Cito, do jornal A BOLA e sob o título Aquilo a que o Mundo não deu importância, a crónica de João Bonzinho enviada de Joanesburgo (terça-feira, 8 de Junho de 2010):
“Não foi um assalto, nem um qualquer outro crime e talvez por isso não tenha tido direito a headlines nas televisões ou principais títulos nos jornais por todo o mundo. A BOLA falou na história. Mas poucos mais o fizeram. Foi algo de impensável até há muito pouco tempo; algo de impressionante; algo de intensamente emocionante; algo de belo; algo de profundamente histórico. O râguebi foi ao Soweto onde nunca tinha entrado, nem em sonhos, uma bola oval.”
Linhas à frente transcreve ainda o bispo Desmond Tutu (Prémio Nobel da Paz em 1984): “A entrada do râguebi no Soweto foi o maior acontecimento desportivo e social da história deste país.”
Soweto, cidade negra com mais de 3 milhões de habitantes.
Nelson Mandela, o extraordinário humanista e notável Presidente que já havia percebido a importância do desporto para ajudar à concórdia e coesão multiracial do seu povo – Mundial de Rugby de 1995 quando transformou a equipa do apartheid numa (de novo Tutu) "equipa do arco-íris” – e que, como conta o descendente português, arquitecto de formação e antigo (agora é director-geral do Ministério das Obras Públicas da província de Gauteng) secretário-geral do National Sports Council, Gilberto Martins, lhe ensinou que “tens que pensar com a cabeça e não com o coração”, sorriu com certeza entre o primeiro apito da meia-final e o último apito da final do Super 14, ambos no Orlando Stadium do Soweto.
Que o rugby tenha sido elemento importante no caminho da construção da igualdade, mesmo a milhares de quilómetros, constitui uma emoção forte. Exigente. Mas muito boa.