sábado, 28 de maio de 2011

40 ANOS DEPOIS

Há quarenta anos atrás, no princípio de Janeiro e jogando já no CDUL, fui convidado pelos meus amigos do CDUP – clube onde tinha jogado a aventura inicial – para partir com eles numa digressão a França e Itália. Saímos do Porto em carros – cinco? seis? – e arrancamos península fora. Primeira dormida por terras de Espanha. O meu irmão Luís ia com a filada de comprar umas botas de rugby – por cá não havia nada capaz – e foi trocar dinheiro (não havia euros…). No quarto, dou com ele aos gritos: estou rico! estou rico! O simpático trocador tinha feito mal as contas e tinha-lhe dado zeros a mais. De manhã com o rato a roer a consciência foi lá, para espanto geral, entregar-lhes o pesetame sobrante.

Horas depois de aperto de carro, chegámos a Narbonne onde pontificavam rugbisticamente os enormes irmãos Spanghero. O nosso adversário era o Cuxanaise, equipa das divisões regionais onde jogava o internacional francês Quillis que tinha sido, por razões ideológico-partidárias, afastado da selecção. Levamos um banho de jogo – não fazíamos ideia que o jogo podia ser tão rápido – e perdemos por 28-0.

Com passagem por Nice – e copos no então único bar de rugby da cidade com algumas cenas caricatas que me abstenho de contar mas que o Campilho se lembrará – chegámos a Milão. O nosso adversário era o congénere Centro Sportivo Universitário Milano. Recepção pelo presidente – um cromo que ou tinha duas esposas ou duas amantes, nunca percebemos bem: indistintamente aparecia com uma delas nas cerimónias oficiais.

No jogo – que ganhámos 35-20 (o meu irmão e eu a dividimos a maior parte dos pontos) – o Chico Marramaque partiu uma perna e ficou bem entregue: foi parar a um hospital com excelente treino – de dois em dois minutos chegava uma ambulância com um estropiado do sky…

O CUS tinha na equipa um finguelas malandreco – a jogar a ponta – cheio de truques que, sempre que podia, arreava à socapa. O árbitro marcou uma penalidade e eu preparava-me para chutar para fora – naquele tempo bola fora era sempre lançamento adversário – quando ouvi o Bé Costa Pereira: diz-me onde é que está o gajo – o Bé via mal e também era o tempo em que não havia artifícios para jogar e era a natureza que garantia a acuidade. Apontei-lhe o safado e ele, a sorrir: já vejo a mancha… chuta-me altinha para cima do gajo. O pontapé saiu bem e o Bé entrou-lhe melhor: o malandreco – diz-me a memória – acabou ali a tarde.

Na volta  encontramos neve. Bolas uns contra os outros e fosse pelo que fosse a janela do catita Volksporche do Pinto de Sousa esfrangalhou-se: vieram a rapar frio até casa.

No carro do Nuno Campilho vinha, para além dos sacos a apertar, com o meu irmão e o Bé – o que guiou mais que eu nem carta tinha. Na entrada catalã de Espanha os guardia, ao verem a juventude, resolveram agir como caso. E pior ficaram quando encontraram uma latinha: que é isto? és para las chicas, diz o Campilho em espanholês característico. Caldo entornado: drogas sofisticadas? ter-se-ão interrogado e mandaram tirar tudo do carro. Era só o que nos faltava, mala cheia de lama dos equipamentos, interior do carro com água no fundo, dissemos-lhes que não, que não tirávamos e sentámo-nos no passeio. Os civiles tiraram tudo de dentro do carro e espalharam na rua. Trabalhinho feito disseram buenas, puseram-se a andar com sorrisinho trocista e não tivemos outro remédio que não fosse arrumar o impossível.

De volta á estrada, contávamos os trocos todos para ver se dava – precisávamos ainda de dormida para uma noite – e foi com algum credo na boca que chegámos ao Porto.

A viagem, a equipa, o espírito foi notável. Inesquecível.

Hoje os que nela participaram estão juntos a almoçar em casa do Pinto de Sousa. Por razões familiares não estou presente. Com pena! Mas aqui fica um grande e amigo abraço e a demonstração que não vos esqueço: até sempre!

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