Há 50 anos o MFA fez a Revolução do 25 de Abril que abriu a Portugal os caminhos da Liberdade e da Democracia em que hoje vivemos.
A Selecção Nacional tinha um jogo internacional marcado contra a Checoslováquia para o dia 27 de Abril de 1974 e o Seleccionador Nacional, Pedro Lynce, tinha-me convocado para o lugar de médio-de-formação — ainda tenho a camisola nº 9, que nunca utilizei, guardada, espero, na gaveta.
Com a Revolução do 25 de Abril o aeroporto, bem como o espaço aéreo, foram encerrados e a nossa viagem foi anulada.
Portanto, com a melhor prenda de anos — nasci às 4 da manhã de 25 de Abril de 1947 — que tive até então, o fecho do aeroporto foi a única coisa desagradável — antes de ter tido a certeza que iria haver uma formidável mudança — porque não permitiria a viagem para Praga. Jogo internacional perdido mas com a vantagem, permitindo-me juntar às formidáveis multidões que apoiavam nas ruas o MFA, de presenciar situações decisivas da Revolução como, por exemplo, Rádio Clube Português, Carmo e a libertação dos presos políticos de Caxias — só de camisa e com o frio da noite terminou em gripe… — num conjunto de momentos inesquecíveis que a memória guarda e guardará.
Para juntar às recordações desses dias cá guardo a camisola não utilizada e que tem um número que resultou do facto de, no CDUL, por ser o capitão e por falta de jogadores mais capazes para o lugar, ter tido de jogar no lugar de formação. E esse não-jogo acabou por ser a minha última convocatória para jogos internacionais que só voltaram em 1981.
E pena verdadeira só tenho deste facto: o de os responsáveis federativos se terem mostrado incapazes da organização necessária para garantir a continuidade da participação internacional. Porque, de não ter jogado em Praga, não tenho pena nenhuma. A impossibilidade valeu a pena e garantiu-nos a Liberdade e a Democracia, numa mudança inesquecível para os que, como eu, tiveram a oportunidade de viver aqueles tempos.