Dois jogos - Inglaterra-Gales e Nova Zelândia-Austrália - para, nas proximidades do Mundial, permitir perceber diferenças e possibilidades. Com o cuidado de que será diferente quando se defrontarem no Mundial, estes jogos deixam já perceber algumas tendências que distinguem o Norte do Sul.
Os princípios que expressaram pretender seguir mostram-se os mesmos de sempre: avançar sempre!, apoio, continuidade e pressão integrados pelos sub-princípios de comunicar, reagir, velocidade mas nem sempre, do lado Norte, com a variedade necessária. Ou seja: ninguém está interessado em fazer um jogo cujo princípio táctico essencial seja a conquista de terreno através do jogo ao pé para fora.
Gales, mesmo perdendo, mostrou-se uma equipa mais próxima do modelo austrozelandês no seu sentido colectivo e na forma como procurou utilizar a bola. Falta-lhe contudo a velocidade colectiva e o tempo de passe necessário para concentrar e fixar defesas - no entanto a preocupação do ataque ao intervalo e a procura de desequilibrar a oposição já se vê em muitos dos seus jogadores. Falta o apoio, esse aparecimento repentino de quem possa dar sequência ao transporte da bola no interior da defesa.
A Inglaterra continua a mesma de sempre. Num jogo próximo do que a melhor África do Sul expressa, usa os princípios mas perde-se num confronto directo que só será um arma se houver desistência física dos adversários. Desgasta, mói, mas pode não chegar se o único momento de criatividade para surpreender as defesa depender de Wilkinson.
De facto, ao Norte falta essencialmente criatividade e sobra demasiadas passagens pelo chão - o maul parece apenas servir para a prova de força e nunca para concentrar
defensores e permitir intervalos maiores.
No Sul o que continua a impressionar mais - para além da permanente tentativa de manter a bola viva e só recorrer ao chão como última segurança - é a capacidade de fixação em velocidade dos defensores com a consequente manutenção dos intervalos para garantir as penetrações. O recurso a passes longos - com a velocidade necessária para evitar intercepções - é usado para explorar este processo de encarrilhamento de defensores que o jogar em cima da defesa permite, abrindo passagens que, se fechadas, garantirão o espaço na extremidade lateral.
Em termos de defesa, de um lado ao outro do mundo, todos se mostram capazes e atingem, em alguns momentos, graus de eficiência espantosos, obrigando adversários a níveis superiores de uso da bola e a correr os riscos consequentes. É pois no ataque que se ganham e irão ganhar os jogos - surpreendendo a defesa e levando-a a cometer os erros que pesarão na procura da marcação dos pontos necessários à vitória.