Perder por mais de quinze pontos de diferença no resultado significa, na classificação do ranking IRB, retirar, ao somatório até então obtido, uma vez e meia o número de pontos de ranking de uma derrota por diferença mais próxima. Perder por sete ou menos pontos permite, nesta Taça Europeia das Nações, conquistar um ponto de bónus na tabela classificativa.
A derrota portuguesa em Sochi, contra a Rússia, foi por diferença superior a quinze pontos e não conseguiu ponto de bónus. Tudo prejuízo dir-se-ia.
À entrada do jogo - primeiro quarto - dois ensaios consentidos; no segundo quarto uma recuperação de dez pontos que deixava no ar a visibilidade de uma vitória. Na volta do intervalo, à entrada do terceiro quarto, encaixe de três ensaios e tudo desbaratado. Depois e apesar de um ensaio no último quarto do jogo (a 14 minutos do final) também não houve a lucidez - ou a capacidade - para procurar um pontapé de ressalto ou impor uma penalidade para reduzir a diferença, reduzindo assim os pontos de ranking a perder. Ou seja: com dois inícios de jogo desgraçados, deitamos tudo a perder e fomos de reacção curta.
Curiosamente - maneira simpática de o referir - Portugal é, das seis equipas do Grupo 1A, aquela que conquistou - 1 apenas - menos pontos de bónus. O que, mais do que demonstração de dificuldade - é sempre muito difícil no nível internacional - para marcar quatro ensaios, significa incapacidade de reagir ao domínio do adversário, de vender cara cada derrota, de ser antes quebrar que torcer. Sabe-se: hoje os pontos de bónus são essenciais para definir classificações finais e têm que ser impedidos e conquistados. E a sua acumulação demonstra também o poder e o carácter de uma equipa.
Essencialmente a derrota portuguesa tem por base a diferença na concepção táctica da placagem e na aplicação do primeiro princípio fundamental do jogo: avançar. Placar não é agarrar, é derrubar, criando as condições que possibilitem a recuperação da bola. E para isso é preciso, também aqui, avançar. AVANÇAR SEMPRE! é o objectivo fundamental de uma equipa, de qualquer jogador. E aqui esteve o primeiro factor da derrota: os portuguesas placaram a receber; os russos placaram ofensivamente - e daqui uma diferença essencial na produção do jogo com consequências no uso da bola e na conquista da bola. Como se diz na gíria, Portugal jogou no "pé de trás" enquanto a Rússia se apoiou no "pé da frente". Uns recuando, outros avançando. Ou seja, uns recebiam bola ou adversário sob pressão, outros recebiam bola e adversário criando a pressão - o quarto princípio fundamental do jogo - que lhes permitia o ciclo virtuoso de encadear a continuidade do movimento - o terceiro princípio - criando, por sua vez, nova pressão e garantindo assim a continuação da vantagem táctica conseguida.
Para vencer a Rússia, Portugal precisaria de velocidade na circulação da bola, atacando a linha de vantagem, procurando intervalos e obrigando os russos a defenderem cada um por si. Recuando, perdeu-se a capacidade para utilizar a velocidade - e neste desporto colectivo de combate, recuar no primeiro embate estabelece uma progressão geométrica ao longo das linhas de ataque e defesa que, no final, diminuem as possibilidades de recuperação. Aliás esta questão de perceber que a velocidade é o elemento que permite impor o jogo - há defesa para tudo excepto para a velocidade, diz-se - mostra-se afastada do entendimento do jogo português: mesmo nas conquistas categóricas dos alinhamentos - e algumas houve - a bola só era passada para o formação quando o saltador punha os pés no chão, dando assim toda a vantagem de recomposição à defesa colectiva adversária. Porquê? Porque a enorme incapacidade de surpreender nas jogadas de circulação de bola? Porquê esta incapacidade de impor jogo, mesmo quando se consegue o domínio territorial?
São os russos muito mais fortes que os portugueses? Nem por isso; são, claro!, bem constituídos mas não foi por aí que a coisa se desfez. Os russos foram melhores em todos os sectores do jogo, foram mais disciplinados na táctica e estratégia que decidiram, entregaram-se mais, bateram-se melhor, apareceram mais vezes lançados para receber a bola, foram colectivamente mais coesos e... ganharam!
Falta agora a Espanha e exige-se a vitória. Construída com orgulho de vestir a camisola da selecção nacional e com a responsabilidade de representar a comunidade rugbística portuguesa.