Falar sobre o Moita - era assim que lhe chamávamos - neste momento de homenagem à sua contribuição para o prestígio do nosso CDUL se é um momento que me honra é também, pela relação que tenho com ele, um momento de grande emoção. E não posso deixar-me levar por ela porque não quero que sejam as minhas lágrimas que marquem esta Homenagem a um Amigo e grande companheiro de equipa com quem partilhei grandes momentos de conquista para o nosso Rugby do CDUL.
O Moita foi sempre um exemplo de carácter e simpatia - o meu filho Raul, que, miúdo, assistia a jogos e treinos dizia-me há dois dias: “Lembro-me muito bem do Moita - o pai a chutar a bola para cima dele para ele depois correr e fintá-lo. Foi sempre muito simpático comigo.”
Conheci o Moita no Rugby do CDUL. O Estádio Universitário era a nossa casa. E tivemos sempre uma óptima relação desde logo porque tínhamos uma base desportiva e de valores comuns: ambos — embora ele tenha entrado no ano em que saí — tínhamos sido alunos do Colégio Militar. O companheirismo que nos marcava teve assim um início facilitado.
Internacional 18 vezes e com a particularidade de na sua 1ª internacionalização, em 1974, estarmos os dois em campo com a mesma camisola para, em 1985 e na sua última internacionalização, estarmos também ambos empenhados e eu ser o seleccionador/treinador nacional da altura. Um círculo comum de relações e cumplicidades com muitos anos de jogos a defender a mesma camisola e a procurar os melhores resultados. E como nos entendíamos bem.
Moita era um atleta de grande categoria — fisica, táctica e tecnicamente — e um marcador de ensaios terrível e acima do comum — bola entregue e o ensaio estava à vista — que muito contribuiu para as nossas vitórias em jogos e campeonatos.
Mas, como todos os campeões, é humilde e nunca se vangloria de ser um super-herói. Teve sempre um enorme respeito pelo colectivo - a equipa estava sempre em primeiro lugar - sabendo muito bem que, por melhor que se seja individualmente, estamos sempre dependentes do rendimento do colectivo. Como prova o facto de, depois de ter sido nomeado como o melhor marcador de ensaios do nosso CDUL e quando o Bernardo Marques Pinto se preparava para lhe entregar o prémio, dizer: “Metade desse prémio pertence ao Bessa — era ele que me passava a bola para eu marcar os ensaios.”
Sim, eu passava-lhe muitas bolas — assistências dir-se-ia hoje — mas limitava-me a fazer o meu trabalho — bola recebida de outro companheiro, manobra necessária para criar espaço e passe para que o Moita pudesse utilizar todos os seus enormes recursos e capacidades e, no mínimo, avançasse no terreno ou, no melhor, marcasse o procurado ensaio. O trabalho final era todo dele! Autêntico Campeão!!!
Moita é um bom carácter e sempre um amigo do seu amigo. Sempre que nos encontrámos o tempo que nos separava do último encontro a que vidas diferentes nos tinham obrigado, nunca contava. Era como se estivessemos sempre juntos e a memória, para nós, não tinha hiatos. Era a continuidade da amizade.
Que os que agora envergam a camisola CDUL Rugby tenham no Moita um modelo de referência, como jogador e como homem, contribuindo assim para que o CDUL o não esqueça nunca e para que o serem membros da equipa se possa traduzir numa boa aprendizagem de vida.
Viva o nosso CDUL Rugby que nos deu alma e coração para sermos melhores na nossa vida e deixo o meu voto maior: que Carlos Moita viva! Continuamos contigo, meu caro! SEMPRE!