Que jogos! Doze jogos correspondentes à 3ª Jornada da Champions Cup realizados neste último fim‑de‑semana mostraram-nos, sentados no sofá e a olhar para a televisão, jogos de grande nível numa autêntica conciliação com o rugby de movimento. Porque em vez daquele insuportável jogo de colisão pela colisão, tivemos jogo de movimento, linhas de corrida adaptadas, passes variados — com alguns passes-em-carga (offloads) espectaculares — e um jogo-ao-pé mais incisivo com apenas recurso ao ping-pong por nítida incapacidade de leitura táctica provocada muitas vezes pela pressão suplementar criada pela intensidade do jogo que a impede e a que se juntam dificuldades de execução técnica. Porque, como sabemos, “depressa e bem, há pouco quem”.
Diga-se também e a propósito que alguns dos pontapés para dentro do campo quando o adversário está bem posicionado cobrindo adequadamente a profundidade, acontecem por mau pensamento táctico. Diz-se, “não entregues a bola ao adversário” levando portanto a que o portador da bola não chute para fora — não estamos aqui a levar em conta a má técnica de pontapear uma vez que os jogadores que ocupam a profundidade do campo devem dominar a técnica do pontapé. Mas não se deve chutar para fora se houver possibilidade de obrigar a defesa a correr para trás — mostrando o número das camisolas que trazem como pretendia o galês Barry Jones (notável abertura) sempre que chutava — ou a fazer a bola chegar a uma área livre que garanta, no mínimo, uma possibilidade de 50% de reconquista.
Quando não é assim, que fazer? Como o objectivo é conquistar terreno e qualquer das formas de pontapé entrega a bola ao adversário parece ser preferível chutar para fora uma vez que estabelece um alinhamento mais longe da linha-de-ensaio que se defende, permitindo defrontar o ataque com uma defesa organizada — ao contrário do pontapé para dentro do campo que possibilita um contra-ataque contra uma defesa desorganizada, mal distribuída no campo e, muitas vezes e por imposição das Leis, em inferioridade numérica interventiva,
Voltando ao espectáculo da Champions: movimento e mais movimento a proporcionar o encurtamento das linhas defensivas com base no respeito do comando pelo portador da bola e tendo a antecipação e a variedade de passes e linhas de corrida — largo, curto, salto, directo… acompanhados por um ou outro pontapé rasteiro ou um curto pontapé por cima — como factor diferenciador. E também é visível a preocupação de um tempo mínimo de disponibilização da bola em cada reagrupamento — procurando evitar a reorganização defensiva com a obrigação de tudo voltar ao início — que, com um tempo limite estipulado em 3 segundos, exige uma exclente técnica de colocação do corpo no transporte da bola e antes de qualquer colisão. Nestes jogos das Champions essa capacidade mostrou-se decisiva para garantir a continuidade dos movimentos e a exploração dos desequilíbrios e encurtamentos conseguidos.
Num festival de bom rugby mesmo se a televisão fecha demasiado o plano na zona da bola e não permite perceber a amplitude dos movimentos, deixo, para dar a ideia das características destes jogos, um gráfico com a média de alguns elementos proporcionados pelos 12 jogos da 3ª jornada Champions Cup.
Pena é que estes dados não possam ser utilizados em comparação com o que se passa em Porugal uma vez que, por cá, não existe qualquer sistema de estatísticas que nos proporcione uma visão objectiva da qualidade do nosso jogo (nem sequer o existente resultado do sistema aplicado nos jogos internacionais de Portugal nos é facultado…). E sem estatísticas do jogo, não há análise comparativa possível.