sexta-feira, 1 de maio de 2020

ÉPOCA 2019/2020 TERMINADA

Tabela classificativa da Divisão de Honra à 6ª (e última) jornada disputada
A Federação Portuguesa de Rugby decidiu, à semelhança do que já havia feito para as competições femininas e escalões de formação a 10 de Abril p.p., dar por terminada a época 2019/2020 sem atribuição do título de campeão. Fez bem! Como disse já, vai para semanas, o médico responsável clínico do Comité Olímpico, dr. Gomes Pereira: "A pessoa vem em primeiro lugar, só depois o atleta".

No entanto existem dirigentes que querem que o campeonato se dispute até ao fim, argumentando que os atletas são jovens e saudáveis e podem jogar - mas, problema!, não são imunes (segundo os jornais, um jogador do Sporting, testado recente, confirmou positivo)...

De facto o grupo etário dos 20 aos 29 anos —o grupo ao qual pertencerão a maior parte dos jogadores seniores —  não tem óbitos conhecidos motivados pelo COVID-19 mas tem infectados e com os seus 2937 casos confirmados é superior ao grupo etário 70/79 — o meu — que, embora tendo óbitos como é natural dada a maior fraqueza das suas defesas, tem 2227 casos confirmados de infecções. O que significa que o grupo 20/29, não sendo um grupo de risco mortal, está, como é óbvio, sujeito à infecção e é, também, um grupo com elevado grau de transmissão do vírus. E que, se houvesse jogos, estaria em permanente contacto com outros agentes que formam o todo equipa. Portanto as pretensas auto-defesas que por aí se evocam, não têm evidência de sustentabilidade principalmente quando uma das características do vírus é o de poder ser transportado sem manifestações de sinais de infecção. Ou seja é um inimigo perigoso, sem rosto e sem localização imediatamente perceptível. Disso mesmo se terão dado conta outras federações de modalidades colectivas — Andebol, Basquetebol, Voleibol e Hóquei em Patins — que em reunião de 29 de Abril p.p decidiram "dar por terminadas as competições nacionais de seniores da época 2019/2020", não sendo atribuindo qualquer título de campeão nacional em qualquer das categorias destas modalidades.

Em França, com números no geral muito elevados mas que comparativamente não estão longe dos portugueses em casos confirmados — 2550 casos por milhão de habitantes para a França e, para Portugal,  com 2456 casos para o mesmo milhão de habitantes — havendo também quem queira recomeçar já os campeonatos, fazendo, por serem clubes profissionais e com grandes despesas mensais, enormes pressões para o seu reinício, Outros clubes, também de primeiro nível, pretendem, ao contrário, iniciar a próxima épocaapenas  em Dezembro ou Janeiro, uma vez que o grupo de médicos dos clubes do TOP 14 consideram ser, depois de uma paragem que já vai em 8 semanas e na actual situação,  necessário uma preparação mínima de 15 semanas antes de qualquer competição, podendo assim garantir o controlo necessário para não colocar em perigo a saúde dos jogadores. E se há problema da qualificação para as Taças europeias que se colocam aos clubes franceses que vêem no retorno financeiro da sua participação a possibilidade da sua saúde económica, o nosso campeonato apenas qualifica para a Taça Ibérica que não tem qualquer vantagem económica imediata. E a continuidade da participação é facilmente resolúvel. Por que não um fim‑de‑semana com quatro equipas de cada país a realizarem dois jogos cá e dois em Espanha com o objectivo de proporcionar a jogadores possíveis internacionais um nível competitivo mais elevado? Como qualificar?! Pela ordem da actual classificação, pelos melhores quatro clubes dos últimos três, cinco ou sete anos, pelos clubes com mais internacionais dos últimos três anos. Critérios não faltam E o próximo campeonato só recomeçaria depois de uma cuidada preparação, podendo até ser a época iniciada pela Taça de Portugal, num processo organizativo próximo do utilizado nas competições de Sevens,

Facto, facto é este: o rugby é um desporto colectivo de combate com grandes esforços de grande proximidade entre jogadores companheiros e adversários. Ou seja não tem, nem jogos, nem treinos compatíveis com a distância física recomendável. Portanto e para que haja treinos colectivos absolutamente necessários — não se trabalham formações, alinhamentos, recuperações de bola ou placagens? — é preciso que atinjamos um patamar muito mais favorável em termos pandémicos.

