Este jogo teve vantagem de colocar os jogadores portugueses perante um nível de jogo do patamar internacional que é aquele que conta para quem se pretende apurar para o Mundial de 2023. E, feito o desafio, os jogadores e técnicos terão agora de analisar e perceber onde estão os pontos fracos que permitem as rupturas e de como os colmatar. Tendo a certeza de um facto: a competitividade interna está muito longe do nível de exigências da competitividade internacional onde pretendemos estar. O que significa que é necessário ampliar condições e tempos de trabalho comum para garantir a coesão colectiva quer em termos de entendimento do jogo quer em termos de mútua ajuda em todas as fases do processo de jogo.
E existem áreas que têm que ser especificamente trabalhadas em espaços e tempos próprios. Se na formação-ordenada o desacerto, embora existindo erros técnicos no posicionamento corporal que têm que ser corrigidos, pode dever-se, porque o peso era equilibrado, às alterações que se têm verificado — o cinco-da-frente inicial somava 80' de jogo de média por jogador num total de 400' possíveis — e que não possibilitam a coesão necessária da unidade.
Uso do jogo-ao-pé estrategicamente errado |
Mas o problema do conhecimento do jogo-ao-pé quer estratégico quer táctico continua pelas horas da morte — no primeiro segundo do jogo uma má decisão tomada de cábula sem análise da visão do campo — pontapé curto para ultrapassar a barreira defensiva próxima e ignorando o espaço profundo — permitiu a posse territorial dos georgianos até conseguirem o primeiro ensaio. E hoje em dia o mau jogo-ao-pé não perdoa. O que significa serem necessárias sessões teóricas e práticas para a compreensão e boa leitura das situações, fornecendo aos jogadores um conjunto de ferramentas que podem utilizar: qual é a minha distância normal de pontapé? de onde vem o pontapé adversário? que terrenos deixa livres? como estão a subir os adversários? quem fica lá atrás? tenho apoio ou os meus companheiro estão a recuar? E o pontapé-curto — que em muitos dos casos dá mais vantagem aos defensores do que aos atacantes — não é, muitas das vezes, a melhor das soluções. Não é fácil o domínio do processo do jogo-ao-pé e não será por acaso que diversas equipas têm já treinadores específicos para esta área.
Outras das dificuldades com que as selecções portuguesas se confrontam é na defesa contra o maul dinâmico — essa coisa que a nossa gíria de campo se designa, porque terrivelmente eficaz, por "fucking-rucking-maul". E aqui podemos ter a certeza que os nossos jogadores não ganharão os hábitos necessários na competição interna. Porque não existem capacidades para verdadeiros testes de força e de adaptação que possibilitam o treino exigível. O que significa que os internacionais portugueses necessitam de muitas sessões práticas para ganharem o tempo exacto de resposta e a sincronia de movimentos bem como a percepção de deslocamento do adversário. Coisa só possível entre eles, estando juntos. Hoje, como se vê em cada jogo — e Portugal já utilizou, e bem!, essa arma — o recurso ao "maul dinâmico" é uma constante nos alinhamentos próximos da área-de-ensaio. E equipa que não tenha uma organização defensiva eficaz estará sempre fragilizada e a entregar pontos ao adversário.Também os alinhamentos precisam de uma outra sincronização. E de uma melhor escolha, não de acordo com a cábula do manual, mas de acordo com o adversários e os seus pontos fortes. Jogar lá para trás porquê se não tivemos meia-hora de treino comum que o permita?
Mas a selecção nacional aproveitou bem a oportunidade e mostrou, nos primeiros três-quartos do jogo, que tem capacidades de progressão e que não é um completo disparate pensar-se na qualificação para o Mundial de 2023. Mas vai precisar de muitas horas de treinos conjuntos bem como de muitos jogos para poder atingir um patamar de fiabilidade e confiança que permita encarar optimisticamente cada competição. Para conseguirmos progredir é preciso que a comunidade rugbística portuguesa considere que é necessário unir esforços pela selecção principal do rugby português, garantindo que todas as acções servem os objectivos e interesses da selecção nacional, o nosso! e não o interesse de cada qual.
Faltando um jogo para terminar e independentemente de se tratar de uma disputa pelo 2º lugar da classificação geral do 6 Nações B, European Championship, o objectivo principal está garantido: no próximo ano estaremos a disputar este mesmo grupo!
A World Rugby continua a considerar que Portugal perdeu pontos de ranking (-0,18) nesta derrota com a Geórgia pelo simples facto de não ter considerado que o jogo se realizou em campo neutro não havendo a vantagem de 3 pontos de ranking para a equipa da casa. Considerando o Jean Bouin como campo neutro e não caseiro, a diferença de pontos de ranking é superior a 10 pontos com a consequente inexistência de pontos de ranking a ganhar ou perder pela vitória natural do considerado "mais forte".