sexta-feira, 12 de abril de 2019

QUIM PEREIRA COM MÉRITO DESPORTIVO RECONHECIDO

No CDUL, focados na conquista da bola num alinhamento
O Quim — Joaquim Pereira — vai ser condecorado com a Medalha de Mérito Desportivo pelo Primeiro-Ministro, António Costa. Nada mais merecido!

O Quim foi, no rugby português e numa longevidade ímpar, um “homem dos sete ofícios”: jogador internacional, formador de centenas de jogadores, jogador-treinador, treinador-jogador, treinador de selecções jovens, adjunto de selecções nacionais. A sua última selecção, das 17 que jogou, foi, comigo a seleccionador, contra a Espanha em 1984 — tinha então 46 anos! E jogou pelo CDUL até aos 50. Uma força da natureza.

A minha relação com o Quim é de profunda amizade construída na relação entre jogadores de uma mesma equipa e com uma mesma visão rugbística, entre o treinador que ele era e o jogador que eu fui e entre o treinador que sou e o jogador que ele foi. Ou seja: jogamos juntos, ele foi meu treinador e eu fui seu treinador num ciclo invejável.

O CDUL deve muito ao Quim, provavelmente e porque foi ele que, durante anos e alguns deles muito difíceis no pós-revolução de Abril, o manteve vivo, a permanência como clube rugbísticamente qualificado. A sua mala do carro foi, ao longo de anos, a secretaria do clube. Aí se guardavam todos os documentos como as fichas e licenças dos jogadores, os equipamentos e as bolas. Em dia de jogo era, depois de ter passado na lavandaria, definir a equipa, abrir a mala, retirar as licenças, preencher o boletim-de-jogo, distribuir os equipamentos, pegar nas bolas, fechar o carro e ir para o campo para jogar. Mas os trabalhos do Quim não acabavam aqui, se ao sábado eram seniores, ao domingo eram juniores. E os treinos, para uns e outros e numa sequência constante, eram quase todos os dias da semana...Uma vida dedicada ao Rugby.

Recordo sempre os seus telefonemas quando estava na tropa: “Podes vir jogar no domingo?”. E quantas vezes, de serviço, mas com o apoio do “sargento-de-dia” vinha de Tancos a Lisboa numa ida-e-volta com jogo pelo meio.

Como jogador, foi internacional a ponta, terceira-linha e pilar (a ponta foi uma maldade que lhe fizeram: como era grande e forte podia parar os “monstros” dos romenos...). No CDUL, onde participou na conquista de 11 campeonatos nacionais,  tinha a qualidade de obrigar os companheiros a darem o seu melhor nem que fosse com uma palmada disfarçada — pedagógica, dizia — numa qualquer molhada, de “agressão do adversário” — “Então já te deram e tu ficas-te?!” perguntava com um ar mal disfarçado de brincadeira. E nunca saiu do campo zangado fosse com quem fosse.
Belos tempos passados em treinos, em viagens, em jogos e recuperações à mesa e sempre com o Rugby como tema.

Nuns tempos em que ainda havia muito de “postes às costas”, o Quim Pereira foi, pelos processos e métodos utilizados, um modernizador do rugby português. Com ele houve um salto do “vamos lá
jogar” para uma organização relacionada com o Desporto de Rendimento que o Rugby português
haveria de percorrer.

Esta entrega da Medalha de Mérito Desportivo faz ao Quim Pereira aquilo para que foi instituída, honra o seu mérito!

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