Mas o futebol vai jogar, ouve-se já com ar de crítica ao que chamam descriminação. Pois vai. E se pode, com as possibilidades financeiras que tem, garantir o controlo aparente dos jogadores coisa que, por mais que inventem, o rugby português  pura e simplesmente, não tem, já não consegue garantir, mesmo jogando à porta fechada, que a paixão e o sentimento clubista não vão ampliar as infecções e contribuir para uma dramática segunda vaga …— perguntem em Milão e em Liverpool o que aconteceu através dos adeptos do futebol... Por isso também me manifesto contra a bravura do futebol, mesmo à porta fechada, situação que não garante o afastamento dos adeptos. A transmissão televisiva se for como até hoje, vai juntar adeptos onde houver uma televisão disponível, se for de sinal aberto para evitar ajuntamentos não haverá receitas para os clubes — como se resolverá esta contraditória situação? Deixando o dinheiro comandar, não vai acabar bem...

Não! o rugby deve — como a Federação decidiu — terminar a época 2019/2020 e pensar clara e organizadamente como pode preparar e planear a nova época, proporcionando melhor qualidade de jogo, maior competitividade e preparando-se para os melhores resultados internacionais que abram caminho pretendida qualificação para o Mundial de França.

Para que não haja qualquer dúvida sobre a situação em que estamos envolvidos, transcrevo a legislação em vigor:
"Artigo 5.º da Resolução do Conselho de Ministros nº 33A/2020 Instalações e estabelecimentos encerradosSão encerradas as instalações e estabelecimentos referidos no anexo I ao presente regime e que dele faz parte integrante. 
ANEXO I(a que se refere o artigo 5.º)3—Atividades desportivas, salvo as destinadas à atividade dos praticantes desportivos profissionais e de alto rendimento, em contexto de treino: Campos de futebol, rugby e similares; Pavilhões ou recintos fechados; Pavilhões de futsal, basquetebol, andebol, voleibol, hóquei em patins e similares; Campos de tiro cobertos; Courts de ténis, padel e similares cobertos;  Pistas cobertas de patinagem, hóquei no gelo e similares; Piscinas cobertas ou descobertas; Ringues de boxe, artes marciais e similares; Circuitos permanentes cobertos de motas, automóveis e similares; Velódromos cobertos; Hipódromos e pistas similares cobertas; Pavilhões polidesportivos; Ginásios e academias; Pistas de atletismo cobertas; Estádios." 
No mesmo dia e na Resolução do Conselho de Ministros nº33-C/2020 fica claro que a partir do dia 4 de Maio e no domínio Desporto são apenas autorizados "a prática de desportos individuais ao ar livre"  e, a partir de 30/31 de Maio o Futebol na especificidade de "competições oficiais da 1ª Liga de futebol e Taça de Portugal".
Portanto tudo é claro — lembre-se que a anterior legislação produzida desde 20 de Março diziam o mesmo que esta que se cita  — o rugby não está autorizado a realizar jogos e os seus campos ou estádios estão encerrados. Ponto!

Pretender realizar proximamente os restantes jogos do final do campeonato é, para além de ilegal, uma demonstração de ignorância da situação em que nos encontramos. E o interesse não se pode sobrepor ao velho conceito camoniano de que "outro valor mais alto se alevanta": a protecção da saúde de todos nós. E o rugby, o jogo do rugby, não permite garantir a distância física de protecção, sendo portanto perigoso enquanto actividade. Se no futebol estão formalmente proibidas as "rodinhas" como se poderiam realizar formações ordenadas, alinhamentos, rucks ou placagens com o primeiro apoiante a pretender apanhar a bola criando, em todas as situações, uma proximidade de respiração praticamente em cima da cara de companheiros e adversários. Felizmente, bem andou a Federação ao dar por terminados os campeonatos.

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