Brive, 2014 - Foto de Carlos Febrero |
E, é sempre bom lembrá-lo, neste campeonato europeu para além da França e de três das quatro equipas britânicas - a Escócia joga na segunda divisão europeia - onde por razões culturais qualquer mulher conhece o jogo de rugby desde que nasceu, competem países que, embora periféricos ao centro cultural da modalidade, têm um desporto feminino suficientemente desenvolvido para apresentarem as mais diversas equipas nos Jogos Olímpicos.
Conseguiram ainda um feito importante: subiram três lugares da época passada para esta!
Mais interessante ainda são as qualidades, técnicas e tácticas, demonstradas nos jogos de Moscovo e de Brive. E que proporcionaram saborosas vitórias como com a França - vencedora da etapa em Brive - a Irlanda, a Itália ou a Bélgica. E derrotas sem desistência da luta, dignas, sem entrega.
As meninas do rugby português mostraram uma característica essencial para o seu progresso e para que valha a pena apostar nelas: paixão. De facto em cada momento, com ou sem bola, percebia-se o gozo de estar ali, de estar a jogar. Em cada placagem percebia-se a preocupação de recuperação da bola; em cada utilização da bola percebia-se a preocupação de verticalização de linhas-de-corrida para atacar intervalos; em cada transporte de bola percebia-se a confiança no apoio companheiro que chegaria no tempo justo. Risco, confiança, determinação.
Falhas? Claro, porque se não as houvesse os resultados seriam - óbvio! - ainda melhores.
O primeiro problema tem a ver com a dificuldade de encontrar jogadoras com rapidez comparável ás adversárias - faça-se a comparação com os recordes femininos de 100, 200 ou 400 metros planos para perceber a dificuldade - o que exige jogar de forma mais próxima com mais dobras e mais movimento e, portanto, um pouco fora do conceito generalizado - preocupação maior das equipas profissionais (as únicas) da Rússia e da Holanda - de seis a abrirem caminho para a sprinter. E com uma maior necessidade de prolongar cada fase. Movimento, disponibilidade, velocidade de bola e resistência.
E no dia em que a qualidade do passe, a sua rapidez e precisão, melhorarem o suficiente para que a subida da defesa seja mais problemática para quem pressiona do que para quem usa a bola, a capacidade já demonstrada de atacar intervalos tornar-se-á uma terrível arma de ataque. Passes justos, dobras e alteração de ângulos das linhas de corrida podem caracterizar o jogo desta equipa se lhe for dada a oportunidade de treinar capazmente.
Se a falta de jogadoras com a rapidez que permita estabelecer a diferença após cada manobra de criação de espaço é um problema, a falta de competitividade das competições internas torna as dificuldades maiores uma vez que não permite a adaptação às formas mais adequadas para a eficácia internacional.
E talvez por essa falta de competitividade interna é que as jogadoras cometem faltas em demasia - o grande ponto negativo da prestação nestes dois fins-de-semana - perdendo bola e terreno e sendo, muitas vezes, obrigadas a esforços suplementares, demasiados e desnecessários.
Mas as meninas - e sou, orgulhosamente, padrinho desportivo de duas delas - proporcionaram belíssimos momentos de rugby - quem viu, pela qualidade e pelo desplante e para lembrar um exemplo, não esquecerá o pontapé-de-ressalto da Daniela Correia, a Deolinda, de 28/30 metros com que Portugal venceu a França por 8-7. Ou a vontade com que perseguiam bolas ou adversárias. Ou a inteligência como ganhavam tempo nos alinhamentos que provocavam.
Ou como placavam. Ou como se apoiavam para criar um colectivo superior à mera soma de cada uma delas.
As meninas do rugby português estão de parabéns e merecem que se encontrem condições que lhes possam proporcionar o desenvolvimento necessário para que se apresentem - daqui a um ano - no seu limite de capacidades no Europeu de 2015 onde se jogarão as qualificações para os Jogos Olímpicos do Rio 2016. A base existe e vale a pena.