Nestes primeiros jogos-teste de Julho apenas um dos jogos — o África do Sul-Gales — esteve próximo de enorme surpresa. Todos os outros jogos tiveram os vencedores esperados mas o Nova Zelândia-Irlanda foi um jogo notável que merece ser visto por quem gosta de Rugby. De notar também a pesada derrota da Roménia com a Itália — a previsão era de 5 ou 6 pontos de diferença — que, depois do susto que teve com Portugal, alterou a equipa mas, mais do que o poder italiano, foi o mau jogo da Roménia que criou o desastre da diferença de 32 pontos.
Apesar de não ter havido grandes surpresas houve coisas interessantes do ponto de vista táctico. Dois dos jogos tiveram — Japão-França e Nova Zelândia-Irlanda — como vencedores as equipas que menos posse de bola ou de domínio de terreno tiveram. A França teve 42% de posse de bola e 39% de domínio territorial, a Nova Zelândia teve também 42% de posse de bola e 40% de domínio territorial. E venceram…
Se o domínio territorial neste “jogo colectivo de combate organizado para a conquista do terreno com o propósito de marcar ensaios “ é de enorme importância para conseguir chegar à vitória como é que estas equipas ganharam os seus jogos quando o que parece é que foram os seus adversários que fizeram o jogo?
Não é fácil mas, como se viu, pode acontecer. Como? Com uma defesa de excelência, individual e colectiva e com a capacidade dos seus jogadores aproveitarem todas as oportunidades que o jogo ou os adversários lhes proporcionem. Ou seja, através da organização, capacidade de luta, placagens ofensivas e pressão suficiente para ultrapassar a linha-de-vantagem, a equipa não se mostrará vulnerável e raras vezes, deixará que os seus adversários quebrem a sua linha defensiva. E se souberem, cumprindo os princípios do apoio e da continuidade, utilizar as poucas bolas que conquistem ou lhes sejam entregues, a vitória pode, como foi, conseguida.
A França das 160 placagens realizadas só falhou 16 com uma percentagem de sucesso de 90%, conquistando 359 metros (36%) com a marcação de 5 ensaios e a Nova Zelândia das 197 realizadas apenas falhou 16, com, portanto, 92% de sucesso mas conseguindo 54% dos metros conquistados no jogo (409 metros) para marcar 6 ensaios. Não é fácil mas é interessante.
A África do Sul que venceu Gales no último minuto do jogo mas dominou durante todo o tempo a posse da bola com 57% e dominou territorialmente com 60% só fez 81 placagens com 91% de sucesso, obrigando Gales a 145 placagens com 25 falhadas numa taxa de sucesso de 83% e sofrendo ainda 4 cartões amarelos. E terá sido o modelo de jogo sul-africano, muito repetitivo e com base mais no confronto físico do que em qualquer tipo de criatividade que, apesar do domínio, permitiu que Gales estivesse sempre próximo da vitória.
É claro que com o domínio concedido ou imposto é também preciso a sorte suficiente para que haja más escolhas atacantes ou erros na circulação da bola pelos adversários.
Mas o essencial, não dominando o território, é que a defesa seja intransponível!