sexta-feira, 13 de maio de 2022

DIVISÃO DE HONRA: DESEQUILIBRADA E SEM INTENSIDADE

Terminou a fase de apuramento do Campeonato Nacional da Divisão de Honra que se integrou essencialmente no velho conceito de que “quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita”. Motivado por um erro estratégico inicial — o exagerado número de clubes para a dimensão portuguesa — e um erro de previsão — a qualidade da Super Cup europeia, o campeonato da Divisão de Honra não forneceu aos jogadores e equipas participantes o equilíbrio competitvo necessário quer ao interesse da sua disputa — só muito raros jogos se disputaram sem evidência de um previsível vencedor — quer com a criação de condições para o seu desenvolvimento competitivo.

De facto, recorrer a 12 clubes para compôr a divisão principal — aquela onde se encontra o maior número de jogadores que integrarão a Selecção Nacional — constitui um caminho directo para a criação de condições que vão reduzir o equilíbrio competitivo e diminuir a sua intensidade, afastando os jogadores dos hábitos necessários à competição internacional. A este erro inicial juntou-se um outro que se supunha poder minorar o baixo rendimento competitivo que se podia antever da disputa do campeonato nacional: a participação de uma franquia portuguesa na Super Cup Europeia. Acontece que esta previsão saiu furada porque o controlo da prova estava longe dos interesses portugueses e a prova, alinhada por princípios geográficos, foi de uma evidente mediocridade competitiva. E isto — e não um optimismo sobre o que se desconhecia e que não seria possível controlar — devia ter sido levado em conta na construção da principal competição portuguesa.


Quanto maior o valor menor a competitividade


E a realidade, como se mostra no gráfico anterior, é que o campeonato português da Divisão de Honra foi de uma competitividade confrangedora (2,48 — pior valor europeu de campeonatos principais) a que se junta a Super Cup (2,11) que está longe da competitividade que resulta da RE Championship (1,69). Ou seja, os jogadores portugueses viveram uma decisiva época — aquela que definiria o apuramento para a Rugby World Cup de 2023 — com hábitos competitivos muito longe das exigências da competição internacional onde lhes eram necessários resultados positivos (como exemplo, o valor do campeonato espanhol situa-se em 1,50). E o resultado viu-se…(talvez — e espera-se que não só na aparência — mitigado por um erro inacreditável — mais um — da Federação espanhola).



Este novo gráfico sobre a diferença de Pontos de Jogo e a soma de Pontos de Bónus, constitui uma clara demonstração do desequilíbrio da competição principal portuguesa onde a diferença, em pontos de jogo, dos resultados superiores a 15 pontos de diferença (valor a partir do qual a World Rugby considera o resultado como desequilibrado) atinge 54% da totalidade de resultados com o pormenor de 8 deles serem de diferença superior a 51 pontos de jogo.


Se olharmos para a relação do número de ensaios marcados e sofridos, poderemos apercebermo-nos do fosso que diferencia as equipas nas suas capacidades atacantes e defensivas. E o resultado não é brilhante quando vemos a diferença entre os marcados e sofridos — algumas equipas tiveram a maior parte dos jogos como passeios outras terão passado a maioria dos seus jogos encostadas às suas área-de-ensaio… em jogos que não possibilitavam o mínimo exigível de competição desportiva que, como se deverá saber, se rege pelo equilíbrio e, consequentemente, com a maior hipótese possível de inexistência de vencedores antecipados. 



E se o campeonato genericamente desequilibrado, pouco intenso e com muitos erros tácticos — as nossas formações-ordenadas parecem que realizam pactos-de-não-agressão (principalmente nas primeiras-linhas) — temos também uma gritante indisciplina — para já não falar da indisciplina protagonizada pelo clube AEIS Técnico — com um total de mais de 26 jogos em que uma das equipas ficou reduzida a 14 jogadores. A realização de inúmeras faltas que provocam — por desconhecimento das Leis de Jogo e desacerto entre árbitros, jogadores e treinadores — um exagerado número de penalidades, têm consequências graves — como, aliás, se viu — nos jogos internacionais…


Sendo possível obter os dados que se apresentaram, não é possível obter as estatísticas dos jogos — que deviam ser públicas (como é possível saber-se com facilidade as estatísticas dos jogos dos mais diversos campeonatos e nada se saber em Portugal?) — e assim não nos é permitido saber a relação que nos distancia do nível dos jogos internacionais nem, tão pouco, perceber os sectores que devem ser mais trabalhos ou onde iremos ter maiores dificuldades — quantas formações-ordenadas temos por jogo interno? e alinhamentos? e rucks? e penalidades ou passes? e placagens? E pontapés que não sejam a mera entrega de bola ao adversário?
Uma equipa que pretende ir ao campeonato do Mundo não pode ter uma organização competitiva que não seja equilibrada e que não publicite, semana-a-semana, o acesso aos elementos essenciais que permitem análises concretas da situação em que o jogo dos seus jogadores se encontra. E, quer para consulta quer para memória futura, os Boletins de Jogo devem também ser publicamente acessíveis (como acontece noutras federações, incluindo a federação europeia).


E agora? Agora, aprender com os erros cometidos, perceber o que significa a competição eo seu equilíbrio e quais são as características que permitem o seu desenvolvimento, estabelecendo uma estratégia, definindo objectivos e criando as acções  — como formações actualizadas e articuladas de acordo com os níveis competitivos para jogadores, treinadores, árbitros e dirigentes — que possam transformar o rugby português num espaço de qualidade internacional… elevando e qualificando o foco da pequena vitória caseira e colocando a missão num nível de exigência internacional. Porque uma visão sem organização adequada fica-se apenas pelo sonho.





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