quinta-feira, 4 de abril de 2024

QUE RAIO DE IDEIA!…


E se a decisão da FPRugby de realizar um mesmo jogo a contar para duas competições distintas — Campeonato da Divisão de Honra e Supertaça — fosse considerada como vanguardista e aberta ao futuro, os jogos Benfica-Sporting de ontem (2 de Abril) e de sábado (6 de Abril) , pertencentes à disputa da Taça de Portugal e da Liga, poderiam ser os dois realizados num dos dias e em campo neutro. Até havia a boa desculpa da poupança de jogadores para um Europeu que aí vem. Mas mesmo com essa intenção, o que aconteceria? Cairia o Carmo e a Trindade a que se juntaria, muito provávelmente, o Terreiro do Paço. 

Considerar, como decidiu a Federação Portuguesa de Rugby, que duas competições com regulamentos competitivos distintos e em que o resultado se entende de formas diferentes  — se num campeonato o resultado de cada jogo se relaciona com todas as outras equipas que o disputam, numa Taça, realizada por norma no regime de eliminatórias, duplas ou singulares, o resultado só diz directamente respeito às duas equipas em jogo — e que pode ser resolvido num mesmo jogo, representa uma clara violação dos valores que caracterizam o Desporto para além de uma demonstração de falta de respeito pelos atletas. Pela simples razão que um e outro jogo se preparam com diferentes abordagens estratégicas que se traduzirão em diferentes tácticas conceptuais. E é bom de ver que as duas equipas podem ter propósitos diferentes traduzidos em vencer a Taça ou consolidar o campeonato… O que pode pressupôr atitudes diferentes… e não basta dizer que “ambas, o que querem é ganhar”, porque o ganho numa competição não é igual ao da outra. E, manda o bom costume que não chega ser, é preciso parecer

Veja-se: o Rugby, caracterizando-se de forma muito diferente de outras modalidades, tem 5 formas de marcar pontos com 4 valores diferentes — ensaios (5), transformações (2), penalidades (3), ressaltos (3), ensaios de penalidade (7) — e ainda tem, no caso de campeonatos e não de eliminatórias, “pontos de bónus” ofensivos — que se conseguem pela relação diferencial de 3 entre ensaios marcados e sofridos — e defensivos que dependem, no caso da equipa derrotada, da relação inferior a 8 pontos entre pontos Marcados e Sofridos no resultado final. Ora estas características tornam impossível a equidade entre um jogo de Campeonato e de Taça. . No caso da Supertaça o objectivo é o de ganhar nem que seja pela diferença de um ponto — o que pode levar, pela evolução do resultado, a tácticas defensivas de limitar o uso da bola. No caso do Campeonato a vitória, como a derrota, podem ter mais interesses para além do superior número de pontos de jogo— o interesse de uma das equipas poderá estar na necessidade de conquistar, como vencedora ou como derrotada, 1 ponto de bónus, o que levará apenas a eventual derrotada à posição de segurança de limitação do uso da bola se o final estiver próximo e o resultado tiver uma diferença menor do que 8 pontos de jogo — na evidência de perspectivas e propósitos distintos e próprios a cada competição. Diferentes, portanto. Com a possibilidade de um — o do Campeonato — terminar no final dos 80 minutos regulamentares e o outro — Supertaça — prosseguir para um prolongamento e, eventualmente, para um desempate por pontapés. Com os mesmos jogadores e no mesmo campo… 

Com esta mistura de jogos de características e objectivos diferentes, colocam-se os jogadores — os elementos centrais  e fundamentais do jogo — numa situação de vulnerabilidade: pelo andamento do resultado do jogo, mesmo se disfarçado numa vitória final da Supertaça, podem ser levantadas especulativas suspeitas sobre a sua integridade porque a aparência de jogos de interesses exteriores ao jogo, pode resssaltar. E o respeito devido aos jogadores não permite que se criem, por negligência de princípios, situações que permitam ou levantem possíveis dúvidas, sequer suspeitas, sobre a integridade de quem participa no jogo. Isso é, simplesmente, inadmissível! E a maneira reconhecida para evitar suspeições é garantir organizações que o impeçam — por isso o Mundial de Rugby não mais será disputado em grupos com um número ímpar de equipas.

Princípios e Respeito que caraterizam o Desporto, nomeadamente na igualdade de propósitos entre adversários, não autorizam esta facilidade  — seja por que razões fôr e menos ainda por meras razões burocrático-administrativas — de realizar um mesmo jogo de diferentes componentes desportivas. Cada competição vale por si e não se mistura no mesmo espaço e tempo simultâneos. E a irresponsabilidade negligente não é compatível com as exigências éticas do Desporto. 

Que raio de ideia esta! e se a moda pega…

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