso razoável de 85% (os georgianos obtiveram 88%). 

Num jogo de conquista de território em que avançar no terreno constitui o princípio fundamental de qualquer movimento, continuar a jogar com a preocupação de realizar colisões em ataque — quando as colisões são uma arma defensiva excepto na proximidade da linha-de-ensaio — e que, por não haver hábitos consolidados de jogar dentro da defesa, só levam a facilitar a vida adversária a quem é facilitado o controlo do tempo de reciclagem da bola para uma organização defensiva envolvente mais eficaz. Juntando a isto o factor faltoso, provocando penalidades em cada ida ao solo — atenção árbitros portugueses! — a expressão das capacidades portuguesas de circulação e movimento, ficam muito debilitadas. E é nesses dominios que o nosso jogo assenta: movimento, circulação da bola em continuidade, combinações com linhas de corrida convergentes e divergentes e com dobras com o apoio necessário para garantir a pressão atacante que desequilibra a defensiva contrária. E neste jogo da Final da Rugby European Championship 2024, nada destas expressões se viram. Porque tudo se terá iniciado sem os cuidados necessários que o Alto Rendimento exige, deixando que uma mitológica “mudança de ciclo” se sobrepusesse ao processo… deteriorando o produto. E assim, desde o Mundial, perdemos 3 lugares — passando de 13º para 16º— no Ranking da World Rugby.

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