Acabou o campeonato nacional de rugby. A destempo, claro. Com que vantagem? Mérito organizativo? Apenas um e esperado: a atribuição do título de campeão nacional. Que foi para o Direito pela oitava vez na sua história. Parabéns!
Mas, como se esperava, o campeonato foi fraco e o jogo da final – mesmo dando o desconto do conceito que a formata de que “uma final não se joga, ganha-se!” – mostrou a pobreza qualitativa de um campeonato que, como outras coisas, nasceu torto para nunca mais se endireitar.
Não é possível começar um campeonato sem a preparação adequada – e este foi assim começado. Não é possível continuar um campeonato quando os seus mais importantes, influentes e capazes jogadores estão fora ou treinam fora – e este foi assim continuado. Não é possível definir a mais importante competição interna por conceitos que são exteriores à competição – e este campeonato, foi-o.
E assim temos a atribuição de um título de campeão de um campeonato que nada contribuiu para a qualidade do desenvolvimento do rugby português.
Tendo por base um mito – a sequência contínua das jornadas – o campeonato assim disputado ainda introduziu um falso equilíbrio na janela internacional de Novembro. Equilibrando por baixo e deixando as marcas para que o baixo nível fosse a norma da disputa.
Há uma obrigação óbvia para os responsáveis da organização de um campeonato nacional: que ele seja disputado de forma o mais competitiva possível e que a sua estrutura, em simultâneo, permita o desenvolvimento competitivo da modalidade. Nada disto aconteceu por uma experiência sem sentido e talhada ao fracasso – porque, como qualquer treinador poderá explicar, uma equipa organiza-se em torno de um programa competitivo anual e do qual a sequência do mesmo tipo de prova não é um valor fundamental (veja-se o que se passa em campeonatos altamente profissionalizados e das mais diversas modalidades por esse mundo fora). Exista calendário definido da época seguinte no final de cada uma e qualquer treinador saberá preparar a sua equipa…desde que lhe seja dado o devido e necessário tempo (6 semanas pelo menos) de preparação.
E viu-se nas meias-finais (não percebo o porquê de duas mãos… uma para entreter e outra para decidir?) e final que foi notória a incapacidade física para impor o ritmo mais adequado a cada equipa. E assim, outro mito prevaleceu: as defesas é que ganham jogos. Claro que ganham! se houver ataque que marque pontos. Mas de ataque podemos esquecer.
Com um campeonato de oito equipas em que, pelo menos, para uma está destinado o papel de saco – evitando deste o início qualquer problema de descida para qualquer das outras – e onde o desequilíbrio competitivo é evidente, não há retórica sobre a escolha entre o desenvolvimento e a competição que o justifiquem. Repito: um campeonato nacional tem que contribuir para o desenvolvimento qualitativo da modalidade, aumentando a sua capacidade competitiva e a qualidade dos seus jogadores. Ou seja: um campeonato nacional do melhor nível tem o caminho da excelência como objectivo. E para que isso aconteça é necessário que exista equilíbrio entre as equipas que o disputam. Verdade desportiva tão conhecida que, para o cumprir, se inventou a hierarquia das divisões.
E mais uma vez se verificou o já conhecido: o campeonato de oito equipas não garante qualidade, não permite desenvolvimento e não melhora o rugby português. Seis equipas a duas ou três voltas, com ou sem final four (a habituação ao nível internacional recomenda o recurso) é a melhor solução para o momento actual. Para aproximar o nível interno tanto quanto possível do nível internacional – como é obrigação de uma organização desportiva interna de nível elevado. Solução tão óbvia, tão ao alcance, que dói a sua rejeição.
Coloque-se a questão simples que permitirá estabelecer o caminho: o que queremos para o futuro do rugby português? visão estratégica capaz de desenvolver e qualificar ou resposta menor para garantir os interesses que envolvem o status quo?
Da escolha resultará o futuro do rugby português.
Da escolha resultará o futuro do rugby português.