terça-feira, 12 de agosto de 2014

O MUNDIAL FEMININO


A defesa francesa, Caroline Ladagnous. Foto IRB 
O Mundial feminino de XV que se está a disputar em França - "J'ai deux amours, le Rugby et Paris", é o slogan - tem sido muito interessante de seguir.
Jogos de bom nível e com meia-dúzia de equipas de grande valia e com algumas jogadoras a mostrarem pormenores técnicos ou tácticos a fazer inveja a muito bom jogador.
O jogo no chão parece, qualquer que seja a equipa, pertencer ao seu domínio técnico-táctico, mostrando preocupações sobre as necessidades do movimento avançar ou da libertação rápida da bola: se a bola está lenta, se não há já qualquer avanço, sabem muito bem recorrer ao pick and go para o reiniciar. E se a velocidade do jogo é mais lenta e o jogo ao pé não tem o comprimento do jogo masculino - aqui há a mesma diferença na relação feminino/masculino que existe nos outros desportos - o confronto não perde o carácter de combate pela bola e pelo terreno. E alguns dos movimentos de fixação/envolvimento - cadrage/débordement, como dizem os franceses - quer no um-contra-um na ponta da linha de três-quartos quer na zona central, mostram-nos a vantagem que a recuperação deste gesto técnico - quantas vezes esquecido e abandonado pelo embate - representa. Pode ser que, ao vê-las, os jogadores que pretendam singrar na modalidade se entusiasmem para lhes seguir as pisadas.
Até agora a equipa mais impressionante foi o XV da Irlanda que conseguiu uma inesperada mas justa vitória sobre as tetra-campeãs mundiais, as  Black Ferns da Nova Zelândia. A capacidade de luta - um fighting spirit tão valioso quanto o dos seus companheiros masculinos - traduzida numa capacidade defensiva de grande espírito de organização e confiança colectiva, colocaram problemas suficientes para que as neozelandesas não conseguissem impor o seu jogo. E se a esta capacidade de combate colectivo juntarmos algumas variações tácticas como o recurso a diferentes "aberturas" - a 10, a 12 ou a 15 - conforme ditavam as necessidades do jogo, vemos que estamos em presença de um rugby evoluído, pensado e melhor treinado. Um saber jogar a colocar no bom caminho as que, como dizem, querem chegar ao topo.
Em mais do que uma equipa também se pode perceber a preocupação de atacar "a zona da Dez", procurando, pelo ataque a essa zona tida por ponto fraco, criar os desequilíbrios que, obrigando a equipa adversária a readaptar-se defensivamente, permitem espaços exploráveis para o ataque. E não se pense que o "apoio" é palavra vã - existe uma preocupação absoluta de seguir a líder portadora da bola com grande disponibilidade para continuar o movimento. Curiosamente - descoberta que me surpreendeu - há neste "jogar" uma particularidade feminina, uma forma de ser solidária especial que transforma os seus movimentos, o seu combate ou os seus avanços em momentos de verdadeira emoção. Dentro e fora do campo.
A Inglaterra é também uma equipa forte e com capacidades tácticas suficientes para transformar o jogo das meias-finais com a Irlanda num excelente momento de rugby.  Para além do mais têm na sua centro, Emily Scarratt, a melhor marcadora já com 43 pontos. Por outro lado o Canadá que se qualificou - de facto e numericamente foram as canadianas que "eliminaram" as neozelandesas - ao empatar com a Inglaterra, embora parecendo a mais fraca das quatro finalistas não deixará de obrigar as francesas a demonstrarem todas as suas capacidades. 
A França, a jogar em casa e sempre com grande apoio e a única equipa em prova que não sofreu qualquer ensaio, mostra-se como uma das fortes candidatas ao título mundial. Com um bloco avançado muito forte - a Nº8 é fortíssima e formidável como transportadora, conquistando metros de terreno que permitem ás suas linhas atrasadas - muito móveis e com boa capacidade para procurar a "evasão" em vez do "embate" - atacar o espaço e conquistar terreno. Mas mostraram outras novidades: contra a Austrália e num alinhamento próximo da linha de ensaio utilizaram a "leve" primeiro-centro para captar o lançamento com maior velocidade do que o habitual - pelo menor peso a ser levantado - e com a ajuda ainda da "defesa" encadear um maul que só acabou no ensaio!  Eficazmente diferente e, muito provavelmente, com mais surpresas guardadas.
Os jogos das meias-finais da próxima quarta-feira - Irlanda-Inglaterra e França-Canadá - a serem jogados no parisiense Stade Jean Bouin, merecem ser vistos. O mesmo para o jogo das Black Ferns que, embora lutando apenas pelo quinto lugar, irão mostrar a excelência do seu jogo e a sua capacidade para marcar ensaios - são neste momento a equipa melhor marcadora com 20 ensaios em três jogos. O Livestream do site da IRB transmite-os em directo e serão um bom prelúdio para o Rugby Championship que começa no sábado. 

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