Ao vencer no Estádio do Restelo a Agronomia por 19-18 com a conversão de uma penalidade no último momento do jogo, o Belenenses conquistou o título de Campeão Nacional de 2024. Parabéns!
O jogo da final foi fraco táctica e tecnicamente — um ensaio, uma transformação e onze penalidades fizeram o resultado — e se valeu foi-o especialmente para quem é adepto de uma das equipas porque qualquer uma delas poderia ter ganho — antes da última penalidade aos 80+7’, Agronomia vencia por 18-16. Enfim, uma fraca demonstração de qualquer das equipas de capacidade de adaptação ao que o jogo proporcionava e incapacidade de utilizar as suas próprias capacidades para impôr os ataques às defesas. E faltas não faltaram…
E o pior, numa final do mais importante campeonato do rugby português, foi — neste costume absurdo de entendimento de que o árbitro é o gestor do jogo… — a arbitragem. E o mais importante não terão sido os erros técnicos cometidos mas sim a ideia de gerir o jogo. Gestor do jogo, o árbitro? NÃO!!! Os gestores do jogo são os jogadores que têm o papel de lêr o que o jogo proporciona, de se adaptarem e tomarem as decisões eficazes aos propósitos que os regem, fazendo com que as suas propostas lhes proporcionem ganhar num dos dois sentidos possíveis: vitória por mais pontos; vitória pela evidente melhoria da equipa.
E durante todo o tempo se ouvia a fala do árbitro: “Larga!”,”Aí não!” “Sai daí!” a terminar com um “Obrigado” como se o jogo fosse sua pertença — não é!!! o jogo pertence a quem o joga, aos jogadores!
O jogo, hoje em dia e com a capacidade de organização das defesas, necessita — considera-se em 2 a 3 segundos o intervalo de tempo eficaz — de rapidez na disponibilidade de bola para que o desequilíbrio anteriormente conseguindo não seja recuperado pela defesa. O uso ilegal das mãos, dos corpos, dos pés nos reagrupamentos atrasa a saída da bola e prejudica o ataque. Ou seja se em vez de considerar de imediato a falta e assinalar por gesto e, aqui sim, por voz a vantagem que está a considerar, o árbitro utilizar os avisos vocais para que tudo continue com o atraso já conseguido está, pura e simplesmente, a “favorecer o infractor” e, portanto, a interferir na sequência do jogo e, muito provavelmente, no seu resultado. Porque como dizia o irlandês Sexton ao árbitro no último Mundial: “Eu não quero ouvir os seus avisos, eu quero é a penalidade porque quero ganhar 40 metros!”
O árbitro não tem qualquer responsabilidade por marcar demasiadas penalidades se os jogadores são demasiados faltosos e obriguem a muitas paragens de jogo — essa responsabilidade é dos jogadores e dos seus treinadores. E se os abusos às Leis de Jogo são demasiados tem ainda a possibilidade de recorrer aos cartões para penalizar os abusadores…porque o papel do árbitro é garantir que o jogo é disputado equitativamente de acordo com as Leis do Jogo, penalisando quem o não faça.
O árbitro não deve falar? Deve! Fazendo, por exemplo, avisos como “Placagem!” — nem sempre todos os jogadores envolvidos numa formação espontânea percebem o seu início, evitando assim faltas involuntárias — ou “Vantagem!” a que juntarão o gesto de braço para que os espectadores também percebam o que se passa. E também fazem bem em falar para explicar o porquê da interrupção do jogo ou que tipo de falta acabaram de marcar. Ou para e em certas circunstâncias, dar indicações aos capitães sobre questões interpretativas do jogo. Falar portanto a propósito e não a despropósito como será o caso de fechar os olhos a faltas que já estão cometidas ou que irão ser cometidas mas que já prejudicaram a capacidade de decisão do portador da bola.
Acabem, por favor, com este pseudo-pedagogismo! Não falem, arbitrem e deixem o jogo construir-se por si e pelos jogadores que o interpretam. Porque se o não fizerem e para além de serem muito responsáveis pelo exagero do número de faltas com que os jogadores portugueses, mal habituados pela falta de custo, são penalizados nos jogos internacionais, serão ainda, voluntaria ou involuntariamente, construtores de resultados.
E o que se pede é simples: aplicação equitativa das Leis de Jogo para garantir que o jogo resulta das capacidades e eficácia das equipas em confronto. E se à necessidade de nada dizer para não interferir no processo do jogo se juntar uma atenção rigorosa aos foras-de-jogo que diminuem o espaço de manobra, os árbitros criarão, na área que lhes compete — a de garantir o cumprimento das Leis de Jogo — condições para a melhoria do jogo. Que é o que se pretende.