quinta-feira, 13 de junho de 2019

NÃO HÁ RESULTADOS SEM EXPERIÊNCIA

Foto FPR
A selecção nacional feminina de sevens conseguiu, nos seis jogos disputados da 1.ª etapa do 2019 Women Sevens Trophy Series de Budapeste, quatro vitórias. Mas não ultrapassou o 7.º lugar... Ou seja, mesmo conseguindo uma percentagem de sucesso de 67% a classificação obtida dificilmente permitirá — mesmo com a 2.ª etapa a disputar em Lisboa — a subida ao Womens Grand Prix Series do próximo ano ou o desejado apuramento olímpico que obrigaria, para acesso à qualificação europeia, a garantir o primeiro ou segundo lugares no final deste Trophy Series.

E que lições pode o rugby português retirar deste resultado?

A equipa mostrou boas capacidades, jogando um sevens vertical, atacando a defesa para a concentrar ou utilizar os intervalos com a constante intenção de, no mínimo, ultrapassar a linha de vantagem, mantendo a posse da bola em passes curtos permitidos pela muito atempada convergência do apoio, numa demonstração de bom conhecimento das questões tácticas que se colocam ao jogo. E marcou, numa média superior a 4 por jogo, 25 ensaios! E a equipa, pelo que jogou, não merecia esta classificação de 7.º lugar. Então o que falhou?

Falhou o rugby português que não mostra preocupações efectivas de adaptação ao programa internacional, não dando às jogadoras as necessárias condições de adaptação e experiência.

Em Portugal jogam-se os sevens femininos em torneios de um só dia, o Trophy ou o GPS jogam-se em dois com a agravante de o jogo que acaba por definir o grupo de classificação final — quatro primeiros, de 5.º a 8.º, de 9.º a 12.º — ser o primeiro encontro do segundo dia e que é realizado de manhã. E têm as jogadoras portuguesas hábitos competitivos que lhes permitam encarar este modo de competição com natural à-vontade? Não, não têm! E não há resultados sem adaptação e ajuste às competições que se vão disputar. Tão pouco sem experiência.

Mas, para pioria da situação, há ainda o juntar à competição interna de Sevens uma competição de Tens, essa coisa que não é nem carne, nem peixe e que em nada ajuda ao desenvolvimento competitivo do rugby feminino português — as provas internacionais são de sete ou de quinze, não de dez... De facto, ao reduzir em 300m2 a área por jogadora, transforma-se este Tens num “sevens menos intenso” que, só por ignorância, pode ser dado como preparador do acesso ao “quinze” — porque lhe falta a essência da aproximação a duas unidades essenciais e que se mostram fulcrais no moderno jogo a quinze: a terceira-linha e o três-de-trás.

Portanto dois aspectos se mostram absolutamente de alteração necessária em todo o processo de acesso internacional do rugby feminino português: a adaptação da competição interna, aproximando-a do modelo internacional*, a que se deve juntar a participação em provas externas de dois dias; o acabar com os torneios de Tens pelo menos para as melhores equipas onde jogam as potenciais internacionais portuguesas.

A esta reorganização táctica deve juntar-se uma visão estratégica que permita a adequada preparação para possível acesso às competições marcantes do panorama internacional: campeonatos do mundo e Jogos Olímpicos. 

Assim, a escolha de jogadoras deve ser feita em tempo útil que possibilite a preparação também em tempo útil para os ciclos mundiais e olímpicos, garantindo um tempo disponível para permanência na equipa ajustado e evitando, tanto quanto possível, a transformação por mudanças do núcleo central das equipas em contra-ciclo.

A actual equipa, embora e naturalmente com falta de experiência, mostrou qualidades para uma boa participação internacional. Com o mundial daqui a 2 anos (2022) e o Jogos de Paris em 2024, bom seria que a generalidade dos responsáveis do rugby português mostrassem saber planear atempadamente e com uma eficaz visão de médio prazo o futuro desta selecção feminina.

[* nada impede a realização de torneios internos de dois dias se, por exemplo, apenas se considerar que a presença nos dois dias se destina às 2/3 equipas que constituem a base da selecção nacional enquanto que as restantes equipas seriam divididas por cada um dos dois dias, minorando-se assim a questão da carestia da presença.]

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores