sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ATAQUE EM 1ª FASE

Não sei bem por que razões mas criou-se a ideia que atacar em 1ª fase – imediatamente a seguir a um situação ordenada pelas regras do jogo em que existe uma organização conhecida – é caminho óbvio para a inoperância. Não percebo porquê e penso, pelo contrário, que é um momento óptimo a explorar e que permite diversas hipóteses vantajosas.

Em situação de 1ª fase, o problema a resolver consiste em enfrentar a “lei do espelho” em que as duas equipas – a atacante e a defensora – alinham os seus jogadores de forma simétrica. Aparentemente nada parece ser possível fazer para desequilibrar os defensores e conseguir uma vantagem passível de exploração – e daí que se veja, antes de qualquer outra tentativa e embora como solução canhestra - a constante procura de contacto na zona central para depois, se tudo correr bem, procurar explorar um desequilíbrio conseguido.

Se as duas equipas – numa formação-ordenada ou num alinhamento – se colocam em simetria existem diversos factores que criam, de acordo com o posicionamento no campo, as assimetrias necessárias para permitir jogar de forma a surpreender os defensores e no mínimo conquistar terreno para criar a superioridade numérica atacante.

Tudo começa por uma razão principal. As situações impostas pelas Leis do Jogo e que proporcionam a colocação simétrica e que irão possibilitar os ataques em 1ª fase impõem – sem qualquer trabalho para a equipa atacante – uma concentração de jogadores e, logo, ampliam o espaço de cobertura para a equipa defensora que vê assim aumentadas as suas dificuldades. Não sendo idênticas as situações resultantes de formação-ordenada ou de alinhamentos, ambas dão à equipa responsável pelo reinício do jogo a vantagem da iniciativa que resultam do comando do tempo, da colocação, do posicionamento e...da posse da bola.

Foi isso mesmo que pudemos ver nos ensaios dos All-Blacks contra a Austrália no recente jogo inaugural do Rugby Championship. Em ambos os ensaios os neozelandeses partiram de formações-ordenadas.

No primeiro ensaio, com a formação-ordenada proporcionando um lado – o esquerdo- mais reduzido do que outro, os All-Blacks colocaram apenas dois jogadores no designado lado fechado. Introduzida e conquistada a bola o médio-de-abertura, Carter, apareceu, vindo da direita para a esquerda lançado (de forma a facilitar o passel do seu pressionado “formação”) atacando o lado-fechado, criando desde logo uma superioridade numérica – em 3-contra-2 – ampliada pelo bom trabalho do seu pack avançado que conseguiu, rodando, afastar a terceira-linha defensiva. Restaria recriar as manobras de diversão necessárias a manter a dúvida nos defensores: falso cruzamento com o seu centro e ataque do ponta ao intervalo dos defensores australianos que serviu para os fixar – se saíssem do corredor arriscariam ver uma penetração do portador da bola - e libertar caminho para o defesa neozelandês que, entretanto, já se havia deslocado para próximo da linha lateral. Com a iniciativa tomada, a criação de superioridade numérica estabelecida e a permanente dúvida lançada sobre os defensores, a Carter só restava fazer um passe longo nas costas do seu companheiro para “soltar” o seu defesa que marcou sem problemas. Ensaio que, se aos menos avisados poderá ter parecido uma falha defensiva, foi resultado de uma excelente conjugação de esforços e movimentos de uma parte considerável da equipa All-Black. Atacando em 1ª fase…

No segundo ensaio outra excelente exploração de situação. Formação-ordenada também do lado esquerdo atacante mas já quase sobre os quinze metros. Saída de terceira-linha com um 89 largo – e aqui ficaram fixados os adversários directos e ainda, e no mínimo, o abertura defensor – o apoio interior neozelandês não permitia a deslocação em cobertura – nova manobra de diversão – dois centros lançados para receber a bola a encobrir a deslocação do ponta-do-lado fechado e… passe largo nas costas dos falsos receptores para um 3-contra-2 de escola. Ensaio aparentemente fácil mas também a exigir coordenação, tempos de entrada a criar dúvidas ao adversário, e passes em tempo justo. Também de 1ª fase…

… e o jogo de procura constante do contacto na zona central pode resultar se houver uma vantagem à partida da equipa atacante – mais poder e maior peso dos seus centros – mas não é a solução mais inteligente. E, menos ainda, a mais interessante.

O ataque em 1ª fase permite muitas soluções eficazes. Exige é que seja feito de acordo com os princípios do jogo, com linhas de corrida adequadas, com a velocidade de manobra em cima dos defensores – impedindo-os de deslizarem. Boa técnica, bons conhecimentos tácticos e o ataque em 1ª fase torna-se numa arma muito poderosa. Tirando partido de uma vantagem que as Leis do Jogo proporcionam.

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