terça-feira, 10 de março de 2020

UMA BOA PRESTAÇÃO A MOSTRAR O QUE FALTA

Apesar da derrota, Portugal conseguiu um resultado melhor — diferença de 15 pontos em vez dos previstos 23 — do que o historial das duas equipas determinaria. E podia ter sido bem melhor se... não houvesse o falhanço de dois pontapés de penalidade convertíveis ou a entrega de dois pontos por falta punível com ensaio de penalidade. Não falando já no abatimento psicológico que jogar com 14 provocou na equipa e que aumentou o número de falhas, com estes oito pontos fora do marcador teríamos até chegado ao ponto de bónus defensivo.

Este jogo teve vantagem de colocar os jogadores portugueses perante um nível de jogo do patamar internacional que é aquele que conta para quem se pretende apurar para o Mundial de 2023. E, feito o desafio, os jogadores e técnicos terão agora de analisar e perceber onde estão os pontos fracos que permitem as rupturas e de como os colmatar. Tendo a certeza de um facto: a competitividade interna está muito longe do nível de exigências da competitividade internacional onde pretendemos estar. O que significa que é necessário ampliar condições e tempos de trabalho comum para garantir a coesão colectiva quer em termos de entendimento do jogo quer em termos de mútua ajuda em todas as fases do processo de jogo.

E existem áreas que têm que ser especificamente trabalhadas em espaços e tempos próprios. Se na formação-ordenada o desacerto, embora existindo erros técnicos no posicionamento corporal que têm que ser corrigidos, pode dever-se, porque o peso era equilibrado, às alterações que se têm verificado — o cinco-da-frente inicial somava 80' de jogo de média por jogador num total de 400' possíveis — e que não possibilitam a coesão necessária da unidade.
Uso do jogo-ao-pé estrategicamente errado
Mas o problema do conhecimento do jogo-ao-pé quer estratégico quer táctico continua pelas horas da morte — no primeiro segundo do jogo uma má decisão tomada de cábula sem análise da visão do campo — pontapé curto para ultrapassar a barreira defensiva próxima e ignorando o espaço profundo — permitiu a posse territorial dos georgianos até conseguirem o primeiro ensaio. E hoje em dia o mau jogo-ao-pé não perdoa. O que significa serem necessárias sessões teóricas e práticas para a compreensão e boa leitura das situações, fornecendo aos jogadores um conjunto de ferramentas que podem utilizar: qual é a minha distância normal de pontapé? de onde vem o pontapé adversário? que terrenos deixa livres? como estão a subir os adversários? quem fica lá atrás? tenho apoio ou os meus companheiro estão a recuar? E o pontapé-curto — que em muitos dos casos dá mais vantagem aos defensores do que aos atacantes — não é, muitas das vezes, a melhor das soluções. Não é fácil o domínio do processo do jogo-ao-pé e não será por acaso que diversas equipas têm já treinadores específicos para esta área.  
Outras das dificuldades com que as selecções portuguesas se confrontam é na defesa contra o maul dinâmico — essa coisa que a nossa gíria de campo se designa, porque terrivelmente eficaz, por "fucking-rucking-maul". E aqui podemos ter a certeza que os nossos jogadores não ganharão os hábitos necessários na competição interna. Porque não existem capacidades para verdadeiros testes de força e de adaptação que possibilitam o treino exigível. O que significa que os internacionais portugueses necessitam de muitas sessões práticas para ganharem o tempo exacto de resposta e a sincronia de movimentos bem como a percepção de deslocamento do adversário. Coisa só possível entre eles, estando juntos. Hoje, como se vê em cada jogo — e Portugal já utilizou, e bem!, essa arma — o recurso ao "maul dinâmico" é uma constante nos alinhamentos próximos da área-de-ensaio. E equipa que não tenha uma organização defensiva eficaz estará sempre fragilizada e a entregar pontos ao adversário.

Também os alinhamentos precisam de uma outra sincronização. E de uma melhor escolha, não de acordo com a cábula do manual, mas de acordo com o adversários e os seus pontos fortes. Jogar lá para trás porquê se não tivemos meia-hora de treino comum que o permita?
Mas a selecção nacional aproveitou bem a oportunidade e mostrou, nos primeiros três-quartos do jogo, que tem capacidades de progressão e que não é um completo disparate pensar-se na qualificação para o Mundial de 2023. Mas vai precisar de muitas horas de treinos conjuntos bem como de muitos jogos para poder atingir um patamar de fiabilidade e confiança que permita encarar optimisticamente cada competição. Para conseguirmos progredir é preciso que a comunidade rugbística portuguesa considere que é necessário unir esforços pela selecção principal do rugby português, garantindo que todas as acções servem os objectivos e interesses da selecção nacional, o nosso! e não o interesse de cada qual.

Faltando um jogo para terminar e independentemente de se tratar de uma disputa pelo 2º lugar da classificação geral do 6 Nações B, European Championship, o objectivo principal está garantido: no próximo ano estaremos a disputar este mesmo grupo!

A World Rugby continua a considerar que Portugal perdeu pontos de ranking (-0,18) nesta derrota com a Geórgia pelo simples facto de não ter considerado que o jogo se realizou em campo neutro não havendo a vantagem de 3 pontos de ranking para a equipa da casa. Considerando o Jean Bouin como campo neutro e não caseiro, a diferença de pontos de ranking é superior a 10 pontos com a consequente inexistência de pontos de ranking a ganhar ou perder pela vitória natural do considerado "mais forte".

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