Quando comecei a jogar ensinaram-se que a bola deve ser transportada nas duas mãos. Assim era sempre fácil passá-la para um lado ou para o outro, dizia-se. Eram os tempos do “step-away” tão caro a esse notável homem do rugby que era Serafim Marques conhecido enquanto jornalista como Cordeiro do Vale.
Mudaram os tempos e se não mudaram os princípios que definem um passe — forma de fazer chegar a bola em tempo útil a um companheiro que se encontre em melhores condições de garantir a continuidade do movimento da equipa — mudaram-se os processos. E se o importante era — e é — fazer chegar a bola eficazmente a um companheiro para que ele possa continuar o movimento, pouco importará a forma ou o estilo como o passe é feito deste de que seja feito com a eficácia adaptada ao posicionamento, velocidade e distância do receptor. E alguém o terá, mesmo sem eventualmente o ter pensado ou estruturado o processo, compreendido e realizado. Provavemente os miúdos fijianos que, jogando com o coco mais à mão e sem demasiadas instruções inibidoras, se deliciavam no jogo de passes feitos de que maneira fossem feitos. E mas tarde abriram os olhos ao mundo com as suas demonstrações de continuidade.
Hoje em dia o offload — passe-em-carga — é uma necessidade e este gesto técnico deve ser uma ferramenta de utilização adquirida seja qual fôr a posição na equipa ocupada por um jogador. Ora este gesto tem a exigência de ser feito, muitas vezes, com apenas uma das mãos. Com uma evidente vantagem: a outra mão — em hand-off — permite manter o adversário defensor à distância realizando uma espécie de screen-pass — colocando o corpo entre o defensor e o receptor da bola.
O transporte da bola em duas mãos tem também uma vantagem — hoje cada vez mais aparente — que é a de mascarar a direcção em que a bola vai ser passada, iludindo as previsões do defensor e, eventualmente, dos seus companheiros. No entanto, o transporte de bola com uma só mão também não impede o seu passe para qualquer dos lados — basta pensar no passe-de-pulso do andebol e treiná-lo para realizar um passe para o lado da mão que transporta a bola como o vemos fazer a diversos jogadores.Portanto bola em uma mão ou em duas depende das circunstâncias. O que exige treino — desde tão cedo quanto possível — de qualquer das situações e sempre com a exigência de eficácia não deixando que as formas mais livres do passe permitam negligências ou erros. A regra é simples: passe-se como se quiser mas garanta-se que o receptor possa captar a bola sem dificuldades de maior — tendo em atenção que a vida é mais fácil para o receptor que terá que se adaptar às dificuldades do passador que, por sua vez, estará em luta directa, muitas vezes corpo-a-corpo e sem grande liberdade de movimentos.
As duas mãos têm, no entanto, um papel decisivo na recepção da bola por ser a melhor forma de garantir a sua captação e o seu controlo.
Resumindo: bola numa ou duas mãos garantindo a libertação do movimento para fazer chegar a bola com eficácia ao companheiro receptor e recepção com duas mãos para garantir o seu controlo, permitindo — de acordo com o princípio de que durante a trajectória da bola no ar, o adversário poder avançar no terreno sem preocupações — ir buscá-la tão longe do tronco quanto possível.Portanto e para que haja evolução e adequação às necessidades e velocidade do jogo os jogadores devem saber transportar e passar a bola com um ou duas mãos, por cima, por baixo, pela frente ou por trás porque quanto mais habilidosos forem na manipulação da bola, melhores serviços prestarão às suas equipas.