terça-feira, 5 de setembro de 2017

EM EQUIPA QUE GANHA...

No mundo do Desporto há um hábito de recorrer a frases que, pretendendo definir uma regra de utilização permanente com sólidas bases de conhecimento científico mesmo se empírico mas que, no fundo, não passam de crenças ou mitos sem qualquer validade. Uma delas que se ouve a cada momento - e que justificam certezas da bancada - é a de que "em equipa que ganha não se mexe!". Frase que, não tendo na devida conta formas de vitória diferentes, características adversárias distintas ou as diferentes capacidades dos jogadores, se mostra como uma muleta para quem não sabe para mais. Como se para uma mesma estratégia só houvesse uma única e exclusiva táctica...
O treinador da equipa de Portugal Sub20, Luis Pissarra, ignorou o mito e, à equipa vencedora do Uruguai - seja por razões de poupança física, por adaptação ao tipo de adversário ou para colmatar deficiências detectadas - alterou, mexendo, 5 posições. Ou seja, 1/3 da equipa - e venceu Hong-Kong por 31-24 com três ensaios, um deles de penalidade
Obviamente que estas mudanças - tratando-se da prova de que se trata e que pode abrir a única porta de acesso ao Championship da categoria - não foram feitas, estou certo, por uma daquelas razões habituais aos espaços escolares de que todos devem jogar. No Desporto de Rendimento a regra é simples: jogam aqueles que dão as melhores garantias para constituirem a equipa mais forte e mais adequada aos objectivos do jogo que vão disputar.
Pela falta de preparação adequada, Pissarra tinha uma vantagem (se é que pode haver vantagem numa má preparação...): a coesão necessária à boa eficácia colectiva estava no grupo de 26 e não no grupo restrito de 15 - o que permitiu um maior "à vontade" nas alterações. 
Mas o facto é este: não cumprindo o mítico preceito, Pissarra apresentou uma equipa diferente que foi capaz de se impor a um adversário também diferente. "Horses for courses" - a cada um a sua corrida - usam os britânicos para justificar alterações ou mudanças no colectivo adequadas às necessidades. 
Correu tudo pelo melhor? Nem por isso. Algumas sim, outras não.
Num jogo de grande domínio das suas fases fundamentais - as melhoras na formação-ordenada foram evidentes como o demonstrou a conquista de um ensaio-de-penalidade - os jogadores portugueses cometeram o erro de contar com a omoleta feita sem que os ovos estivessem partidos, tornando assim uma vitória que devia ser clara - 18-3 aos 47' - num periclitante final com 25-24 aos 66'. O que resulta dos maus hábitos da fraca competição interna. Por um lado porque o nível competitivo do principal campeonato é muito baixo e, portanto, de intensidade pouco exigente o que dificulta o hábito de imposição de um mesmo ritmo e da máxima exploração das dificuldades adversárias e, por outro, estamos desabituados - salvo um ou outro jogo que não faz regra - das tentativas de recuperação de um resultado aparentemente perdido. E, sabe-se, à medida que o cansaço aumenta, o hábito impõe-se. E os jogadores portugueses acomodaram-se... e acabaram por deixar passar ao lado um necessário 4º ensaio que equilibraria o ponto de bónus concedido ao Uruguai.
Houve momentos interessantes e de boa qualidade no jogo mas em defesa foram cometidos erros por falta de cometimento ou de articulação confiante com companheiros - subir rápido e adaptar (o princípio da scramble defense) é uma necessidade cada vez maior nos jogos internacionais, levando a responsabilidade do deslizamento para a defesa de cobertura - um dos ensaios de Hong-Kong resultou de uma desarticulação entre os dois primeiros defensores da linha: nenhum subiu e ambos sairam a deslizar e, com os ombros trocados, viram o adversário passar pelo interior...
Quanto à arbitragem e para além de algumas ignorâncias (o árbitro do 1º jogo com o Uruguai era muito fraquinho...) reparei que a colocação dos árbitros nas paragens de jogo está definida - porque vi diversas repetições - para verificarem o fora-de-jogo dos defensores. O que seria bom se não impedissem o passe na linha. Como aconteceu mais do que uma vez, nomeadamente a Portugal que teve que atrasar ou adiantar o tempo para garantir o ataque eficaz à linha de vantagem.
Na próxima 4ª feira o adversário será Fiji em jogo que exigirá muito combate, apoio mútuo, concentração e cabeça fria. Por aquilo que se viu - e se conhece da sua cultura - os fijianos opõem-se mal no maul e, defensivamente, desarticulam, com a pressa da subida de um ou outro, a linha defensiva. Dois campos a explorar porque temos jogadores para isso, quer no bloco de avançados quer no excelente trio de meio-campo. E temos também características que permitem um bom uso de bolas recuperadas, quer no meio do campo quer através do três-de-trás para o que basta a confiança necessária ao correr dos riscos que um jogo desta natureza exige.
Bom jogo e avancem para a final!

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