segunda-feira, 11 de setembro de 2017

NÃO PERDER, MOSTRAR QUALIDADES...MAS PERDER

Num campo que mais parecia a preparação para uma batalha da Guerra dos Tronos do que um espaço de competição desportiva, Portugal ficou em segundo lugar - que representa o 14º lugar mundial - no World Rugby U20 Trophy 2017. E o que parece uma proeza de vulto é, afinal e por irresponsabilidades, uma oportunidade perdida. Oportunidade de uma vida para a maioria dos jogadores que, por categoria etária, a não vão poder repetir.
Chovia a cântaros, havia lama e água por tudo quando eram lados de meia-dúzia de ilhotas de cor esverdeada e nada estava próprio para realizar uma final possível de ver por toda a parte que se quisesse aproximar de um computador e sintonizar o streaming da World Rugby - com tempo assim, de chuvada a potes, que raio de ideia terá tido a organização para realizar quatro jogos num mesmo terreno? Deixá-lo impraticável?! 
Foi o que aconteceu… e o jogo que se viu foi o de trinta jovens jogadores a tentarem dignificar um momento para o qual se tinham batido durante uma época. Mas de jogo, de rugby, quase nada. E o pior…
…o pior é que o jogo foi dado e bem por terminado - decisão do Director do Torneio a que o árbitro teve de dar cumprimento - face às péssimas condições que o terreno apresentava e que punham em causa a segurança física dos jogadores - já pensaram o que poderia acontecer a um jogador enfiado numa poça de lama e água sob o peso de uma molhada de companheiros e adversários? Já aconteceu e então não houve passagem pelo hospital… 
Jogo terminado antes do tempo - 27’ da 2ª parte com 14-3 favorável aos japoneses— sem se saber qual poderia ser o resultado final. E, assim, com o Japão qualificado para estar presente no Mundial Sub 20 do próximo ano e os portugueses a terem que percorrer de novo o mesmo caminho da qualificação. Não é justo, é devastador… mas é a vida! 
Os jogadores portugueses, seniores sub-20 anos, mostraram-se capazes e representam uma garantia de futuro - desde que haja as responsabilidades necessárias para executar a preparação adequada ao nível de rendimento que estes torneios implicam. Pode até dizer-se que quando se tratou do torneio europeu uma visão mais economicista se poderia justificar - pouco dinheiro, poucas ilusões, pouca preparação - uma vez que não era muito provável que a equipa portuguesa pudesse chegar a qualquer lado. Mas derrotaram a Holanda, a Roménia e a Espanha e, vencendo o torneio, qualificaram-se como representantes europeus para este Mundial B que apuraria o novo 12º contentor para o Mundial do próximo ano. Com esta provas dadas - provas evidentes de categoria - a porca deveria ter torcido o rabo. Por responsabilidade e respeito deveriam ter sido feitos os esforços necessários para garantir a preparação capaz que permitisse que Portugal pudesse disputar o acesso à prova mundial do próximo ano. No entanto nada de positivo foi feito e, na senda de outros desleixos, foi deitada fora mais uma oportunidade de afirmação internacional. 
Porque Portugal, mesmo assim e contando apenas com o esforço, atitude e competência dos seus jogadores e as capacidades e conhecimentos do seu treinador-principal, Luís Pissarra, e do seu adjunto, António Aguilar, mostrou que poderia ter ganho o torneio, qualificando-se para o Mundial do próximo ano! E dentro do campo todos se mostravam crentes - via-se no empenho que punham - na possibilidade de virar o resultado. Mas uma injustiça nunca vem só...
O campo estava impraticável e não era possível jogar um rugby que não dependesse do acidente. Mas mesmo assim os jogadores portugueses, para além de uma notável atitude lutadora - que aliás foi seu apanágio durante todo o torneio - mostraram capacidades técnicas apreciáveis. Foram esplêndidos nos alinhamentos (quem diria?), estiveram bem no ataque à linha defensiva faltando apenas o apoio - o que se consegue com tempo de treino e competição - em linhas de convergência para criar as rupturas que levam aos ensaios - mas com aquele terreno e sem os hábitos, como seriam possíveis? 
Onde as falhas mais se notaram foi no jogo-ao-pé e nas formações ordenadas. Jogo-ao-pé - pecha de sempre do rugby português - que encontrou sempre as mãos de um adversário quando - mais ainda nas condições existentes - deveria ter encontrado espaços livres que atrasassem a resposta adversária - os japoneses tiveram enormes dificuldades sempre que a pressão chegava em tempo. Formações ordenadas que, sufocantes, retiraram a possibilidade de lutar pela vitória - o ensaio que fez a diferença foi de penalidade sobre uma formação-ordenada... E assim aconteceu porque o bloco dos avançados portugueses não mostrou o domínio técnico suficiente para se opor neste tipo de combate. E a pergunta surge com a naturalidade que a sua resposta não atinge: porque não houve possibilidade de treino específico para este importante sector do jogo? Porque não foi acautelado, tratando-se de uma participação internacional deste elevado nível?
E se tivesse havido o cumprimento das responsabilidades para uma preparação adequada quem sabe qual o resultado desta final?
Estar colocado entre as vinte melhores equipas mundiais é estar inserido no Desporto de Alto Rendimento que tem regras próprias de organização, preparação e treino. E que não são as mesmas dos grupos de bons rapazes que usam os jogos para se divertirem e terminar, conjuntamente, a beber uma cervejas. O mundo Alto Rendimento é outro e tem outras exigências.

E uma de duas: ou se pretende estar na sua esfera, cumprindo as regras desportivas e organizacionais que permitem aspirar a resultados exigentes e de categoria internacional sem deixar escapar as oportunidades ou, escolhe-se outra forma de vida e não se pensa mais nisso! Acabando o faz-de-conta!
... ... ...
Tudo somado só um final: parabéns à selecção de Portugal Sub-20 e ao seu corpo técnico. Foram formidáveis - suplantaram de forma notável um desrespeito para terem agora que suplantar um outro - na demonstração de que há um futuro possível para o Rugby português. Desde que surja a mudança que o alinhe pelas exigências do Desporto de Alto Rendimento. 

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