terça-feira, 17 de julho de 2018

UM BRANQUEAMENTO DE VIOLAÇÕES DESPORTIVAS

Sobre os graves acontecimentos do passado 28 de Abril ocorridos no Campo da Tapada em jogo das meias-finais do principal Campeonato Nacional de Rugby, o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Rugby, decidiu assim:
“Pelo exposto, decide o Conselho de Justiça revogar a decisão recorrida, através da qual a Federação Portuguesa de Rugby aplicou à AEIS Agronomia [e ao GD Direito] uma falta de comparência não justificada, a sanção de desclassificação do CN1 e correspondente despromoção ao último escalão competitivo sénior.Nessa medida, mais decide que deve ser homologado o resultado que se verificava no momento em que o árbitro deu por terminado o jogo que opôs a AEIS Agronomia ao GD Direito, ocorrido no passado dia 28 de abril de 2018, com todos os efeitos daí decorrentes, nomeadamente a anulação da decisão de não realização da final do CN1, bem como da decisão administrativa de conceder o título de campeão nacional da época 2017-2018 ao clube que se apurou para disputar a referida final.”
Ou seja com esta decisão e objectivamente, o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Rugby branqueou os inadmissíveis actos de pancadaria generalizada ocorridos no jogo Agronomia-Direito. Como se nada se tivesse passado. Mas, tratando-se de agressões repetidas no início e final do jogo com estaladas, pontapés e murros entre diversos jogadores de ambas as equipas que - sendo agressões repetidas no início e final do jogo com estaladas, pontapés e murros entre diversos jogadores de ambas as equipas - não foram acções de somenos e representam uma demonstração de elevado nível antidesportivo, afastando o jogo da essência dos seus princípios e que, pelo contravapor à constante referência de especiais valores, apenas resultam como descrédito do Rugby de que dizemos gostar.
Destes factos graves e inadmissíveis no campo desportivo em geral e no do rugby em particular - pela história e valores da modalidade - resultam apenas os castigos individuais - um deles anulado numa visão distorcida dos factos - a interdição do campo de ambos os clubes por seis jogos pelas cenas, posteriores ao jogo, que se desenrolaram com agressões entre adeptos dos dois clubes - numa modalidade que, não tendo receitas*, não se vê qual o prejuízo entre jogar no Jamor em vez dos interditos Tapada ou Monsanto... - para além de multas pecuniárias. No entanto a demonstração pública de repúdio pela violação grosseira da ética ficou-se numa frase perdida - "comportamento esse por si só merecedor de pública censura" - pelo meio do douto acórdão...
À semelhança do escamoteamento do péssimo e inadequado comportamento tido na Ucrânia por jogadores e técnicos integrados na selecção nacional, espera-se que o tempo, também aqui, opere o esquecimento. E assim os responsáveis pela disciplina federativa, determinam o resultado ao tempo da interrupção - com uma penalidade assinalada e não jogada - como resultado final do jogo. Nada querendo saber das implicações éticas, doutamente, determinam o vencedor da meia-final e declaram a exigência da disputa da final. Ganham os prevaricadores, usam-se os cumpridores... mas o mundo move-se.
Como consequência final disciplinar, às duas cenas de pancadaria generalizada num mesmo jogo provocadas por jogadores de equipas representantes de dois dos mais importantes clubes portugueses da modalidade e á sua gravidade ético-desportiva e cívica, foi dito nada. 
Mas há outras e evidentes consequências provocadas pela douta decisão: a primeira e óbvia é que fica garantido a quem quiser que o resultado momentâneo se transforme em resultado final, que lhe bastará fomentar uma sessão generalizada de pancadaria: o árbitro é obrigado a terminar o jogo e o resultado está estabelecido...Outra consequência é a verificação de que os valores desportivos, o espírito desportivo, a ética desportiva podem sempre e facilmente ser substituídos por atitudes violadoras dos princípios que regem a actividade desportiva porque haverá sempre interpretações normativas conceptualmente desfasadas que limparão a conspurcação das manchas. E os regulamentos que enquadram a modalidade continuarão a ser compostos em secretárias afastadas do sistema e do conhecimento desportivo... Como se nada tivesse a ver com nada.
A gestão deste quadro pelos diversos órgãos federativos, começou mal e terminou pior. O Rugby português fica mal na fotografia, mostra-se doente e perde credibilidade, escurecendo a sua transparência e diminuindo a largura dos seus caminhos de futuro. Uma tristeza... e o Rugby português, se não souber, quanto antes, arrepiar caminho, não terá caminho.

*[E.T.- para além das receitas dos bares]

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores