As palavras de balneário ou da capitã devem ser restritas a quem é de cena.
Foto Sky Sports
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Valeu então para transformar este mau início num bom final, a final de domingo do Mundial Feminino entre a Inglaterra e o Canadá. Excelente jogo!
De um lado e do outro a predisposição para um combate de oitenta minutos numa luta de não virar a cara e procurar a vitória e o titulo. Venceu a Inglaterra (21-9) e com dois ensaios contra nenhum, não deixou qualquer margem para dúvidas sobre o seu merecimento.
O jogo foi bom e espectacular. Ambas as equipas fizeram uma boa apresentação do domínio dos Princípios Fundamentais do Jogo: em cada utilização, em cada tentativa de recuperação da bola, as diversas jogadoras cumpriam o essencial que carateriza o jogo, numa demonstração permanente de conhecimento táctico e capacidade técnica. É disto - o resto são lérias de quem não sabe para mais - que o jogo de rugby trata: reduzir a complexidade aparente a decisões eficazes por meio da aplicação dos Princípios Fundamentais. O que significa treino, muito treino, organização competitiva, conhecimento do jogo, preparação e inovação programadas, objectivos claros e sentimento colectivo de cada uma se disponibilizar pelas outras. Para que o conjunto de jogadoras possa encontrar-se como equipa num triângulo de propósitos definidos, perspectivas alinhadas e movimentos sincronizados.
A Inglaterra apresentou-se muito bem - com uma primeira linha de categoria invejável capaz de garantir o pé-da-frente, uma segunda-linha conquistadora e capaz de participar nas diversas fases do jogo, uma terceira-linha móvel e transportadora, uma parelha de médios de decisões acertadas e criadores de surpresa na exploração dos espaços, umas centros - excelente a Emily Scarratt como utilizadora e chutadora - de boa capacidade de circulação e ataque aos intervalos e um três-de-trás capaz de interpretar eficazmente, com adequado movimento pendular, o papel que o visionamento vídeo lhes indicou para impedir qualquer veleidade às atacantes canadianas. E estas capacidades que formam uma equipa de XV de qualidade, notaram-se durante todo o jogo: uma equipa preparada para jogar e ganhar uma final mundial. Num jogo que é uma boa lição sobre o desenvolvimento necessário para atingir níveis competitivos elevados.
O primeiro ensaio inglês foi um portento, um tratado de bem jogar: formação-ordenada no lado direito do campo e saída pela direita - também lado-fechado - a ultrapassar a Linha de Vantagem e a obrigar à intervenção e levar à fixação da terceira-linha canadiana; passagem rápida pelo chão, circulação de bola para a esquerda com perfuração central da segunda-linha Tamara Taylor a desequilibrar a linha defensiva e nova passagem rápida pelo chão com continuidade do movimento no mesmo sentido a alargar o perímetro de jogo de forma a criar os intervalos necessários às perfurações ofensivas. Na sequência dos passes, um excelente cruzamento na ponta da linha a avançar mais metros e retornando de novo para a zona central, novo ruck e bola a sair tão rápido que as defensoras canadianas, apanhadas em contra-pé, aumentaram a inutilidade da sua concentração numérica; bola de novo - segunda vez na mesma jogada - em Taylor para nova perfuração, agora com finta de passe de excelência e fixação perfeita da segunda defensora para entrega em tempo justo à asa Alphonsi que só teve que manobrar um 2x1 para entregar a bola para Danielle Waterman, a defesa, marcar - e ainda com a ponta Merchant para o que desse e viesse. Um excelente ensaio colectivo, com três amplas mudanças de sentido e todas as jogadoras empenhadas, a mostrar a beleza do rugby como jogo de equipa. E a demonstração do merecimento do título de Campeã Mundial.
O Canadá jogou bem mas e apesar da excelência da sua circulação de bola, do ataque aos intervalos e da muito boa coordenação defensiva, perdeu. Por natural falta de experiência.
Não pertencendo a nenhuma das "major" - onde o jogo e as suas tácticas se aprendem quase no berço - às canadianas faltou-lhes a experiência que só muitos jogos neste nível lhes podem dar. Exemplo disso foi o desgaste que a vivacidade das suas jogadoras, na vontade de atacar de qualquer lado, circulando a bola e procurando servir as suas "terríveis" finalizadoras, lhes provocou. Se mais experientes teriam jogado ao pé mais vezes, conquistando terreno e preparando novos ataques em posição territorialmente mais favorável, controlando o ritmo e impondo momentos fortes sobre fraquezas adversárias momentâneas. Ficou-lhes o lugar de finalistas - o que, diga-se, constitui uma verdadeira proeza - e o prémio de Melhor Jogadora do Ano para a sua finalizadora e chutadora - e autora do melhor ensaio do Mundial! - Magali Harvey.