Não será um jogo fácil para Portugal mas os seus jogadores — como aliás bem expressou Patrice Lagisquet — vão ter uma óptima oportunidade de se testarem e ficarem com melhor noção do patamar onde se encontra com vista ao cumprimento do objectivo da presença no Mundial de 2023.
O historial entre as duas equipas, que se defrontaram por 21 vezes com 15 derrotas, 2 empates e 4 vitórias, dá, como se pode ver na tabela superior, uma vantagem final de 23 pontos para os georgianos. Mas a situação, apesar de mostrar a óbvia diferença de patamares, tem uma vantagem.
Embora a Rugby World na sua página de análise dos prováveis resultados e suas implicações no ranking escreva que Portugal perderá pontos e poderá ser ultrapassado pela Rússia (se esta vencer o seu jogo contra a Roménia) e por Hong-Kong se a derrota for superior a 15 pontos de jogo, mas como não conheço nenhuma alteração há regra que estabelece que quando o intervalo entre pontos do ranking for superior a 10 pontos — como o é no caso e por o jogo ser em campo neutro — Portugal, se derrotado não perderá pontos e se vencedor ganhará, no mínimo, 2 pontos de ranking. O que permite, pelo menos, encarar o jogo com a tranquilidade de que nada de grave pode acontecer… não perderemos pontos nem posição.
A equipa portuguesa não vai, portanto, fazer o papel de "coitadinha" de tão pressionada pelo que pode perder mas sim a de uma digna competidora — basta olhar para a comparação dos Índices de Compactividade para se perceber que não existe nenhum desequilíbrio físico acentuado. Pode, isso sim, pesar a diferença de hábitos competitivos e aqui com vantagem para a Geórgia.
Veja-se que a diferença entre os dois blocos de avançados é de apenas 12 quilos — o que significará que a vantagem nas formações-ordenadas dependerá da qualidade técnica quer da postura corporal posicional, quer de tempo de impulso — supõe-se que, depois do "desastre" na Rússia, tenha havido a correcções necessárias e que a formação-ordenada portuguesa — agora numa 1ªLinha de 363 kilos — com um Geoffrey Moise, pilar do Pau e habituado ao TOP14, com um Mike Tadjer, também ele no TOP14, conhecedor e consolidados como poucos e ainda com o Diogo Hasse Ferreira que, quando entrou na Rússia, deixou a sua marca de qualidade — seja agora capaz de criar problemas aos seus adversários directos, garantindo a necessária plataforma atacante portuguesa.
Curiosamente a Geórgia apresenta-se com uma equipa mais velha do que aquela que jogou contra a Bélgica — são 3 a média de anos que os separam dos portugueses — e os dois médios e centros são uns experimentados jogadores de mais de 30 anos (os dois médios que nos espantaram no Mundial estão desta vez no banco). O que significa que estão a colocar algum cuidado neste encontro.
E como sabem que, como acentua Shaun Edwards, as equipas de alto nível raras vezes atacam do seu meio-terreno, será esta experiência que procuram para pôr em prática uma estratégia de conquista de território, obrigando os portugueses a recuar para o seu campo, encostando-os às cordas e procurando fazer o seu jogo — que é rápido, de bons passes e com apoio eficaz — sem a importunação dos contra-ataques portugueses. Provavelmente vai ser assim: muito jogo ao pé a criar, pela rápida subida dos perseguidores, problemas ao três-de-trás português que, avisado, terá em campo as oponentes necessárias e onde o médio-de-formação irá ter um papel decisivo. Lembremos que quem sobe assim algum espaço livre há-de deixar...e se o nosso jogo-ao-pé for utilizado com inteligência...quem sabe.
No fundo é isto: que a equipa portuguesa, independentemente do resultado, mostre em campo a sua consistência e capacidade evolutiva para dar crédito ao objectivo Mundial 2023. Bom jogo!