segunda-feira, 21 de junho de 2010

A FLUIDEZ DO SUL

Os franceses…são franceses. Com aquela naturalidade de quem tem um umbigo maior do que o mundo, andaram durante anos a dizer que “aquilo” do Super 14 não era rugby: falhava nos princípios do jogo por troca com o serviço de espectáculo (le combat, mon cher… bof!). No fundo, ar de patrono e desdém a falar – o rugby profundo contra as urbanidades modernistas…

As derrotas que a França ia tendo contra o Sul eram olimpicamente ignoradas na elevação à glória de uma ou outra vitória – algumas épicas, refira-se – do “nosso” rugby, reconhecido britanicamente, aliás, por french flair.
Depois do banho recebido da África do Sul na semana passada, algumas vozes começaram a virar o bico, outras a lançar avisos. Como Alain Penaud, antigo internacional francês, que escreveu no L’Equipe: “ Muito bem, o Super 14 é espectacular. Mas creio que deveríamos olhar esse campeonato de uma outra forma. É preciso que deixemos de o caricaturar “ para continuar dizendo que não há muitas equipas francesas capazes de encadear tempos de jogo e que “tende mesmo a afirmar que, pelo contrário, são as equipas do fim da tabela que constroem mais jogo porque sabem que não têm jogadores capazes de rivalizar na dimensão física. Para dinamizar bolas lentas é preciso um longo trabalho, de grande exigência e vigilância. É mais fácil ficar-se por um jogo que, a meu ver, está desactualizado.”

De facto há uma enorme discrepância imediatamente visível: no Sul os jogadores estão em plena corrida para receber o passe; no Sul, os jogadores entram no passe e atacam o ombro de dentro do defensor, fixando-o pelo menos; no Sul a fluidez do apoio é evidente, com os jogadores a adaptarem-se e a ajudarem-se mutuamente, nunca deixando o portador isolado e dando-lhe o benefício da liderança momentânea – sem qualquer tipo de reserva mental ou questionamento. De tudo isto resulta ainda a percepção de que é a plasticidade colectiva que se impõe, transformando as oportunidades ao basear todo o seu jogo numa consequência da aplicação dos Princípios Fundamentais do Jogo: a bola só se passa para o lado quando se avança. Daqui a diferença.

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores