“Na capacidade de responder às questões mais difíceis está
sempre a base do segredo que faz os campeões.”
Luís Freitas Lobo
Ao titular em A Bola a sua crónica do CDUL-Direito com a pergunta “Não sabem marcar ensaios?”, António Aguilar colocava o dedo numa crescente ferida do rugby português. Atacar mal, decidir pior está a transformar-se numa constante dos melhores jogadores portugueses.
Sábado, contra Oxford - uma equipa jovem, simpática (no jogar e no comportamento), pouco agressiva e muito rugby no querer aproveitar o bom tempo para correr e circular a bola, a equipa nacional mostrou os mesmos defeitos que lhe temos visto desde há algum tempo - perdendo assim uma boa oportunidade de treinar a expansão do seu jogo. De treinar efectivamente e preparar-se para os jogos que aí vêm.
A minha preocupação é esta: se a selecção nacional tem mostrado boas capacidades defensivas – foi a marca Mundial – ela tem-se mostrado incapaz de desenvolver jogo atacante colocando-se dependente dos erros da oposição. É o que temos vistos nos jogos anteriores, foi o que vimos neste. E para chegar à Nova Zelândia, os adversários directos subiram e jogam mais, não bastará defender bem. Será preciso saber utilizar eficazmente as bolas conquistadas. O que obriga a ler bem a colocação adversária e o movimento dos companheiros. E mudar coisas.
Desde a atitude – o combate é a marca do jogo – até às falhas de espírito colectivo – o jogo exige cumplicidade – passando pelas enormes deficiências tácticas – é preciso colocação, disponibilidade de movimento, bola viva, capacidade de decisão.
Desde a atitude – o combate é a marca do jogo – até às falhas de espírito colectivo – o jogo exige cumplicidade – passando pelas enormes deficiências tácticas – é preciso colocação, disponibilidade de movimento, bola viva, capacidade de decisão.
A marca das grandes equipas resulta da capacidade dos seus quinze jogadores verem o jogo da mesma maneira e ao mesmo tempo. Sentirem o mesmo, pensarem o mesmo, agirem de forma a conseguir um colectivo superior à soma das capacidades individuais de cada um. O rugby, sendo um jogo de equipa, trata da eficácia do colectivo. É preciso compreendê-lo e fazê-lo. Evitando as armadilhas de que há uns mais capazes que outros, com os três-quartos a comportarem-se como vedetas de bancada e os avançados descurando o seu trabalho elementar. O velho adágio mantém-se actual: os avançados ganham jogos, os três-quartos apenas dizem por quantos. O que significa que sem conquista efectiva, sem que os avançados conquistem, simultaneamente, bola e terreno, os três-quartos nada conseguem fazer.
Há uma interdependência permanente entre ambas as unidades: eu avanço e conquisto, tu usas e avanças, eu chego e continuo; ambos, avançando, apoiando e pressionando sempre. É disto que tratam os Princípios Fundamentais do Jogo e que todos os jogadores de rugby - mais ainda sendo internacionais - têm que saber aplicar. Como têm que saber adaptar-se às consequências tácticas das novas regras - não levando a bola ao chão para não dar vantagens à defesa; não formar com profundidade excessiva nas formações ordenadas quando a lei lhes dá já 15 metros de intervalo.
No jogo contra Oxford – a propósito: é neles que a cor do equipamento do CDUL tem origem – a selecção cometeu erros demasiados: lutou pouco, avançou quase nada, foi cada um consigo mesmo (por onde andou a unidade 6-7-8 num cada um apenas por si e nunca por todos?; que apoio às penetrações dos seus companheiros, que linhas de passe abriram ao portador da bola?) e permitiu-se matar a bola em idas ao solo sem justificação – o jogo exige manter a bola viva através quer da boa colocação do apoio para conquistar terreno e desequilibrar a defesa, quer do recurso aos gestos técnicos necessários (off-load, dar as costas/contacto). E mostrou-se convencida – na aplicação de um erro maior – que basta passar a bola para o lado para ultrapassar defesas. Não basta e não se joga assim. Mesmo que a bancada grite abre! abre! o bom senso manda ignorar o despropósito e continuar a jogar de acordo com as exigências estratégicas do jogo.
É um facto: o jogo foi fraco – a exigência mínima era a vitória - contra um adversário mais do que acessível - a falta de alguns não justifica as incapacidades do modelo – e a amostra não permite grandes optimismos. Espero que no próximo sábado, contra os England Students, seja outra a atitude. Começando pelo cumprimento dos PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO JOGO.