quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

UM FOSSO CADA VEZ MAIOR?

É possível medir o grau de competitividade de um campeonato de uma forma objectiva e comparável com outros campeonatos da mesma modalidade. 
Partindo do princípio que um campeonato altamente competitivo e de equilíbrio dominante terminaria como teria começado - todos os clubes com o mesmo número de pontos - e que um campeonato não competitivo teria um vencedor com o máximo número de pontos e um último classificado com nenhum ponto e com os restantes clubes com pontuação equitativamente distribuída entre uma e outra, é possível estabelecer um algoritmo - cujo autor prático é Vasco Coucello - que permite a atribuição de um valor que estabelece o nível da competição em causa. Valor esse que, quando comparado com outros analisados pelo mesmo método, nos permite também determinar o grau qualitativo da amostra em causa. Os valores atribuídos aos campeonatos significam, de acordo com as experiências contabilizadas, tão mais competitividade quanto mais se aproximem ou mesmo ultrapassem o valor 50.  
Para a análise do nível competitivo do Rugby português foi aplicado o algoritmo às pontuações - retirados os pontos de bónus - dos campeonatos da Divisão de Honra desde a época de 2005/2006 até à época passada recente. O resultado desta última época, como se pode ver no gráfico presente, foi comparado com os campeonatos de Espanha, França, Inglaterra e o popularmente designado como campeonato "celta" (PRO12).

Como se vê, o que se percepciona do baixo grau de competitividade da Divisão de Honra traduz-se numericamente na realidade. O campeonato é, competitivamente, muito fraco! Com um problema pior: tem vindo a baixar o seu nível, baixando praticamente para metade do índice desde 2012/13 até hoje - o que representa a natural consequência do baixo nível competitivo que, qual pescadinha-de-rabo-na-boca, tenderá a manter a embalagem negativa de degradação competitiva se nada for feito no sentido de o evitar.
Repare-se na diferença - de 12,4 para 36,5 - entre o principal campeonato português e o principal campeonato espanhol na última época. Campeonato português que, na sua melhor expressão de 2006/2007 (época antes do Campeonato do Mundo) e com o índice de 33,9, não consegue atingir o actual valor do índice espanhol... Ou seja: pela continuação deste andar o Rugby português verá aumentar o fosso para os seus adversários próximos. perdendo competitividade internacional e aumentando assim as dificuldades de acesso às principais provas internacionais, caindo no esquecimento internacional da Rugby Europe até à Rugby World.
Como curiosidade desta análise, para além da visível "enorme dificuldade de recuperar do esforço Mundial", pode verificar-se ser o TOP14 que apresenta o melhor índice competitivo dos campeonatos europeus analisados e comparados. O que, aliás, se mostra concordante com o facto da Rugby Vision, na sua análise do campeonato francês, atribuir uma vantagem de 8 pontos de jogo (a mundialmente mais elevada) ao factor casa - o que é, naturalmente, significado do equilíbrio competitivo que os números demonstram. Aos campeonatos das Ilhas Britânicas é apenas, pela mesma Rugby Vision, atribuída uma vantagem caseira de 5 pontos.
Sabendo-se da importância do grau de competitividade dos campeonatos para preparar e habituar os jogadores para os níveis mais elevados da competição internacional - objectivo principal da competição interna - como intensidade, ritmo, diminuição de espaços, precisão gestual ou leitura e tomada de decisão mais rápidas, dificilmente se deixará de relacionar estes valores com a queda de divisão que aconteceu ao rugby português - e a saída do Sevens World Series também não será alheia a esta falta de competitividade.
E o futuro - olhando para outro gráfico que se apresenta e que reflecte a situação da actual Divisão de Honra ao cabo de 7 jornadas - não parece mostrar-se capaz de inverter a tendência de melhoria do indíce de competitividade. Repare-se no número negativo apresentado pelos quatro últimos classificados em termos de diferença de pontos de jogo marcados e sofridos. Ou na incapacidade de conseguir pontos de bónus defensivos. Ou, ainda, o baixo número de ensaios marcados pelos 4 últimos classificados - média menor que 1 por jogo disputado. Deficiências que demonstram quer o baixo índice de habilidades técnicas quer da coesão colectiva de cada equipa.
(como nota à margem note-se o baixíssimo número de ensaios marcados pelo CDUL -16!- clube que forneceu o maior número de jogadores para os jogos internacionais da janela de Novembro)
Os dados existem e as preocupações também. A solução para garantir um índice de competitividade da principal prova interna também parece óbvia: diminuir o número de equipas que o disputam. Possibilitando duas maiores valias em simultâneo: uma melhor adaptação de jogadores às exigências do rendimento desportivo pelo óbvio aumento competitivo e, outra, possibilitando - pelo novo equilíbrio encontrado - um campeonato secundário também mais competitivo por um lado e, por outro, com maior capacidade de desenvolvimento técnico-táctico.

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