... é boa companheira! Tive que contar os pauzinhos mais do que uma vez para ter a certeza que lia bem: no Boletim Informativo/Circular nº49 – 2010/2011 de 29/07/2011 da Federação Portuguesa de Rugby escreve-se que, para a época 2011/2012 do Rugby Feminino, a “1ª Divisão será realizada em Rugby XIII”. Em Rugby XIII?! É só ignorância, negligência, desleixo, falta de senso ou mera pesporrência de jeitinho pós-moderno?
Utilizar o termo Rugby XIII no âmbito do Rugby Union – ou Rugby XV - é um disparate arrogante e de enorme falta de respeito pela História de ambos os jogos.
Rugby XIII é sinónimo de Rugby League e traduz um código, embora de raíz inicialmente comum e ainda mostrada na bola oval, com um percurso distinto do Rugby Union. Distinção que deve ser respeitada e não abusivamente ignorada. Porque traduz uma cultura própria e não miscível de cada jogo, alicerçada num tempo que filtrou e estabeleceu princípios e valores distintos. Ou seja: não são a mesma coisa.
Em 1892, acusações de profissionalismo por compensações monetárias aos jogadores por perdas de salários criaram um grande mal estar nos clubes do Norte de Inglaterra que teve sequência no cisma de 1895 – traduzindo a oposição de interesses de classe dos trabalhadores (que perdiam dinheiro por jogar) e dos filhos-família (que jogavam quando queriam). Desta rotura, 22 clubes abandonaram a Rugby Football Union – fundada em 1871 – e formaram a Nothern Rugby Football Union. Em 1898 introduziram o profissionalismo e em 1901 foi alterado o nome para Nothern Rugby League – porque tinha um campeonato – que, com as alterações de regras introduzidas, passou o número de jogadores de quinze para treze. Foi assim criado um corpo independente dotado de formas e regras específicas com técnicas, tácticas e estratégias próprias.
A Rugby Union – que não tinha campeonato (daí a tradição dos jogos-teste e a inexistência de jogos particulares) – manteve-se fiel ao princípio do amadorismo inserindo, a abrir as suas Leis do Jogo, a Declaração de Amadorismo: O Rugby é um jogo de amadores. Ninguém está autorizado a solicitar ou a receber uma remuneração ou qualquer outra recompensa material para tomar parte no jogo.
E esta obrigação vigorou até Agosto de 1995 quando o Rugby Union se tornou uma modalidade aberta a profissionais.
Durante este século de imposição da Declaração de Amadorismo, a barreira entre os códigos era enorme e ferozmente defendida pelas instâncias do Rugby Union – não eram admitidas passagens de jogadores do XIII para o XV e havia uma sorte de banimento no inverso.
A partir de 95, retirado o bloqueio do profissionalismo, houve uma aproximação civilizada – já podiam falar-se - entre os dois códigos – inclusivé com jogos entre equipas de um e outro código que utilizavam as regras próprias a cada um em cada meio-tempo – mas nunca houve confusão de estatutos, de formas de jogar ou de regras.
XIII é XIII, XV é XV!
Ao código do Rugby Union pertencem variantes que recorrem à mesma dimensão do campo de XV como o Sevens ou o Tens. Adaptações da dimensão do campo são admissíveis nas idades mais jovens ou por razões de estádios de formação ou capacidade. Se é entendido ser necessário encontrar uma forma mais adaptada às especificidades do Rugby Feminino português, procure-se no espaço próprio, tradicional e característico do Rugby Union. Sem leviandades ou distrações.