terça-feira, 24 de julho de 2018

PÓQUER DE ASES


Mundiais de XV e de Sevens, mundiais femininos e masculinos, mundiais para as Black Ferns e para os All Blacks: o que se pode dizer do Rugby neozelandês de um país com menos de 5 milhões de habitantes que é campeão mundial nos dois sexos e nas duas variantes? Como é possível? Tem qualidades excepcionais para a prática da modalidade? São mais fortes e mais rápid@s do que o resto do mundo? 
Não parece... não parece que sejam diferentes. 
Não são diferentes e a sua diferença na modalidade faz-se pelo processo da formação e pelo método de treino. Ou seja, ensinam melhor, fazem melhor e adaptam-se melhor à intensidade, ao movimento e analisam melhor cada momento do jogo, antecipando as decisões. O melhor que se pode retirar daqui, destas capacidades de eficácia competitiva, é estudar os seus processos e métodos, copiando-os, adaptando-os e aplicando-os. Começam com rapazes e raparigas que jogam — na maior parte das vezes todos descalços não havendo assim, para além das vantagens no desenvolvimento dos equilíbrios, diferenças sociais visíveis — divertindo-se na evasão e garantindo a sequência essencial de corrida, recepção e passe. Com um rigor de excelência: a bola não pode cair. E aprendendo desde logo que o objectivo do jogo é a marcação de ensaios: usa-se a bola para marcar ensaios, recupera-se a bola para marcar ensaios.
Copie-se então!
O Mundial de Sevens foi um campeonato surprendente. O factor Jogos Olímpicos transformou o jogo e tornou-o num jogo de exigência técnica, táctica e física superiores. Se anteriormente o jogo jogava-se circulando a bola de um lado ao outro do campo na espera de um erro de colocação, o jogo hoje faz-se numa procura constante de ataque à linha defensiva, provocando desequilíbrios quer pelo ataque directo - com óbvio e espectacular aumento do “passe-em-carga”* — quer pela criação de superioridade numérica e abrindo espaços de penetração. O jogo ao pé tem também ganho uma dimensão táctica significativa com diagonais de passes ou “grubbers” de perseguição, por exemplo. Mas sempre em cima da linha de defesa... O que exige uma bastante maior capacidade de leitura e decisão tácticas — factores que, dada a velocidade do jogo, se tornam fulcrais no cada vez maior colectivismo de “jogar uns/umas pelos/as outros/as” a que obriga.
Houve jogos muito interessantes e equipas que se mostram cada vez mais capazes - muito interessante, para quem há meia-dúzia de anos não sabia sequer que o jogo de rugby existia, a capacidade inventiva e desordenada da equipa feminina brasileira a fazer lembrar a formação de rua dos seus futebolistas... mas sabiam muito bem ao que andavam. Tiveram duas vitórias, vencendo as sul-africanas...
Este campeonato apresentou a novidade de um novo esquema competitivo, desaparecendo as fases de grupo e estabelecendo eliminatórias para cada jogo, começando por uma pré-eliminatória entre as 16 equipas que, retirando o organizador USA, não se qualificaram nos sete primeiros lugares da Rugby World Series de 2018. Assim, para além de se admitir 24 equipas para três dias de competição, não havia hipóteses de tacticismos e cada equipa tinha, para continuar a avançar na prova, de se apresentar no seu melhor e vencer cada um dos jogos, aumentando a competitividade global do campeonato. Outra novidade, o facto de o tempo da final se manter em 7 minutos e não nos tradicionais 10 minutos. 
Estas novas soluções podem servir como boa demonstração junto do Comité Olímpico Internacional para aumentar o número de países concorrentes aos Jogos Olímpicos, pese embora as dificuldades pelo paralelismo numérico com outras modalidades colectivas mas com a enorme vantagem de ser uma prova disputada em apenas em três dias. A fórmula utilizada tem ainda a vantagem de permanente ocupação do campo com competição, evitando intervalos de inactividade que foram o aspecto negativo nos Jogos do Rio 2016.
Os Mundiais foram excelentes com um elevado nível competitivo e mostraram a abertura de caminhos muito interessantes para o futuro da variante com momentos emocionantes e muitos resultados que poderiam variar de um momento para o outro. Cativante.
Ao rugby português que não esteve presente nem próximo de estar por erros evidentes de uma não estratégia direccional, resta estudar os vídeos para perceber as tendências. Lembrar a tempo que as próximas prova-objectivo são em 2022 e 2024. Seremos capazes de chegar lá?
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MUNDIAL FEMININO DE SEVENS 2018, classificação final

MUNDIAL MASCULINO DE SEVENS 2018, classificação final


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