domingo, 3 de janeiro de 2010

OS PROGRAMAS DOS CANDIDATOS

Li os programas dos dois candidatos à Presidência da Federação Portuguesa de Rugby. De um lado, Dídio de Aguiar, actual Presidente, com o lema Mais Rugby, Melhor Rugby. Do outro, Amado da Silva, presidente de Agronomia e candidato da oposição, com o lema RUGBY UM DESPORTO NACIONAL e um sub-lema Um Clube chamado Selecção: uma Selecção dos Clubes.

No que diz respeito aos conteúdos programáticos, estes lemas dão a conhecer, desde logo, diferenças substanciais. Quanto ao lema da primeira candidatura – Mais Rugby, Melhor Rugby – está implícito um objectivo facilmente mensurável e verificável pela análise de indicadores simples e acessíveis em prazo definido (contagem do número de novos clubes e praticantes, nível da competitividade interna e resultados internacionais). Já o lema do candidato da oposição – RUGBY UM DESPORTO NACIONAL – parecendo um conceito simpático a todos os que gostam de rugby e que gostariam de o ter mais próximo, não se traduz, na prática, em qualquer tipo de compromisso real. Ou seja, de um lado uma proposta que compromete; do outro, uma ilusão que nada garante ou controla.

Aliás – e não querendo cometer a injustiça de considerar que o sub-lema Um Clube chamado Selecção: Uma Selecção dos Clubes preconiza a introdução de quotas por clubes ou uma qualquer democracite de direito generalizado – não percebo o que significa este conceito. Nem o seu propósito. A responsabilidade das Selecções Nacionais é da Federação e dos seus órgãos executivos que devem criar as condições para garantir que serão os melhores jogadores a representá-la (e os melhores no sentido que lhe dá Bernardo Resende: “Uma equipa nem sempre é formada pelos melhores, mais capazes, mas sim pelos colaboradores certos.”). Por muito que a bancada entenda – ou julgue entender – uma selecção nacional não pode ser destinatária de decisões nas quais toda a gente tenha a pretensão de participar. Exige condições, conhecimentos, capacidades, organização, preparação, constância – excelência, numa palavra! Não percebo portanto, para além do apelo demagógico que parece representar enquanto slogan, o seu interesse programático.

Curiosamente também o programa de Dídio Aguiar refere a ambição de RUGBY EM TODO O PAÍS. Mas fá-lo na perspectiva adequada, integrando o conceito na Visão que estabelece enquanto “área de validação” de referência para os caminhos a percorrer. E aí surge mais um dado de controlo: cada acção realizada ou pretendida pode ser confrontada com o interesse ou vantagem visionária da extensão do rugby a todo o país. Que não é, aliás, uma mera questão de vontades – ou da sua imposição – como parece fazer crer o candidato da oposição. A criação de clubes com sustentabilidade não se compadece com voluntarismos – são necessárias pessoas: umas que o organizem, outras que permitam a criação de equipas, outras que o apoiem. E para isso é preciso vontade local e demografia suficiente.

O programa de Dídio de Aguiar tem uma enorme vantagem: assenta naquilo que conhecemos da prática da actual equipa federativa que, propondo-se desenvolver os pontos fortes, não escamoteia, afirmando-se apostada em emendar, a debilidade ou falhanço de algumas áreas – foi manifesta a incapacidade comunicacional (o que provoca o nosso desconhecimento de problemas, soluções, melhorias ou dificuldades). Convenhamos porém, que se podia ter sido melhor – pode sempre, não é? – a gestão que agora termina não foi nada má. Tem, objectivamente, resultados. Que se não foram exactamente a totalidade daqueles que eu gostaria de ver conseguidos, são, alguns deles, significativos (aumento de clubes, iniciação escolar, aumento de treinadores e árbitros, início de intervenções junto de bairros críticos ou carenciados, constância de patrocinadores, etc.). E se a crítica é sempre saudável porque sinal de participação activa, percebo mal muitas das críticas que – com recurso até a insinuações dispensáveis - assentam em visões parcelares ou de pensamento toldado (para referir linguagem do candidato da oposição) que relevam mais dos interesses do que do conjunto de valores que devem nortear a conduta de responsáveis da modalidade que se afirma de “gente bem-educada”.

Um conjunto de opiniões-críticas não faz um programa para um ciclo de quatro anos de gestão da modalidade. O programa proposto pelo candidato da oposição assemelha-se mais a um rol de críticas do que a uma proposta de acção – passem as frases de adesão corrente - para o governo da modalidade nos próximos anos. Aliás, a maioria dos pontos da lista final SÍNTESE DAS MEDIDAS PROPOSTAS nem sequer os vejo tratados e articulados na descrição programática. Ou seja: quase não existe correspondência entre as MEDIDAS PROPOSTAS e o suporte programático que as deveria materializar e incluir numa estratégia clara. Por muito que se escreva sobre a capacidade de fazer, não existe qualquer explicação do caminho a percorrer, ficando-se o programa da oposição por uma espécie de catálogo de boas-vontades voluntaristas. O que – tomando como boa a consideração do candidato da oposição de que a questão central é a da CREDIBILIDADE – parece significar que, ao invés de um compromisso concreto, se apela a uma aposta na crença subjectiva. Ou na eficácia do auto-convencimento. O que não é forma de convencer ou de garantir eficácia.

Sendo a Missão das federações desportivas com estatuto de Utilidade Pública, tal como desde sempre tenho defendido, a de criar condições para que as representações nacionais da modalidade em causa possam, de forma sustentável, competir ao nível internacional em plano de igualdade com as outras nações (o que exige uma organização e estruturação de todo o sistema federativo de grande qualidade e exigência), sou naturalmente favorável às propostas do programa de Dídio Aguiar. Pela consistência sistémica que as suas propostas apresentam e por um entendimento mais adequado ao desenvolvimento global do rugby contemporâneo. E se o rugby tem algo que o distingue de outras modalidades, a intransigência prometida de Dídio Aguiar na defesa dos valores que fazem do rugby um desporto diferente, é já, por si só, um valor. E uma mais-valia.

Declaração de interesse: sou membro da Comissão de Honra da candidatura à
Presidência da
Federação Portuguesa de Rugby de Dídio Aguiar.

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