sábado, 4 de dezembro de 2021

OPORTUNIDADE PERDIDA, OPORTUNIDADE DE REFLEXÃo (PARTE II)

[ CONTINUAÇÃO DE OPORTUNIDADE PERDIDA, OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO (PARTE I) ]

Ao nível internacional, o jogo-ao-pé tem um enorme importância e, se bem explorado, pode ser uma arma que transforma um jogo, alterando as suas circunstâncias e colocando o adversário em difíceis situações... e muitas vezes, principalmente com a área-de-ensaio perto, recorrendo ao pontapé-rasteiro, como teria sido o caso numa das situações do jogo, em vez do escolhido curto pontapé-de-balão. Porque no pontapé-rasteiro, para além de ser corrida pura e os atacantes terem a vantagem de ir de frente, ao defensor cria-se uma mais difícil situação de pontapear a bola e, com a nova regra, uma difícil opção se lhe coloca: ao fazer toque-no-solo o defensor fica — de acordo com a responsabilidade da colocação da bola na área-de-ensaio — com a possibilidade de recomeçar o jogo com um pontapé-de-ressalto da linha-de-ensaio ou a de entregar a bola ao adversário para uma formação-ordenada a 5 metros. Em qualquer das situações as vantagens do atacante são óbvias — se a bola for pelo ar a possibilidade de um pontapé-de-alívio é de maior facilidade de execução…


Onde se notou a maior diferença entre a suas selecções foi nas placagens. Os jogadores portugueses falharam, para 105 tentativas, 24 placagens enquanto que os japoneses em 137 tentativas apenas falharam 14 placagens numa diferença de 30% para 11%. E aqui terá estado uma das razões da derrota portuguesa que terá permitido a marcação de ensaios que construíu a vitória nipónica.

Mas mesmo com os diversos erros cometidos, Portugal teve o jogo na mão — e deitou-o fora por má gestão das 6 penalidades que conquistou no meio-campo japonês. Ou seja por razões de uma estratégia aparentemente mal pensada, por óbvia falta de criatividade e eventual falta de acertada preparação táctica, esquecemo-nos do processo táctico da decisão.


E o erro foi optar por pontapés para fora na procura de alinhamentos para utilizar mauls-penetrantes. Das seis penalidades usámos 2 para obter 6 pontos e devíamos ter usado mais! Veja-se porquê: bem sei que a confiança era alta e que um nossos maul inicial resultou em ensaio. Mas para que os mauls-penetrantes sejam efectivos — porque exigem, na jogada directa que procuram, uma difícil articulação e muito bom equilíbrio de forças do bloco de avançados — não pode, ou não deve, ser utilizado a mais do que 10 metros da linha de ensaio porque a partir daí é muito mais fácil para o adversário desequilibrá-lo para o que conta com a ajuda dos próprios portadores — e com equipas experientes como a japonesa... foi o que aconteceu. Iludidos pelo êxito do primeiro ensaio, esquecemos as regras da competição desportiva — marcar mais pontos do que o adversário  — e o seu processo de decisão táctica: como marcar mais pontos do que o adversário. Procurando a mais simples das eficácias, claro

Esta decisão, postes ou alinhamento?,  precisa de análise anteriormente preparada — quais são as zonas do campo onde o chutador indicado tem valores elevados de precisão? a que distância da linha-de-ensaio consegue, chutando da mão, colocar a bola fora? — que deverá levar à decisão mais eficaz: postes porque a zona e a distância estão ao alcance de quem chuta e serão 3 pontos encaixados; bola para fora porque 3 pontos não chegam e o resultado exige um ensaio, e uma de duas: se a distância à linha-de-ensaio é menor do que 10 metros e o poder e técnica dos nossos avançados está adequada à missão, o maul-penetrante será uma boa solução; se a distância é maior ou o poder dos nossos avançados não se mostra suficiente, o ideal será criar, depois de um lançamento para uma das extremidades do alinhamento, uma manobra que, encolhendo a linha de defesa, permita espaço para ataque dos três-quartos. 

No fundo o que aconteceu de facto, foi o seguinte: os japoneses usaram todas as penalidades que conseguiram obter no meio-campo português, 4, marcando 12 pontos e nós, utilizando apenas duas das seis conseguidas — de nada nos valendo portanto a maior disciplina demonstrada — entregamos pontos e, ignoramos que em jogos internacionais a procura de pontos é decisiva e que os jogos são para ganhar. 
     
Como sabemos de nada serve ficar a pensar no azar da intercepção final numa jogada que nos daria a vitória. O que deve ser pensado deve ser objectivo na procura dos erros cometidos e da falta de eficácia que não permitiram à equipa portuguesa vencer um jogo que esteve nas suas mãos. E a diferença esteve na ineficácia táctica mais do que em erros técnicos directos. E é bom lembrar que para chegar ao Mundial de 2023 não chegam vitórias morais, são precisas vitórias reais e os jogos contra a Geórgia, Roménia, Espanha, Holanda e Rússia estão à distância de dois meses. Com o objectivo na vitória! Porque queremos estar presentes na festa mundial do Rugby!

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