sábado, 13 de maio de 2023

NEM REGULAR NEM COMPETITIVA (II)

Estamos presentes no Mundial 2023. O que é bom embora o acesso tenha sido obtido com mais sorte do que mérito… mesmo o empate obtido contra os USA e que nos permitiu a classificação, não foi coisa extraordinária ou inesperada — a previsão com base na dimensão do ranking da World Rugby e realizada neste blogue (clicar aqui) prognosticava uma diferença de zero pontos, isto é, um empate entre as duas equipas. Assim, não devemos tapar os olhos com esta peneira. Correu bem, óptimo! Lá estaremos. 

Agora temos que olhar para o futuro para preparar — e a aposta da nova direcção o diz —  a qualificação para o Mundial de 2027 na Austrália. E para que esta vontade seja possível precisámos de  uma grande reflexão de que resultem alterações na nossa organização competitiva e envolvente. O que temos, apesar das aparências que o 16º lugar do ranking e a ida a França podem ampliar, não chega, é curto e desajustado. Ou mudámos, ou vemos as outras selecções — que pertencem a federações preocupadas com as adaptações aos tempos de hoje — a ultrapassarem-nos. O tempo para a nossa mudança, é agora!

Actualmente a nossa competição é de muito baixo nível — desequilibrada e técnica e tacticamente muito desarticulada — e, mantendo-se o actual modelo — não se vê chegar a um patamar superior que nos garanta as prestações competitivas necessárias à obtenção dos resultados pretendidos. Veja-se o gráfico!




No gráfico acima que equipara competições recorrendo ao algoritmo de Noll-Scully para determinar o Índice de Competitividade, o campeonato português, atingindo o valor de 2,18, apresenta o pior resultado do conjunto onde se integram os campeonatos de adversários directos — a Espanha e a Geórgia — da França (TOP14 que, com 1,00 — o valor do Equilíbrio Competitivo — é o campeonato europeu mais competitivo e PROD2) e Ilhas Britânicas (Premiership e URC). Mas pior, as competições da RE em que participa a selecção nacional têm baixos índices, ficando-se por um jogo-a-sério enquanto os outros têm vencedores antecipados  — veja-se que até a série de classificação em que participaram os Lusitanos têm um Índice Competitivo muito inferior ao outro grupo equivalente. Ou seja, os jogadores portugueses, embora conquistem pontos e possam, pelo desequilíbrio criado, desenvolver aparências de boas capacidades, não têm grandes possibilidades de adquirirem um nível equiparável ao que se designa por nível internacional.

Portanto a principal competição nacional não prepara minimamente os jogadores portugueses para as tarefas internacionais — mas não tem necessariamente que continuar assim: uma diminuição do número de equipas, equilibrando a capacidade competitiva, criará as condições para a melhoria da intensidade dos jogos. E se a isto juntarmos uma melhoria dos árbitros, aproximando as suas interpretações às da arbitragem internacional de primeiro nível, os nossos jogadores crescerão tecnica e tacticamente. E os treinadores serão obrigados a estudar mais e melhor.

Necessário é — não ficando preso ao sonho de que os portugueses que jogam em França  — e há uma substancial diferença de entendimento táctico entre os que tiveram a sua formação em Portugal e os jogadores formados em França — serão os salvadores da Pátria — elevar o nível da competição interna para que se possa inverter a constituição do XV de Portugal que deve ser formado por um núcleo de jogadores que se conheçam bem, que tenham a mesma aprendizagem e a que se juntarão dois ou três trunfos vindos de outras realidades. Criando assim um grupo coeso.

E isto terá de ser assim uma vez que não é possível jogar ao nível internacional sem uma equipa coesa e não é coesa uma equipa que joga com elementos de 11 clubes diferentes (clicar aqui) — que se conhecem mal, que treinam de forma diferente e que têm diferentes aproximações ao jogo. E uma selecção nacional não tem o tempo disponível para que os seus jogadores possam interligar-se de forma a que haja compreensão mútua na análise dos momentos decisivos do jogo.  

A coesão — essa mistura de experiências do mesmo tipo com tempo comum — é vital para o sucesso pelo impacto que produz ao possibilitar sustentabilidade temporal e criando a necessária confiança para expressão eficaz do talento de cada um. Mas não chega limitar-se ao interior da equipa: é preciso que a coesão se estenda á organização envolvente — tudo tem que estar alinhado pelos mesmos objectivos e princípios, formando uma visão integrada.

E se o nosso campeonato não possibilita grande competitividade, a organização envolvente também não ajuda. Os resultados chegam tarde e a más horas ao conhecimento público, o acesso a regulamentos e calendários é limitado aos conhecedores dos caminhos das pedras, a memória não é consultável de forma amigável e a informação não tem critério — para saber como deve ser basta consultar o site da federação espanhola…. 

Mas há pior! Não existe qualquer acesso a estatísticas, nem directas e elementares, nem às mais complexas. As estaísticas dos jogos são instrumentos  que ajudam os treinadores e os responsáveis das equipas a melhorar a sua prestação, no entanto em Portugal ninguém sabe o número de formações ordenadas, alinhamentos, penalidades que se realizam por jogo muito menos a estatísticas mais elaboradas como o número de bolas disponíveis, ultrapassagens da linha da vantagem, número de sequências e reagrupamentos, bem como do tempo de libertação da bola ou o tempo útil de cada jogo — tão pouco quem é o melhor marcador de ensaios ou de pontapés… Ora estes valores estatísticos são absolutamente necessários para sabermos onde nos posicionámos e quais as acções que devemos empreender para melhorar. Curiosamente qualquer de nós tem acesso aos valores estatísticos de outros campeonatos, até dos que se realizam do outro lado do mundo quase em simultâneo com os acontecimentos, mas por cá continuámos a ignorar a sua necessidade.

Para que, repete-se, Portugal possa consolidar a sua posição internacional de acordo com o 16º lugar  do ranking mundial que ocupa, necessitámos de uma nova estratégia que, baseada no rigor da análise desportiva-competitiva, possibilite a adaptação aos padrões vigentes das equipas de maior sucesso, apostando que a prata da casa que pode ser coesa se bem orientada sob bons princípios competitivos e alinhada por objectivos claros e reconhecendo que o campo é maior dos que as linhas que o limitam, conseguirá os pretendidos bons resultados.

Mudemos para progredir!


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