sexta-feira, 12 de maio de 2023

NEM REGULAR NEM COMPETITIVA (I)

Terminou a fase regular da Divisão de Honra — a nossa divisão de élite e onde jogam os jogadores portugueses que podem integrar a Selecção Nacional. Terminou mas não foi nem regular, nem competitiva.

Não foi regular porque sofreu alterações sem sentido e que não se coadunam com o conceito desportivo de regularidade — que exige que as equipas estejam, na disputa dos jogos que fazem, tão equitativamente próximas umas das outras quanto possível. E não estiveram porque, sem se perceber o porquê ou a necessidade, duas das equipas folgavam em cada jornada — colocando pela alteração do calendário as equipas em diferente situação competitiva, levando até que não fosse cumprida a norma definida para provas a duas voltas — compare-se a 10ª com a 1ª Jornada e verificar-se-à que não correspondem… e pense-se no que é uma prova com 10 equipas que tem, conforme mostram, aliás, as normas publicadas nos regulamentos, 18 jornadas, terminar com 20… E pior — como a Federação utiliza a dimensão temporal (nunca percebi porquê)  para o cumprimento dos castigos aplicados a jogadores, as folgas realizadas permitiam, se houvesse sobreposição temporal, que o cumprimento dos castigos pudesse não ter consequências — que, como situação incontrolável por depender de factores alietórios, pode proporcionar o eventual favorecimento de uns quantos e assim, desvirtuar o resultado final. E, portanto, podendo viciar a prova! O que só por si põe em causa a integridade da prova.

E também não foi competitiva!


Veja-se a diferença — nos quatro factores que definem a sequência do desempate na classificação geral— entre a equipa que ficou em 6º lugar — último lugar de acesso ao play-off — com a equipa que ficou classificada no 7º lugar. Deixando de fora as diferenças de pontos marcados/sofridos que são larguíssimas, o 6º classificado consegue o dobro dos valores no que se refere a pontos classificação, vitórias conseguidas e ensaios marcados, o que demonstra que não existe qualquer equilíbrio competitivo — o valor do Índice Competitivo obtido pelo algoritmo Noll-Scully de 2,18 é muito mau e, como veremos em próximo post, corresponde ao pior resultado europeu. 

E a diferença de pontos da última jornada entre duas equipas que procuravam resultados positivos para garantirem a manutenção — 53 pontos num caso e 41 num outro a que se juntam, em outros jogos que oponham equipas do sexteto da frente ao quarteto dos últimos lugares, as diferenças de 30 e 40 pontos — mostra bem que as distâncias de capacidade competitiva não são recuperáveis. No gráfico seguinte fica claro que existe uma  diferença — veja-se o valor das médias: mais do dobro das seis primeira equipas sobre as quatro restantes… — inconciliável. Ou seja: não é possível, para as pretensões internacionais que o nosso rugby apresenta, manter uma futura estrutura competitiva idêntica à actual. Porque quando o equilíbrio aparenta, significa apenas que a equipa mais forte se desfocou…


A falta de equilíbrio competitivo reduz o campeonato a uma prova sem interesse e onde os atletas não atingem os níveis de intensidade que obriguem a gestos técnicos e decisões tácticas de elevado rigor e, por outro lado,  o baixo nível e a probabilidade de resultados evidentes — as surpresas são quase nulas — reduz a atenção ao pequeno grupo dos directamente empenhados — como aliás se pode ver no desintereesse demonstrado na desatenção quase absoluta da comunicação social — sem que daí possa haver qualquer desenvolvimento ou aumento de patrocínios Aliás esse desinteresse é também provocado pela falta de publicitação de resultados em tempo útil — para se saber a composição dos resultados é, na maior parte dos casos, necessário esperar pelo Boletim Informativo que chega na 6ª feira seguinte à realização dos jogos.

O Rugby, como o Voleibol, têm uma característica particular: utilizam pontos-de-bónus. Com uma diferença: enquanto que no Voleibol a conquista de ponto-de-bónus é verificável pelo conhecimento do resultado absoluto, no Rugby um dos bónus depende do conhecimento do número de ensaios marcados. Ora o conhecimento do resultado absoluto não permite conhecer a consequência em termos de pontuação classificativa — e por esta falta de informação são frequentes os erros publicados nos meios que ainda o fazem. E seria muito fácil colocar os resultados após a realização de cada jogo: telemóvel, fotografia do ponto de descrição da construção do resultado, envio de mensagem para o centro de controlo com imediata publicação no site federativo…

Acabada a época regular é altura de pensar numa alteração organizativa da competição principal do rugby português. E para a necessária preparação interna dos jogadores para responder ao nível internacional é necessário que desde já e com vista à próxima época se estabeleçam as alterações que elevem o nível competitivo — é bom lembrar que na próxima época se começa a preparar o acesso ao Mundial de 2027.

(continua)

 

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